No jogo mais difícil, a vitória mais interessante.
- Frank Moreira
- 16 de nov. de 2016
- 5 min de leitura
O Brasil venceu o Peru, em Lima, por 2x0 na madrugada passada e com isso já colocou um pé e meio na Copa da Rússia em 2018. Lidera as eliminatórias com 27 pontos, sendo que 28 parece ser o número mágico para se confirmar a vaga e a instabilidade dos oponentes contribui de forma mais definitiva ainda para que essa conquista se solidifique a cada ponto obtido.
Já foi o tempo em que enfrentar o Peru era uma diversão e as grandes goleadas das décadas de 80 e 90 não aparecem há muito tempo. Com um futebol bem mais competitivo e com nomes de destaque no cenário internacional, a equipe comandada por Ricardo Gareca pode (e deve) até ficar fora da Copa, mas certamente ainda dará muito trabalho para os candidatos às vagas para o Mundial.
O Brasil entrou em campo sabendo que sofreria uma pressão inicial e a postura do time mostrou isso claramente. Talvez aí esteja a maior diferença entre Tite e seus antecessores, que se surpreendiam com frequência quando eram apertados pelos adversários. O Brasil de Tite sabe sofrer quando precisa e sabe dar chutão, fazer faltas técnicas e até mesmo rodar a bola sem objetividade alguma quando necessário. O Peru apertou a marcação e chegou a colocar uma bola na trave de Alisson, mas foram somente 15 minutos de volúpia até o Brasil entender como neutralizar e daí para frente o domínio passou a ser verde e amarelo, como se esperava. Passes rápidos, boa paciência na hora de criar as jogadas, conclusões das ações ofensivas evitando os contra ataques, jogadas individuais e marcação alta. Esse foi o Brasil do restante do primeiro tempo e só não viramos o intervalo na frente do placar pela falta de capricho no último passe e em uma finalização de Paulinho após belo passe de Neymar. O Peru estava assustado e percebia que se fosse manter o jogo franco, provavelmente perderia na disputa técnica com os brasileiros e foi exatamente isso que se viu no segundo tempo.

Fonte: www.uolesporte.com.br
Tite montou uma seleção idêntica a que enfrentou a Argentina, com a única mudança sendo na lateral esquerda, já que Marcelo estava suspenso e Filipe Luís entrou em seu lugar. A novidade veio dentro do jogo e não na formação, pois aos 2 minutos de partida o meia Renato Augusto recebeu merecido cartão amarelo e com isso se viu em situação perigosa dentro de campo, tendo que conter os avanços de um adversário que começava bem nas ações ofensivas. O que vimos a partir daí foi uma mudança de posição entre ele e Phelippe Coutinho, que abandonou a ponta direita, fechou um pouco mais no meio e permitiu que o companheiro amarelado jogasse mais solto pelo flanco. Isso permitiu que o Brasil mantivesse a força ofensiva e transformou Renato Augusto na principal arma do nosso ataque, mais acionado até do que Neymar nos primeiros 45 minutos. Organização tática, recurso, flexibilidade, solidariedade e muito conhecimento sobre as capacidades individuais de cada um – mais um retrato da nova Seleção Brasileira.
No segundo tempo tivemos um início semelhante ao primeiro, com o Peru subindo a linha de marcação e tentando pressionar o Brasil, mas aí já não havia mais a preocupação inicial de nossos atletas e os contra ataques foram cirúrgicos, sempre com as chegadas em altíssima velocidade de Neymar e Coutinho. Em uma delas, pela direita, Coutinho tabelou na frente da área e dividiu com os zagueiros fazendo a bola espirrar e sobrar limpa no pé direito de Gabriel Jesus, que bateu no canto alto esquerdo do goleiro peruano, com muita categoria e consciência do que estava fazendo. Um belíssimo gol que abriu todos os espaços que nossa seleção precisava, pois o Peru não chegava mais com tanta força ao ataque e nos permitia uma transição de velocidade e objetividade. Aos 33 minutos o Brasil fechou o jogo e mais uma vez com uma jogada de muita coletividade e com muitos jogadores participando da ação ofensiva. Após boa jogada iniciada pela esquerda, Gabriel Jesus entrou na área e teve calma suficiente para assistir o “ponta” Renato Augusto que finalizou com extrema categoria no canto direito baixo de Gallese. Dois gols de vantagem, futebol dominante mais uma vez e a certeza de que tudo que aconteceu durante o jogo foi fruto de um desenho feito anteriormente.
