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"Sem música a vida seria um erro".

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 21 de dez. de 2016
  • 6 min de leitura

"Sem música a vida seria um erro" (Friedrich Nietzsche)


Me falem um momento da vida de vocês em que uma música não se encaixaria. Tentem pensar se toda a sua trajetória não permite a criação de uma trilha sonora. O primeiro tombo, o futebol na rua, as rodas de amigos, a pipa no vento e todas as brincadeiras de criança. O primeiro amor, o primeiro beijo, o primeiro término. Talvez o primeiro dia no emprego novo, o primeiro carro, a primeira casa, o primeiro filho, o primeiro neto e até mesmo a primeira perda, o primeiro vazio e a primeira frustração com Deus, ou Odin, ou quem quer que esteja lá em cima.


Em tudo a música está presente. Em tudo é possível cantarolar um plano de fundo musical que fará com que aquele momento ganhe um pouco mais de vida ou um pouco mais de dramaticidade, se for o caso. Tem música para tudo e para tudo é preciso que haja uma música. Fazemos isso inconscientemente e muitas vezes deletamos essas escolhas de nossa memória, mas o fato é que um instante só passa a valer a partir do momento em que deixa de ser estático e ganha vida com o barulho ou com o silêncio que a música pode oferecer.


Fonte: www.ameninadossonhossecretos.blogspot.com


Eu me peguei fazendo uma retrospectiva da minha vida, encaixando as músicas naquelas situações que mereceram mais destaque. Músicas de amor, músicas de raiva, músicas de frustração e muitas, mas muitas músicas de tristeza. Infelizmente é na tristeza que o fundo musical se instala melhor, pois é na hora do coração apertado que cada um de nós abre mais a alma para o impulso sonoro, o dedilhado mais triste ou até mesmo o solo mais alto de guitarra.


Logo nos primeiros meses de namoro, mais de 13 anos atrás, a moça que já era a mulher da minha vida me deu um presente que tenho muita vergonha de não ter guardado até hoje. Acabou se perdendo nas mudanças e nos pacotes de coisas antigas que tínhamos por aqui e por ali. Era um cd que tinha uma relação de músicas especiais e ela me contava em uma cartinha o real motivo de gostar de cada uma, o sentido, o que a letra dizia, o que significava no contexto histórico ou qual bandeira era levantada ao ser interpretada. Nunca existiu um presente melhor e se eu pudesse voltar no tempo a principal correção que faria na minha vida seria arrumar uma forma de jamais deixar de ter esse cd e essa cartinha junto de mim, pois foi a primeira vez que percebi como a música podia significar um sentimento muito maior do que só aquele que era expresso em suas letras.


De lá para cá ilustrei fortemente tudo que vivi com música, música boa e música com significado, sem desrespeitar qualquer composição que já foi feita, mas sempre entendendo que se a música não te faz refletir sobre você ou algo ao seu redor, não serve para virar uma ilustração dessas. Não serve para ser imortalizada. Algumas delas eu vou compartilhar aqui e adianto que vale a pena deixar de ouvi-las somente como melodias conhecidas e que fizeram sucesso em sua época e tentem entendê-las como elas pedem para serem entendidas, como seus compositores um dia sonharam que um fã pudesse entender, sentir, trazer para perto.


Você não me ensinou a te esquecer – Caetano Veloso

Um dos primeiros filmes que vimos juntos no cinema foi Lisbela e o Prisioneiro, uma obra nacional que retratava uma história de amor improvável e que tinha a doçura e o humor necessários para dar veracidade às mais caricatas interpretações. A força por trás da história e a defesa da busca pelos sonhos e pelo amor verdadeiro foram perfeitamente interpretadas por Caetano e a expressão “você não me ensinou a te esquecer” é definitiva na construção de um relacionamento. Ninguém se prepara para a perda e muito menos para ter que viver de longe, após saber como era estar por perto. “Prometo, agora vou fazer por onde nunca mais perde-la”. “Você só me ensinou a te querer”. É muita coisa.



Só Hoje – Jota Quest

Seguindo o clichê de ter uma música para o casal, nos vimos com duas ótimas possibilidades e as duas acabaram se tornando bons símbolos para aquele começo. O tempo passou sem que jamais perdessem força e uma delas mostrava da forma mais direta possível o quanto Ela fazia sentido para mim e como era bacana viver um dia após o outro precisando somente que estivéssemos juntos, de qualquer forma, em qualquer momento.



