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Trump dá mais uma vitória aos Simpsons.

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 9 de nov. de 2016
  • 5 min de leitura

Quando Donald Trump anunciou sua candidatura para a corrida presidencial americana as reações foram diversas. Muita gente achou interessante por se tratar de um notório bilionário que não precisaria da política para enriquecer, muitos pensaram que era interessante por se tratar de um perfil extremamente diferente daqueles aos quais os americanos estavam acostumados e muita gente pensou que era divertido, e ponto. Mas a maioria das reações imediatas foram de preocupação, pois o perfil "político" e social de Trump era conhecido e suas manifestações públicas eram sempre decoradas com intolerância, ódio e uma perspectiva muito menos democrática no relacionamento entre os povos do que pregava o atual presidente, Barack Obama.


Contra ele concorreria a ex-primeira dama, Hillary Clinton, democrata e com uma força política muito interessante, já que desde seus tempos de Casa Branca nunca se prestou a ser somente um objeto decorativo. Ela aparecia como um nome extremamente forte e coerente com o processo americano de aceitar as diferenças, e nada parecia mais matemático do que evoluir de o primeiro presidente negro para a primeira mulher controlando aquela que eles chamam de "a maior nação do mundo". Hillary chegaria ao governo contando com toda a boa vontade de todos, já que seu opositor era considerado antipático e arrogante e parecia mais preocupado em fazer barulho do que efetivamente ganhar a eleição.


As campanhas seguiram como planejado por quase todo o tempo e o equilíbrio acabou aparecendo nos últimos meses antes da eleição. Trump deixava de ser um personagem de desenho animado e passava a ser um concorrente forte ao cargo. Era assustador perceber que alguém com a postura tão inflexível e que disseminasse um discurso tão agressivo poderia se tornar o presidente dos Estados Unidos e era ainda mais assustador perceber que uma população que era governada por alguém com o perfil de Obama (e Michelle, é claro!) poderia simplesmente dar uma virada de 180º em sua visão política. Se o governo atual era bem aprovado pela população, como poderiam querer uma mudança tão brusca assim, de repente?


Fonte: www.theguardian.com


Em 2000 os Simpsons divertiram os fãs com a ideia de que Trump um dia seria candidato a presidente e isso foi retratado da forma mais caricata possível na época. Constatando o fato de que o famoso desenho americano já tinha previsto vários outros fatos históricos que acabaram acontecendo posteriormente, quando Trump apareceu como candidato, a associação foi imediata e toda a memória do episódio foi trazida à tona. No episódio os autores desenharam um cenário de caos após a conquista de Trump e com os Estados Unidos indo à falência com o governo do folclórico personagem.


Ficção colocada de lado, serão alguns meses de muita apreensão para todos e nessa hora irei até excluir o povo americano do meu pensamento, pois eles sofrerão de forma direta os efeitos do novo cenário político. Nós, os países periféricos mas importantes economicamente para os EUA é que devemos nos preocupar com o tamanho da influência desse novo governo em nossas vidas, em nossos trabalhos e, principalmente, em nossa economia. A primeira reação das bolsas de valores do mundo inteiro foi de queda e se for percebido que os EUA se tornarão uma bomba relógio os impactos serão muito mais profundos. Nas primeiras horas da manhã de hoje aqui no Brasil já deu para perceber que o assunto foi muito comentado nas redes sociais e sites de notícias e em meio a tanta preocupação e resignação, foi possível perceber um volume grande de pessoas que se posicionaram minimizando (ou ignorando) os efeitos da vitória de Trump, como se suas vidas pacatas e singelas nas cidades do interior do Brasil não fossem estar dentro do cogumelo produzido por essa bomba. Inocência, desconhecimento e muita vontade de achar que está bem inteirado da correlação política da eleição nos EUA com o dia a dia do Brasil. Sofreremos o que há de melhor e de pior com essa eleição e sob nenhuma circunstância poderemos entender que estamos alheios ao fato enquanto o mundo inteiro se contorce de preocupação.


