The Winds of Change. A vida precisa ser boa!
- Frank Moreira
- 16 de dez. de 2016
- 7 min de leitura
Já perceberam que de uns anos para cá estamos nos transformando em pessoas mais emocionais? No meio de tantas guerras civis, de tanta violência e de tanto desrespeito com a nossa ética me parece que aflora lentamente um sentimentalismo estranho. Uma necessidade de se contagiar com coisas mais delicadas, mais bonitas e que despertem mais empatia.
Obviamente não é uma regra geral e nem que essa nova visão seja a da maioria, pois sempre teremos os robozinhos do dia a dia, aqueles que se orgulham de serem indiferentes às delicadezas da vida e fazem questão de acreditar que essa postura é o que lhes garante sucesso e bons anos pela frente.
Me coloco no primeiro grupo, o dos bonitinhos. Nos chamarei de nós. Nós somos um pouco diferentes mesmo, mas não por sermos mais emocionais ou por termos a real necessidade de nos conectarmos com algo em nossas vidas. Somos diferentes por estarmos em um processo que nos permite ser assim sem ficar para trás. Nós não ficamos devendo em nada ao outro grupo, nós estamos lado a lado com eles, vivendo a mesma vida, correndo atrás dos mesmos objetivos e nos relacionando com o mesmo mundo. A nossa particularidade é que conseguimos fazer isso tudo nos permitindo viver melhor, mais intensamente e muito mais confortavelmente, reduzindo em nós mesmos as pressões que os outros fazem questão de vivenciar. Preferimos coisas mais simples e entendemos que delas é possível extrair algo que nos complete.
Talvez o maior reflexo que eu vejo nessa diferença está nas relações entre as pessoas. Não significa que nos amamos mais ou somos mais amigos por isso, mas sim que nossa forma de amor e amizade nos permite curtir melhor o que essa relação traz para o cotidiano. Escolhemos cobrar menos, escolhemos estar mais próximo, rir mais, chorar mais. Permitimos que os sentimentos entrem de verdade, experimentando a alegria e o sofrimento dos outros como sendo uma sensação nossa. Depois disso, devolvemos ao mundo um pouco dessa essência, sabendo que esse círculo virtuoso refletirá de volta em algum momento.
Posso estar iludido pela minha nova realidade. Sei disso e racionalizo como sei que devo fazer, mas hoje em dia me vejo no meio de tanta gente diferente, tanta gente inteligente, tanta gente bem intencionada, ética e com vontade de ajudar que não posso deixar de acreditar que o mundo está mudando. Até mesmo aqueles que passaram a vida inteira trombando em suas indiferenças e necessidades de atender a um padrão de comportamento já estabelecido estão querendo mudar. Vejo o esforço em se enquadrar no conceito do novo, no conceito que permite que se deite a cabeça no final do dia e seja possível olhar para as últimas horas com orgulho e satisfação.
Os casais estão diferentes. Estão mudando e entendendo que não adianta sonhar em formar uma família simplesmente pelo fato de isso ser comum dentro da linha do tempo de uma pessoa. Estou vendo muita gente inovando, abrindo a cabeça e vivenciando o que eu, por exemplo, vivo já a quase 14 anos. Liberdade e tranquilidade de errar, e errar de novo até acertar, sabendo que do lado de lá tem alguém percebendo o meu esforço, entendendo que a escolha de estar junto transcende a necessidade de ser um casal, ter filhos, ganhar dinheiro e poder ter o que quiser. A escolha é de ficar junto e de passar por tudo junto, escolhendo junto, construindo junto. Ou não fazendo nada disso junto. Talvez vivendo sem se preocupar em colocar no papel o compromisso aceito, em gerar e criar filhos, em ter, em possuir, em comandar ou ser comandado. O que eu vejo é a escolha simples de estar junto, só isso. As pessoas ao meu redor estão se transformando em algo que eu estou gostando mais e é esse o ponto principal dessa conversa, pois passei anos em um ambiente diferente que não me mostrava essa vontade de dar certo. Eu percebia que o dia a dia de todo mundo era guiado pelo objetivo de sobreviver mais 24 horas, de aturar mais 24 horas, ou de esperar o inevitável fim de algo que jamais havia sido preparado para durar. Hoje eu vejo mais que isso, pois percebo que onde havia inércia surge um pouco de tesão, de vontade de fazer acontecer, de fazer dar certo. Por centenas de vezes eu tive a oportunidade de falar com meus amigos e conhecidos a maior verdade sobre uma relação entre duas pessoas (seja ela de qualquer natureza): é preciso acordar todas as manhãs e trabalhar em todos os segundos para que sua vida seja melhor e mais divertida. É preciso fazer dar certo.

Fonte: www.frasesfofas.com
Nessa semana um texto viralizou na internet e achei interessante compartilhar aqui, pois mostra uma visão diferente sobre como se relacionar com alguém e com o ambiente ao seu redor. É um texto escrito por uma mulher tendo um homem como “alvo”, mas é muito fácil abstrair para todo tipo de relacionamento, mesmo os que não envolvam casais, pois a ideia principal não é o que está escrito e sim aquilo que o texto desperta nas nossas cabeças. Eu li muitas declarações de mulheres que se chatearam com o texto por acharem que ele desconstruía o empoderamento feminino, que é um objeto de militância atualmente, mas penso que, para quem não gostou, faltou somente entender que o que o texto propõe é exatamente o que o feminismo de verdade quer. A ideia de que abrir mão de uma série de obrigações “convencionais” de um relacionamento somente agradaria aos homens (já que é dito que normalmente são eles que querem essa liberdade) é muito limitada e deveria despertar a certeza de que o objetivo do texto é garantir para os homens e as mulheres a mesma possibilidade de ter tudo de bom que uma relação amorosa oferece, podendo usufruir também da tranquilidade em se viver a vida sem desagradar a outra metade da relação, de curtir sozinho, de amar na distância e de correr para o que é bom quando quiser, do jeito que quiser.
