Dexter - Quando o vilão conquista nosso coração
- Frank Moreira
- 24 de out. de 2016
- 7 min de leitura
Retomando a lembrança de séries que marcaram nossas vidas viciadas nessa nova tendência entre os seres humanos, falaremos hoje de um vilão que conquistou o coração de muita gente pelo mundo afora. Dexter foi um seriado de 2006 que contava a história incrível de um carismático serial-killer que trabalhava para a polícia em uma unidade forense.
Quando paramos para pensar sobre a primeira impressão do seriado, não nos vem nada de bom à cabeça. Cenário super colorido de Miami, clima tropical, personagens extremamente praianos e folclóricos e um protagonista que trazia consigo uma série de clichês que tinham de tudo para fazer a receita falhar. Adotado, família destruída pela violência, irmã problemática, pai superprotetor e meio maluco, personalidade introspectiva e relações complexas com todos ao seu redor. É o personagem padrão para se transformar em psicopata e a sensação que temos é de que o seriado sempre trabalhará de forma forçada para manter protegidas a identidade e a integridade do personagem, porém a surpresa foi extremamente positiva e Jeff Lidsay, criador da série, acabou conquistando o público pela qualidade com a qual garantiu o caminho desses clichês. Os personagens principais da série são o protagonista Dexter (Michael C. Hall), seu pai Harry Morgan (James Remar), sua irmã adotiva Debra Morgan (Jennifer Carpenter), os policiais Angel Batista (David Zayas) e Maria LaGuerta (Lauren Vélez), parceiras amorosas Rita Bennet (Julie Benz), Hanna McKay (Yvone Strzechowski) e Lila Tourney (Jaime Murray) e os seriais-killers que antagonizaram Dexter, Ice Truck Killer (Christian Camargo), Trinity (John Litgow) e Travis Marshall (Colin Hanks).

Fonte: www.livrosepessoas.com
Dexter Morgan é um especialista em perícia e análise forense de cenas criminais, assim como análises de evidências e materiais recolhidos para serem usados pela polícia. Tem como irmã uma policial da mesma delegacia que faz parte e sua relação com ela é extremamente alternativa, dada a personalidade extravagante e debochada de Debra Morgan e também pela serenidade e distanciamento que marcam a personalidade de Dexter. Logo no começo somos apresentados ao “passageiro sombrio” de Dexter, um personagem inverso daquele que sua vida pública apresenta e que é um impiedoso serial-killer. Entretanto, Dexter não é um vilão convencional, pois só mata criminosos e pessoas que violam um “código moral” que desenvolveu junto com seu pai. A vítima precisa preencher requisitos específicos para se tornar alvo de Dexter e ele faz questão absoluta de ter a certeza de que está certo para aí sim colocar em prática a “justiça” contra os criminosos. A forma como comete seus crimes é absolutamente sensacional, pois se utiliza de todos os seus conhecimentos forenses para não deixar ou destruir evidências e o anti-herói tem como especialidade isolar ambientes com plástico transparente de forma a empacotar tudo o que sobra de seus alvos. Uma vez dominados, os criminosos são esquartejados, serrados e tudo o mais que Dexter tiver tempo e disposição para fazer, mas não antes de acordar a vítima e jogar sobre ela a realidade encontrada, assim como as evidências de sua culpa.
Como citado anteriormente, o código de ética de Dexter é a matriz de todo o seu comportamento com os criminosos perseguidos. Desde novo, quando começou a manifestar suas tendências sádicas e homicidas, foi direcionado pelo pai, policial morto em serviço, a só aplicar suas habilidades naqueles que realmente mereciam. Durante toda a história das oito temporadas que nos foram oferecidas há um conflito entre a sede de sangue de Dexter e a necessidade de se enquadrar no código do pai. Sua personalidade e estilo de vida foram fruto de uma infância marcada por uma tragédia e um cenário de violência quando a mãe foi assassinada de forma brutal e Dexter foi encontrado em meio a uma poça de sangue por aquele que viria a ser seu futuro pai adotivo. Harry, por sua vez, é sempre presente na vida de Dexter e suas aparições estão longe de serem fantasmagóricas. Na verdade, toda vez que surge em cena, a visão do pai de Dexter normalmente está muito serena e ajuda o protagonista a conseguir tomar as melhores decisões e garantir que não seja pego em nenhum momento.
Dexter faz muita questão de se apresentar como incapaz de sentir empatia por outros seres humanos e por diversas vezes ele se pega em meio a situações comuns do dia a dia com as quais não consegue se encaixar. As relações familiares e de amizade são simplesmente superficiais e ele não consegue se aproximar de ninguém, criando sempre uma barreira ao seu redor e, em alguns momentos, criando desconfianças sobre seu estilo de vida. Por diversas vezes Dexter se viu perseguido por seus colegas de serviço sem que eles soubessem que o personagem era, na verdade, o grande assassino que estava por trás de muitas das mortes do seriado. Uma coisa interessante no desenvolvimento da história foi a forma como essa incapacidade de se envolver foi sendo desconstruída com o tempo, pois Dexter se aproximou a cada episódio de sua irmã, seus amigos e também de algumas de suas vítimas. Cada vez mais Dexter passava a se importar com as pessoas e isso influenciava de forma determinante na precisão de seu trabalho, assim como na forma que permitia que alguns outros personagens fizessem parte de sua verdadeira realidade. Por mais de uma vez Dexter contou sua história para alguém, seja uma namorada psicopata ou um fã que acaba se tornando um risco e resolve aprender as técnicas do serial-killer mais emblemático da cidade.