She – Elvis Costello

Quem já assistiu “Um lugar chamado Notthing Hill”, filme da década de 90, estrelado por Julia Roberts e Hugh Grant, conseguirá entender o motivo de “Ela” ser tão especial e é importante estabelecer que a história do carinha apagado e sem graça, que vivia nas contracapas e teve a oportunidade de conhecer uma estrela, alguém que fosse surreal e que permitisse fazer a vida parecer um conto de fadas, foi inspirada na minha vida. Elvis Costelo, mais uma figura ímpar, mostrou sabedoria na forma de interpretar a música, pois dá o drama necessário e ainda permite a quem está ouvindo poder perceber que estamos falando de alguém especial, único. “the one I'll care for through the rough and ready years. Me I'll take her laughter and her tears and make them all my souvenirs.” S2



Creep – Radiohead (versão de Korn)

Sempre me achei meio estranho, deslocado, ranzinza e até mais velho por dentro do que por fora. Via em mim características diferentes dos jovens da minha idade e sempre me perguntava se ser esquisito assim era bom ou ruim. Radiohead me deu o texto perfeito para entender que esse sentimento de “que merda estou fazendo aqui” era o pensamento necessário para me empurrar para frente e, mais importante do que isso, para entender que o diferente não precisava ser pior e que as esquisitices de uns eram, na verdade, aquilo que os transformava em especiais. Confesso que o “i don’t belong here” da música ainda bate na alma de vez em quando, mas hoje tenho mais três “creeps” do meu lado e fica mais fácil de seguir o jogo.



Black – Pearl Jam

Sempre vejo na internet a frase “gênios transformam sua dor em música”, antes dessa obra prima. Curto demais Peral Jam e mais ainda após ter tido a chance de ver um show deles na última vinda ao Brasil e o que sempre me chamou a atenção foi a carga emocional do Sr. Vedder quanto interpreta Black. Dá para perceber que tem muita história por trás dessa canção e, quando ouvimos “I know someday you'll have a beautiful life, i know you'll be a star in somebody else's sky, but why? Why? why? Can't it be, can't it be mine?”, é a hora em que se percebe a dor da perda que ele quer passar na música.

Winds of Change – Scorpions

Essa é uma do cd que ganhei e não há como não se envolver com a música ao saber que ela fala de um período pós guerra-fria, com o desmembramento da União Soviética e a queda do Muro de Berlim. Até hoje é um hino dedicado aos tempos de paz e o “ventos da mudança” que a letra aponta jamais deixarão de ser contemporâneos.



Tempo perdido – Legião Urbana

Poucas músicas têm a capacidade de me fazer levantar a cabeça e entender que eu tenho um papel muito maior no mundo do que somente nascer, envelhecer e morrer. Sempre em frente, pois não temos tempo a perder. Entender que temos nosso próprio tempo é o que nos faz viver a vida de forma mais plena, com quem gostamos e quem escolhemos deixar ao nosso lado. Não tenho medo do escuro, mas prefiro as luzes acesa, essa é a verdade.



Nothing else matter - Metallica

Deixei para o final aquela que mais escuto até hoje. Essa música foi o primeiro rock que ouvi com mais atenção, pois sempre gostei do ritmo e cantarolava sem nem saber uma palavra de inglês. Nothing else matters me fez ir até a internet e buscar sua tradução e sabia que ela tinha algo diferente. Ali conheci uma das bandas mais badass de todos os tempos e era difícil para minha cabecinha juvenil entender como um grupo tão hardcore como o Metallica poderia criar algo assim tão delicado e verdadeiro. "Trust I seek and I find in you. Every day for us something new. Open mind for a different view... and nothing else matters. Never cared for what they do! Never cared for what they know!"



Dava para ficar eternamente lembrando e ilustrando e, enquanto escrevia sobre as músicas de cima, mais uma dezena de outras me vieram na cabeça. Crie sua trilha sonora, ponha música na sua vida, pois é muito chato ter que passar por tudo que passamos sem batermos os pés no chão, sem estalarmos os dedos, sem assobiar ou sem dar aquela batucada no volante. Feche o vidro do carro, aumente o volume e cante alto, forte, desafinado, do jeito que der. Rock, samba, pagode, sertanejo, rap, gospel ou o que gostar. Tudo tem lugar. Tudo vale a pena.


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