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Sons of Anarchy: A irmandade regada com a melhor trilha sonora da história

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 22 de nov. de 2016
  • 8 min de leitura

Quando se percebe que estamos falando de uma série que retrata os dias de um clube de motoqueiros, já pensamos que cairemos na velha história da bebedeira, violência gratuita e um pouco de caos que costuma ilustrar esse universo. E é exatamente isso que acontece em SOA, porém, de uma forma absolutamente sedutora e eletrizante.


O MC (Motorcycle Club) conhecido como SAMCRO (Sons of Anarchy Motorcycle Club Redwood Original) tem sua base na pequenina cidade de Charming, na Califórnia, e foi fundado em 1967 por por nove amigos, conhecidos como First 9. Piney Winston (William Lucking), John Teller (Nicholas Guest) e Clay Morrow (Ron Pearlman) se juntaram a mais seis companheiros de Estrada e deram origem ao grupo que teve continuidade com amigos e filhos dos participantes originais, até chegarmos ao momento em que se a série se mostra ambientada.


Fonte: www.fox.de


A formação original do MC contava com alguns ex-combatentes que voltaram do Vietnã e as oportunidades para eles não eram exatamente abundantes quando da volta aos EUA e com isso o MC acabou partindo para a ilegalidade, incorporando na sua rotina a venda de bebidas e armas. A parceria entre os dois principais membros deu origem a uma oficina que servia como fachada para despistar as autoridades locais e a Teller-Morrow perdurou por muitos anos até ser administrada por um dos First 9, Clay Morrow e pelo filho do falecido John Teller, nosso protagonista, Jax Teller (Charlie Hunnam). O “negócio” local não tinha nenhuma sutileza e a população de Charming parecia entender e concordar que o MC acabava por manter distante grupos mais perigosos que traficavam drogas e cometiam outros tipos de crimes que poderiam colocar os locais em um perigo maior.


No início do seriado vemos uma nova formação do SAMCRO, contendo ainda dois dos First 9, o President Clay Morrow e Piney Winston, e os demais membros que foram perfeitamente escolhidos para seus papéis, incluindo dois filhos de membros originais, o já citado e vice President, Jax e seu melhor amigo e filho de Piney, Harry “Opie” Winston (Ryan Hurst). Completavam o grupo o ensandecido Sargent in Arms Alex “Tig” Tragger (Kim Coates), Filip “Chibs” Telford (Tommy Flanagan), Juice Ortiz (Theo Rossi) e o tesoureiro do MC, Bobby Munson (Mark Boone Jr.).


A ideia da séria foi de trabalhar em cima da nova SAMCRO, quase meio século depois de sua formação inicial e com uma mentalidade absolutamente diferente, menos lúdica e mais profissional, como queria o seu novo Presidente, Clay Morrow. A ambição de Clay se mostrou como uma ameaça muito grande para a paz que era comum entre as gangues da região, pois os demais grupos começaram a se sentir ameaçados pelo MC de Charming. Quando pensamos no que a série é em todas as suas 7 temporadas sempre caímos no mesmo ponto, pois tudo de bom e de ruim que acontece diante de nossos olhos está diretamente associado às decisões do grupo, muitas vezes, mais radicais e bélicas do que o bom senso sugeria para o momento. Essa dinâmica de acontecimentos já seria suficiente para se criar uma boa série e manter o público interessado nos próximos capítulos, mas o que faz SOA ser tão cativante e viciante é a construção de seus personagens principais e de suas relações pessoais.


O protagonista da série é Jax Teller, atual segundo na linha de comando do MC, filho de John Teller com a inigualável Mama Gemma Teller-Morrow (Katey Sagal). Sim, a mãe de Jax, após a morte de seu marido, iniciou uma relação com Clay Morrow e é um dos personagens mais perfeitos do seriado. A relação dele com a mãe é algo muito interessante e o carinho e respeito que existe entre os dois é frequentemente dissipado pela postura machista e agressiva do filho e pelos arroubos de intrusão da mãe, que sempre se vê na necessidade de interceder na vida de Jax, como se ele ainda fosse uma criança indefesa. A nova cara do MC não agrada a Jax, que se vê em no meio de uma epifania moral e passa a tentar trabalhar para que seu clube possa sair da ilegalidade e conseguir permitir que todos vivam vidas menos arriscadas e subversivas. A descoberta de que será pai e que o filho é de uma ex-namorada viciada que teve no passado também contribui demais para que Jax resolva trilhar um caminho diferente com o MC, que um dia certamente viria a estar sob sua responsabilidade.