Dexter foi uma das primeiras séries de sucesso estrondoso na televisão que nos fez nos identificar completamente com o vilão. Não por simpatia e nem pelo carisma, como aconteceu com alguns outros (Frank underwood, Hannibal e Walter White, entre outros), mas pela humanização do personagem durante o passar do seriado. A imagem que ficamos de Dexter ao final do seriado é de um personagem frio, calculista, incapaz de sentir algo por um ser humano que trabalha de forma interna seus medos, seus fracassos e suas lembranças e se descobre como um ser humano “como qualquer outro”. O momento em que Dexter percebe que também é capaz de sentir, de se apaixonar, de se sacrificar por alguém que gosta é valoroso e nos faz realmente entender que a veia criminal do protagonista realmente é uma mistura de tragédia infantil, direcionamento equivocado do pai e um senso de justiça deturpado.

Fonte: www.downloadwallpaper.org
Não quero falar detalhadamente de algumas passagens pois aqueles que nunca viram o seriado não precisam de detalhes específicos sobre o rumo dos acontecimentos. Entretanto, mais uma vez, deixarei aqui algumas sugestões de episódios que PRECISAM ser vistos e revistos para serem gravados de uma vez na memória dos fãs da série.
Temporada 1, episódio 1 – "Dexter"
Certamente é o episódio mais importante da série, pois apresenta os personagens, o princípio da história de Dexter e sua psicopatia, com detalhes que norteiam nossas opiniões sobre o protagonista. É nesse episódio que começamos a conhecer um outro serial-killer que quer muito conhecer Dexter e a entrada do Ice Truck Killer na trama é simplesmente sensacional.
Temporada 1, episódio 10 – "Seeing red"
Nesse episódio Dexter finalmente consegue entender e lembrar seu passado quando o Ice Truck Killer monta uma cena de crime especificamente para ajudar Dexter no processo. O interesse do personagem em interagir com Dexter é explicado e o final da temporada é extremamente revelador, com uma participação espetacular do ator Chirstian Camargo, também conhecido do filme vencedor do Oscar, Guerra ao Terror.
Temporada 3, episódio 8 – "The damage a man can do"
Aqui temos um momento ímpar no seriado, quando Dexter está com um “parceiro de crime”, o advogado Miguel Prado. Aqui o código acordado com seu pai é deixado de lado e Harry o avisa em muitas oportunidades sobre o erro que está cometendo. No episódio temos um momento épico quando um assassinato em conjunto é cometido e Miguel resolve começar a caminha com suas próprias pernas no mundo do crime.
Temporada 4, episódio 12 – "The gateway"
Neste momento da série Dexter já persegue um novo serial-killer que tem algumas semelhanças com ele mesmo e sua estratégia para conhece-lo melhor é extremamente perigosa e acaba terminando de forma absolutamente chocante. O final do episódio mostra que o assassino Trinity, interpretado pelo sensacional John Litgow, tira de Dexter alguém que ele amava demais e o efeito desse acontecimento no protagonista é algo que definiria o rumo da série dali para frente.
Temporada 6, episódio 12 – "This is the way the world ends"
Após uma temporada bastante questionada pelos fãs, o season finale é um dos momentos mais marcantes da série e mostra como a personagem de Deb acaba descobrindo o segredo sombrio de Dexter. Muito drama e uma reação de Dexter que mostra toda a humanidade conquistada pelo personagem durante a evolução do seriado.
Temporada 7, episódio 12 – "Surprise, motherfucker!"
Mais um season finale de arrepiar. Durante toda a temporada vimos a personagem de Deb (Jennifer Carpenter) ser completamente devastada com a necessidade de conviver com a verdade sobre seu irmão. Ela tem muita dificuldade em processar as informações e há um conflito gigantesco entre os irmãos sobre a incontrolável posição de Dexter em ter que fazer justiça e sobre o compromisso de Deb com seu juramento de servir proteger comoo pai lhe ensiinou. O final do episódio é absolutamente avassalador e traz a melhor interpretação de Jennifer Carpenter durante todas as temporadas com as suspeitas de LaGuerta sobre Dexter se concretizando e Deb, em um ato do proteção ao irmão, matando a colega policial. Muita emoção e um caminho desenhado para a última temporada.
Como nem tudo são flores, existia a necessidade de fechar a série, já que a oitava temporada seria a última. O problema foi que nesse momento a falta de capacidade de se escrever um final decente imperou sobre todas as inúmeras e ricas possibilidades de seguir a história. Se esperava demais que Deb teria um papel glorioso no final da série e que Dexter poderia morrer, ser pego, ser preso, ou qualquer outra coisa que passasse na cabeça de uma criança de 15 anos que tivesse assistido a tudo que tivesse acontecido até ali. O final foi muito mal trabalhado e completamente sem nenhum sentido e nos fez pensar que, assim como em Lost, se a série tivesse sido interrompida na penúltima temporada seríamos todos mais felizes. Lembro de Caverna do Dragão que nunca teve final e ainda assim mora em nossos corações.
O seriado é excelente e é diversão garantida, pois mesmo com o final bastante questionável, nos garante um ambiente muito complexo e trabalhado com bastante detalhes. Michael C. Hall não poderia se encaixar melhor em outro papel e certamente terá dificuldades de se desvincular do charmoso serial-killer. Seu nome mal foi visto em outras produções após o fim do seriado e pelo menos até agora não vemos nada no horizonte que conte com o talentoso ator.
Termino com a abertura do seriado, uma das mais interessantes de todas que já vi:
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