Foi o jogo mais difícil que o Brasil teve sob comando de Tite e por isso considero a vitória mais importante de todas, até mesmo do que o passeio sobre a Argentina, pois entendo que ainda precisamos ver essa seleção em dificuldade para entenderemos de fato qual a maturidade que já conseguimos alcançar em tão pouco tempo. Será interessante ver o Brasil atrás do placar em algum momento para saber o que Tite trabalha com seus comandados para o momento em que é necessário se arriscar mais. Está bastante complicado de ver isso acontecer, já que essa seleção não toma gols e quando tomou (o único), já estava com a vitória praticamente consolidada.
O destaque do jogo não foi citado acima. Seria fácil elogiar o garoto Gabriel Jesus que fez um gol e deu assistência para outro, assim como é sempre tranquilo destacar Neymar como o responsável por chamar o jogo, ou Coutinho que está ajudando na criação e na saída de bola. O nome do jogo ontem foi outro, foi de um jogador que já venceu tudo na vida e que agora vive uma experiência bastante diferente em sua carreira. Saiu do Barcelona que tem o estilo de jogo mais ofensivo do mundo para a Juventus, o oposto exato, e que sempre trabalha primeiro a parte defensiva antes de pensar em atacar. Com poucos meses de Itália Daniel Alves já é outro jogador e mostra uma incrível capacidade de adaptação ao novo desafio, sempre participando de forma incisiva na frente e conseguindo fechar os espaços atrás com competência. O jogador rouba a bola em quantidades absurdas e suas antecipações sempre acabam resultando em contra ataques preciosos para o Brasil. Excelente saber que um jogador que até pouco tempo atrás era muito criticado e alguns já davam como fora da seleção está em processo de crescimento e ainda tem muita lenha para queimar. Para não falar que não há nada de ruim nessa notícia, percebemos que não temos nem um jogador minimamente capaz de substituí-lo no caso de necessidade. Só de pensar em Fagner assumindo a posição já desperta um pequeno receio de ver o equilíbrio dessa seleção ser afetado. Por outro lado, penso que se isso acontecer, certamente pode ser a chance de Tite provar com outro argumento que o coletivo sempre irá prevalecer sobre o individual. Vamos aguardar.
Ao final de 12 rodadas e faltando apenas 6 para o final das eliminatórias, temos a seguinte classificação:

A próxima rodada terá um confronto de gigantes, com o Brasil visitando o Uruguai que não terá seu maior craque, Luis Suárez, suspenso por ter recebido o segundo cartão amarelo. Um empate garante o Brasil na Rússia e uma vitória praticamente determina o “título” da competição, pois os demais jogos certamente não serão responsáveis por derrubar a seleção de Tite. Os confrontos das duas próximas rodadas serão somente em março de 2017 e até lá poderemos ter outros nomes aparecendo na lista de convocados, já que estaremos em início de temporada no Brasil e no auge das disputas europeias e de suas principais competições.
A Argentina, em crise absoluta até 24 horas atrás, venceu a Colômbia e recebe o Chile em casa na próxima rodada. Se vencer, pode terminar em 3º lugar na classificação. Decidido mesmo só temos duas coisas: Venezuela e Bolívia não irão para a Copa do Mundo e dificilmente as 5 seleções mais bem classificadas não sairão das 6 primeiras posições da tabela atual.
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