Em um determinado momento uma ex-namorada da época da escola ressurge em Charming e é na figura de Tara Knowles (Maggie Siff) que se centraliza todo o conflito de Jax com seus companheiros de MC e, especialmente, com Mama Gemma. O desenrolar dos acontecimentos e a aproximação de Jax com Tara trazem um aspecto mais humano para o motoqueiro, que sê vê perdidamente apaixonado e refém do sentimento que têm pela paixão do passado. Tara, que se percebe no meio de um conflito gigantesco entre a direção do MC e com sua excêntrica sogra, toma a decisão de ficar ao lado de Jax e derruba o decisivo galão de gasolina na fogueira que SOA já tinha virado.


Fonte: www.jovennerd.com.br


As relações entre as divisões de SAMCRO se mostram como um ponto extremamente forte na série e é impossível não criar em nós mesmos um sentimento de lealdade com eles, percebendo que cada membro tem no parceiro um irmão e um tesouro a ser protegido. O amor constantemente apresentado entre eles é digno de respeito e a cada problema que se metem, coletivamente ou individualmente, o que se vê é a mobilização de todos para resolverem a situação, não interessa o preço a se pagar. O MC tem vínculos por todos os cantos nos EUA e até mesmo fora dele e uma das sequências de episódios mais sensacionais de SOA se passa em Belfast na Irlanda, quando se veem envolvidos com o IRA (Irish Republican Army) e o nível de violência explícita se eleva às alturas. Nada disso consegue mudar o foco central do seriado que nos mostra desde seu primeiro episódio o repugnante Clay Morrow sendo o alvo de Jax Teller nas disputas ideológicas. As descobertas do protagonista caem como bombas em suas costas e o futuro dos dois já se mostra comprometido desde a primeira revelação. Tudo está em torno da disputa de poder entre os dois e Jax se torna muito mais determinado que seu pai a conseguir fazer com que seus irmãos saiam do domínio de Clay e possam transformar o MC naquilo que ele entende como sendo o correto para si, seus amigos e para sua família.


Além de todos os confrontos tradicionais que SOA nos apresenta, ainda há um aspecto social que se faz muito presente, pois as demais gangues que estão em torno de Charming possuem todos os clichês de segregação que estamos acostumados a ver. Os Niners são um grupo formado somente por negros e que também trabalham com tráfico de armas. Os chineses, comandados por Henry Lin, traficam heroína e os Mayans são mexicanos que fazem um pouco de tudo. Os Sons são os branquinhos racistas que terão que lidar com a realidade de que um de seus membros é filho de um negro. Em um determinado momento da série um personagem trans, Venus Van Dam (Walton Goggins) é introduzido e tem papel de grande apelo, inclusive se envolvendo com um dos membros do MC. Além dos aspectos étnicos, o machismo é abordado de forma direta e crua, já que o mundo dos MC’s é dominado por homens e suas mulheres (old ladies, como são chamadas) têm importância especial na vida de seus maridos, mas são subjugadas e agredidas sem que haja nenhum tipo de pudor. A ironia da séria fica nesse aspecto, quando se percebe que todo o universo de testosterona e costumes masculinos que é retratado está sendo sempre manipulado e conduzido pelas mulheres que fazem parte da história. Mama Gemma e Tara fazem o que querem com “seus homens” e os seus destinos acabam sendo resultado dos riscos que assumiram ao serem tão dominantes em seus papéis.


