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Breaking Bad - O poder que transforma.

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 4 de nov. de 2016
  • 7 min de leitura

A série dessa semana é uma obra-prima, pois traz da forma mais crua possível o efeito inebriante que o poder tem no ser humano e mostra a capacidade que temos de transformar toda a nossa vida, abrindo mão de conceitos morais e comportamentais, com a finalidade de ter nosso nome cravado na história. Nos movemos em busca do reconhecimento e aqueles que vivem na mediocridade do anonimato aprenderam da pior forma possível com o Professor Walter White que dar um passo para cima do holofote pode nem sempre terminar com a glória que se esperava.


Já falamos sobre a tendência de algumas séries em desconstruir o clichê do herói das obras de antigamente. O protagonista ético, comprometido com o bem estar de todos e vigilante da moral e bons costumes está sendo gradativamente substituído pelo novo perfil de herói. Aquele sem nenhum heroísmo e com uma grande pitada de egocentrismo na busca pela conquista pessoal.


Fonte: www.central42.com.br


A história de Breaking Bad nos faz ponderar sobre o papel desempenhado pelos personagens comuns da vida real. Famílias "bem estruturadas" e que tratam suas mazelas da forma mais utópica possível, sempre adicionando à equação uma variável que não os leva a lugar algum: a inércia. A família do professor de química, Walter White (Bryan Cranston), vive na cidade americana de Albuquerque, Novo México e sua esposa Skyler White (Anna Gunn) e se filho Walter White Junior (RJ Mitte) vivem na mediocridade suburbana que estamos acostumados a ver nos cenários que os Estados Unidos costumam oferecer. Junior é vítima de uma deficiência física que o impede de se locomover sem o auxílio de muletas e Skyler é o retrato da esposa padrão, preocupada excessivamente com o filho e devotada (de certa forma) ao marido. Walter, um senhor de meia idade e que leciona em um colégio local, vive sufocado na mesmice de sua vida até que recebe uma notícia devastadora: um câncer de pulmão de terceiro estágio é descoberto e lhe dá somente mais alguns meses de vida. O efeito da notícia cai como uma montanha nas costas da família e todo um clima de piedade é criado ao redor do protagonista.


Não quero estragar os detalhes da série, mas o que vem a seguir é uma das maiores reviravoltas da história da televisão e podemos ver o pacato Walter White montar uma parceria improvável com o jovem drogado/traficante, Jesse Pinkman (Aaron Paul), em um esquema de produção e venda de metanfetamina que vai revolucionar a região. Com o conhecimento químico de Walter, ele produz um tipo quase puro da droga e com isso se torna o produtor preferido de alguns traficantes pés de chinelo. Com a nova atividade, Walter e Jesse começam a ganhar muito dinheiro e o protagonista entende que esse é o caminho de construir um legado financeiro para sua família, sabendo que irá deixá-los em breve.


Com o passar do tempo a ganância e sede de dinheiro e reconhecimento transforma o personagem principal em algo inesperado. Um alter-ego, chamado Heisenberg é criado para personificar o mito por trás da droga perfeita e em muito pouco tempo ele se vê envolvido com o Cartel local e é obrigado a produzir em larga escala, primeiramente para ganhar quantias obscenas de dinheiro e depois para conseguir manter sua vida e a de Jesse. Por muitas vezes, Walter se vê obrigado a cruzar alguns limites que jamais pensou para se garantir como o fornecedor da fantástica empresa Pollos Hermanos, comandada por Gustavo Fring (Giancarlo Esposito). O vilão, simplesmente espetacular, entra no seriado de forma sutil, política e não convencional, e de repente atropela a vida de todos como um rolo compressor. Sua saída da série é marcada por uma das cenas mais chocantes e inesperadas de toda a trama e é ali que percebemos que Walter deixou de ser um mocinho com tendências à vilania a já se mostra como Heisenberg precisa ser para ser a lenda que gostaria.


A trama se concentra na produção da droga, na sua interação com os bandidos e com os subterfúgios utilizados para se livrar das situações mais improváveis possíveis de se imaginar, mas é com os personagens secundários que percebemos as relações mais importantes da série. Com o passar do tempo e com o cerco fechando ao redor do traficante que assombra a região, sua esposa e filho se veem envolvidos na nova realidade de uma forma sem retorno e a relação com o cunhado, Hank Shrader (Dean Norris), policial do DEA/FBI responsável pela caçada à metanfetamina azul que inundou a fronteira é um ponto alto. Hank se aproxima a cada episódio da verdade e sua participação sai de inútil e sem expressão para simplesmente decisiva, inclusive no rumo para o qual a vida de Walter aponta no final da série.


Fonte: www.meliuz.com.br


Outros dois personagens espetaculares e que geraram, inclusive, um spin-off chamado Better Call Saul, são Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks) e Saul Goodman (Bob Odenkirk). Saul é um advogado totalmente pitoresco que tem o papel de ajudar na limpeza do dinheiro dos bandidos da série e sua participação deixa de ser coadjuvante em vários momentos para fazê-lo ser a única saída de Walter e Jesse em algumas situações. Mike, por sua vez, é o principal capanga de Fring e se vê envolvido em todos os problemas e soluções que o seriado propõe, sempre deixando uma marca diferenciada na suas participações. O personagen é extremamente peculiar, sereno e que irradia a eficiência que os bons gângsters sempre têm. Em Better call Saul, temos a oportunidade de conhecer o surgimento desses dois e, esperamos, um dia poderemos ver como eles se inseriram nesse contexto de Albuquerque e do tráfico de drogas.