Outro grande efeito que essa vitória de Trump pode trazer é o "Efeito Bolsonaro". Eles não são iguais e nem têm uma linha idêntica de raciocínio político, mas se assemelham demais, especialmente no prazer que sentem em chocar e provocar o desconforto que só os mais radicais conseguem produzir. Bolsonaro já se manifestou como candidato à presidência em 2018 e estamos falando, de forma objetiva, que ele terá quase dois anos de marketing americano pronto para ser utilizado em seu favor. A vitória de Trump, por si só, já é um argumento perfeito de venda, pois deixa claro que o extremismo e a intolerância apresentados por ele, de certa forma, agradaram a maioria da população de um dos maiores países do mundo. Com isso acontecendo por lá, o que impediria de termos uma mudança radical nos conceitos das pessoas no Brasil e, o também caricato, Bolsonaro deixar de ser um personagem de filmes de terror e aparecer como o salvador da pátria corrupta e entregue aos "golpistas" ou aos "mau-perdedores"? Trump na presidência pode significar um aumento exponencial na movimentação dos exércitos americanos em conflitos pelo mundo. O combate ao terrorismo será intensificado e sabemos que essa postura é o primeiro passo para o próprio terrorismo ser intensificado. Países inimigos certamente acordaram nessa manhã pensando que a diplomacia de Obama não será mais uma marca americana e o novo presidente é bélico, ousado e com tendências muito claras ao combate à violência com mais violência.


O discurso da vitória de Trump foi coeso e bem articulado e é importante que se ressalte isso. Quando a ex-presidente Dilma ainda governava o Brasil eu sempre questionei a qualidade e a competência de sua assessoria, pois sempre a deixavam á mercê do improviso e isso foi um dos motivos de sua ruína, pelo menos no que diz respeito á sua imagem pública. Quando eu assistia flashes da campanha de Trump sempre pensava que ele padecia do mesmo mal e que mesmo tendo um estilo de discurso condizente com seu viés radical, isso faria com que ele não ganhasse a eleição de forma alguma. Seria preciso recuar um pouco, respirar fundo e mostrar mais serenidade na hora de falar com a nação. Isso ele fez no discurso da madrugada e o tom conciliador e democrático que apresentou mostrou que ao menos sua assessoria conseguiu apontar ao futuro presidente que era hora de ganhar com classe, sem criar mais pânico e sem espezinhar no cadáver da adversária. Dizem os jornais americanos que Hillary ligou para Trump instantes antes do fim da apuração para parabenizá-lo pela conquista e "assumir a derrota", desejando ao republicano sucesso e sabedoria na Casa Branca.


Fonte: www.bbc.co.uk


Obama e Michele devem estar sem dormir. Não pelo fato de saber que sairão da Casa branca, pois isso já era um fato consumado, mas por perceberem que terão uma descontinuação em muitos dos posicionamentos políticos e sociais que o governo atual conseguiu incutir na cabeça dos americanos. Quem não se lembra do maravilhoso discurso de Michelle quando falou em nome de Hillary nas prévias partidárias? O mundo aplaudiu de pé a primeira dama e já viu nela, talvez, a sucessora de Hillary na presidência após os 8 anos que acreditavam ter pela frente.


Um dia cinza para a política americana e mundial, um dia de sinais amarelos para todos aqueles que estavam acostumados com as portas abertas para uma das maiores potencias do mundo. Um momento de reflexão para quem imaginava os Estados Unidos como um país sempre pronto para recebê-los, independente de onde fossem. O "mundo livre" americano estará sob a lupa de Trump e não sabemos o que isso vai significar. Ele pode surpreender a todos e fazer um governo sensacional, eficiente, ponderado e firme, mas é fato que a chance de isso acontecer é diretamente proporcional ao carisma que ele nos mostra.

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