Tecnicamente o seriado encanta, pois apresenta cenários sensacionais em uma película menos colorida do que estamos acostumados, motocicletas incríveis e suas histórias como se fossem personagens vivos dentro da série, além de atuações de gala de alguns dos atores escolhidos. Katey Sagal está perfeita como Gemma, Charlie Hunnam nos passa a arrogância que a juventude de Jax suscita, Ron Pearlman consegue ser repulsivo como Clay Morrow se propõe e Kim Coates eleva ao máximo a insanidade de Tig no universo paralelo em que vive.


Para não perder o costume, deixo aqui algumas sugestões de episódios que precisam ser vistos com uma atenção maior ou revistos para se matar saudade, pois são os pontos de ignição de toda a trama que a série nos oferece:


Temporada 1, episódio 12 – “The sleep of babies”

Episódio final da primeira temporada e o momento exato em que percebemos que a série irá explodir em nossas caras por muitas vezes até o seu final. A morte “acidental” de um personagem extremamente interessante desperta um novo rumo no MC, que passará a buscar vingança e terá a violência e intolerância como sendo sua principal característica.


Temporada 2, episódio 1 – “Albification”

Mama Gemma é violentamente agredida no episódio e a forma como ela lida com a questão é emblemática para a série e para o papel que ela se obriga a cumprir. A tensão no episódio é muito grande e mesmo que a matriarca esteja longe de ser a personagem mais simpática da série, neste momento é percebida sua força e dedicação ao MC.


Temporada 4, episódio 8 – “Family Recipe”

No auge da discordância entre os membros do MC, um dos First 9 é morto de forma covarde e com isso o grupo se quebra de forma irreparável. As mentiras de Clay e a postura de Jax os colocam em uma crise que só poderá permitir um vencedor no final.


Temporada 6, episódio 13 – “Mother’s Work”

O ultimo ato de Mama Gemma com Tara em um final de temporada de derreter a mente. Não há limites para uma mãe que quer proteger o filho, o marido e seus interesses pessoais e Gemma mostra isso da pior maneira possível em um episódio que retrata a mistura da loucura com a sua capacidade de mentir e dissimular.


Temporada 5, episódio 1 – “Sovereign”

Aqui temos a introdução de um novo rival na vida dos membros do MC e a forma brutal com a qual ele se insere no contexto da série é responsável por nos fazer estremecer de ódio e compaixão por Tig, além de fazer com que Jax perca aos poucos o interesse que ainda tinha em manter a ordem das coisas.


Temporada 5, episódio 3 – “Laying Pipe”

O episódio mais emocional da série, quando Opie, devastado pelas suas perdas pessoais, acaba demonstrando todo o amor que tem por Jax e pelo MC ao assumir responsabilidades e consequências que não são suas. Vemos o auge do desespero de Jax ao perceber o risco que seu amigo está correndo e que perde-lo poderia até significar o verdadeiro final da família SAMCRO.


Como de costume, o final desenvolvido para a série poderia ter sido melhor, mas não deixou de ter um certo tom lúdico e filosófico. Jax assume seu protagonismo e entende que é somente através dele que as coisas podem se desenrolar. A última temporada, que não é a melhor da série, conseguiu reunir bem as emoções que ficaram cravadas nas vidas dos personagens e também mostrou que houve um amadurecimento na forma como entendiam os becos sem saída em que se viam a cada momento. O tom de tristeza é contrastado com a “libertação” final e com a certeza de que cada um dos personagens viveu e/ou morreu pela família que o MC representava.


Não se preocupe se terminar de assistir SOA e quiser comprar uma moto, uma jaqueta SAMCRO e sair por aí curtindo a liberdade que ser um motoqueiro como eles oferece. Sensacional e inesquecível.


Por último, mas tão importante quanto, a trilha sonora. SOA é absolutamente espetacular quando acompanhada das músicas que foram escolhidas a dedo para os personagens e situações decisivas da série. Não me recordo de ter ouvido nada tão contundente quando essa seleção e certamente podemos creditar boa parte do sucesso à química entre o que vimos e o que ouvimos. Deixo vocês com a abertura do seriado que apresenta a música This Life, interpretada por Curtis Stigers:



Aqui a música completa em versão ao vivo:



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