Tenho sempre uma opinião sobre a maioria das séries quando peso em seus finais. Elas podem ser ótimas mas ainda assim acabam desconstruindo várias boas ideias quando terminam a história e, invariavelmente, nos fazer nos decepcionar com a pobreza das escolhas e do fins dos personagens. Em Breaking Bad temos a apoteose dos finais, com escolhas perfeitas e um último episódio que precisa ser imortalizado na história das séries. A forma como Vince Gilligan arquitetou o gran finale é angustiante e, por mais que possamos pressentir o que acontecerá, o desfecho nos emudece e nos enche de orgulho por estar ali acompanhando Walter e sua epifania final.


Alguns episódios precisam ser lembrados e para você que ainda não viu a série, prepare-se na poltrona quando a vez deles chegar:


Temporada 1, episódio 1 – "Pilot"

É no começo que entendemos de onde Walter sairá, qual a vida que tem e a qual estereótipo se enquadra. O professor tradicional e que não tolera as banalidades dos alunos, assim como cumpre com louvor o papel de “tiozão” na família é o que o protagonista era e já ali vemos a abertura da porta que ele escolherá para seu futuro.


Temporada 2, episódio 8 – "Better call Saul"

É o episódio no qual conhecemos o infame advogado, mistura de oportunista com canastrão, e que aparece na vida de Walter e Jesse como uma luva para tirá-los de um problema causado pela prisão de um de seus traficantes.


Temporada 2, episódio 10 – "Over"

Esse é "O" episódio do seriado, pois aqui Walter descobre que seu câncer regrediu muito e que ainda terá muitos anos de vida se mantiver o mínimo de sua saúde, A escolha era simples: voltar para sua família e parar de produzir a famosa metanfetamina mais pura do mundo ou perceber que, na verdade, o que ele queria não era o dinheiro e nem proteger sua família para o futuro. Heisenberg assume o controle e vemos que Walter é, na verdade, apenas um passageiro na história do novo protagonista.


Temporada 4, episódio 1 – "Box Cutter"

É o momento em que conhecemos o monstro por dentro da geleira que se mostra Gus Fring. Somos agraciados com uma cena épica na qual ele entra no laboratório no qual Walter e Jesse estão “cozinhando” e após uma longa e passiva sequência em que troca de roupa, colocando o macacão especial enquanto Walter fala sem parar, e executa um de seus descuidados capangas de forma absolutamente devastadora. Ali nossos protagonistas entendem que estão lidando com um ser superior, capaz de tudo para manter seus negócios e as aparências.


Temporada 4, episódio 13 – "Face off"

O nome do episódio é absolutamente perfeito e temos os dois significados para ele sendo apresentados na trama. Tanto a propriedade de encarar a verdade e confrontar os personagens como também o de perder parte da cara, metade, no caso. Gus, Walter e tio Salamanca silenciam o público nessa sequência.


Temporada 5, episódio 8 – "Gliding Over"

Hank finalmente entende o que está acontecendo e a forma como o faz é genial, sutil e inteligentíssima. Ali ele percebe que o mostro que procura está praticamente debaixo de seu teto e os telespectadores chegam à conclusão que o confronto entre os dois não deixará que ambos saiam vivos, sob nenhuma hipótese.


Temporada 5, episódio 14 – "Ozymandias"

Provavelmente o melhor episódio da série, se não o melhor de todas as séries. Uma sequência gravada no deserto dá fim a uma caçada ao monstro Heisenberg da forma mais brutal possível. O caminho tomado por Walter é sem volta e as consequências de suas escolhas colidem em sua testa de forma pessoal e totalmente irreversível. Veja mais uma vez esse episódio e se não viu, conte os minutos para chegar nele.


Temporada 5, episódio 16 – "Felina"

Como disse anteriormente, dificilmente conseguiremos citar o último episódio de um seriado como sendo um de seus melhores, mas em Breaking Bad isso mudou. O desfecho é aterrorizante, inteligente, justo e especialmente bem intencionado, com Heisenberg dando espaço para o professor Walter White corrigir algumas de suas besteiras e entender algumas consequências de suas escolhas. A série é fechada com qualidade e sem deixar nenhuma ponta solta que nos incomode.


Fonte: www.seriesemfoco.com


Era fácil não gostar de Breaking Bad, especialmente pela fragilidade da construção do personagem principal, pois Walter White não nos mostrava nenhuma possibilidade de incorporar o gângster que se tornou e isso fazia com que pensássemos que os autores iriam acabar tendo que forçar um pouco a transformação que se seguiria. Seja pelo talento inegável de Bryan Cranston ou pela consequente conclusão de que realmente o poder pode tirar qualquer um de seu caminho natural, conseguimos entender totalmente o que se passa com o protagonista e, sua metamorfose em algo vil, egoísta e cruel, é vista como uma "evolução" necessária para que ele sobreviva no mundo que acabou entrando.


Assistam essa séria com os olhos abertos de verdade, entendendo que o ser humano irá chegar nas últimas consequências para conseguir o que quer quando se vir desafiado pela vida, pela sua fé ou até mesmo pelas probabilidades. De professor a “cozinheiro”, de pai a traficante, de ninguém a uma lenda.


“SAY MY NAME!!!” – HEISENBERG, ww.

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