O texto foi escrito por Isabelle Tessier, uma escritora canadense de 33 anos e foi publicado no site do The Huffington Post:
“Quero estar solteira com você.
Quero que vá tomar cerveja com seus amigos para que no dia seguinte tenha ressaca e me peça que vá lhe ver porque deseja ter-me entre seus braços e que acariciemos um ao outro. Quero que conversemos na cama pela manhã, sobre todo tipo de coisas, mas algumas vezes, pela tarde, quero que cada um faça o que quiser durante o dia.
Quero que me fale sobre as noites em que você sai com seus amigos. Que me conte que havia uma menina no bar que te olhava. Quero que me mande mensagens quando estiver bêbado com seus amigos e que me diga besteiras, apenas para que possa ficar seguro de que eu também estou pensando em você.
Quero que ríamos enquanto fazemos amor. Que comecemos a rir porque estamos provando coisas novas e que não têm sentido. Quero que estejamos com nossos amigos, para que pegue na minha mão e queira me levar a outro local, porque já não pode aguentar-se e tem vontade de fazer amor comigo ali mesmo. Quero ter de permanecer em silêncio porque há pessoas e ninguém pode nos ouvir.
Quero comer com você, que me faça querer falar sobre mim e que você fale sobre você. Quero que discutamos sobre qual é o menor: a costa norte ou a costa sul, a parte ocidental ou a oriental. Quero imaginar o apartamento de nossos sonhos, mesmo sabendo que provavelmente nunca vivamos juntos. Quero que me conte seus planos, esses que não têm nem pé, nem cabeça. Quero surpreender-me dizendo “Pega seu passaporte que estamos indo”.
Quero ter medo com você. Fazer coisas que não faria com ninguém mais, porque com você me sinto segura. Voltar para casa muito bêbada depois de uma noite divertida com amigos. Para que coloque a mão no meu rosto, me beije, me use como travesseiro e me abrace bem forte durante a noite.
Quero que tenha sua vida para que decida viajar algumas semanas, apenas por capricho. Para que eu fique aqui, sozinha e chateada, desejando que salte sua carinha no Facebook me dizendo “oi”.
Não quero que sempre me convide para suas noitadas e não quero convidar você para as minhas. Assim, no dia seguinte, posso contar como foi minha noite e você também pode contar-me como foi a sua. Quero algo que seja simples e, uma vez ou outra, complicada. Algo que, por alguns minutos, me faça fazer perguntas a mim mesma, mas no momento que estiver com você em um mesmo local, desapareçam todas as dúvidas. Quero que pense que sou bonita e que fique orgulhoso ao dizer que estamos juntos.
Quero que me fale te amo e, acima de tudo, poder dizer isso a você. Quero que me deixe andar na sua frente para que possa ver como meu corpo se mexe. Para que me deixe raspar as janelas do meu carro no inverno, porque meu bumbum balança e isso te faz sorrir.
Quero fazer planos sem saber se no fim os realizaremos. Estar em uma relação clara. Quero ser essa amiga que você adora ficar. Quero que siga tendo desejo de paquerar outras meninas, mas que procure a mim para terminar o dia. Porque quero ir contigo para casa.
Quero ser aquela com quem você faz amor e depois dorme. A que te deseja paz quando está trabalhando e a que fica encantada quando você se perde no seu mundo de músicas. Quero ter uma vida de solteira com você. Porque nossa vida de casal seria igual às nossas vidas de solteiros de agora, só que juntos.
Um dia te encontrarei".
A versão original do post de Tessier pode ser lida AQUI.
“Porque nossa vida de casal seria igual às nossas vidas de solteiros de agora, só que juntos.”
Esse é o ouro que devemos buscar e é com essa ideia que devemos nos relacionar. Não pode ser medíocre. Não pode ser limitado. Não pode ser em preto e branco. Precisa ser bom.
Não quero terminar passando a sensação de que a ideia principal dessa conversa é sobre relações amorosas e gostaria muito que todos tivessem a capacidade de entender que somos feitos de tudo que está ao nosso redor, mesmo que não haja parceiro ou parceira, que não haja casamento, que não haja filhos. Sempre precisa ser bom.
O mundo está mudando e está mudando para melhor. É isso que eu quero ver e mesmo que eu entenda que temos um cenário de caos ao nosso redor, paro pra pensar que o que EU tenho é muito bom. É muito leve e, sem sombra de dúvidas, é muito honesto.
Quando Tessier termina falando que “Um dia te encontrarei”, não pense só na pessoa que você ainda não tem. Pense que o que você precisa encontrar é a ideia correta, a forma correta e a motivação correta para fazer a vida ser boa de verdade. Acredite que o que vier após isso será bom por extensão.
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