Cruzeiro respira aliviado, Atlético desinteressado e América de volta à lanterna.
- Frank Moreira
- 7 de nov. de 2016
- 6 min de leitura
Não vi o jogo do América contra o Santa Cruz, em Recife. Imagino que tenha sido ruim, ou péssimo, até. Penso que o melhor jogo entre os dois piores times do campeonato jamais poderá ter sido um espetáculo interessante. O Santa Cruz venceu por 1x0 e com isso devolveu a lanterna ao time mineiro para mais uma rodada. Talvez na próxima troquem de novo e isso se repita até o final do campeonato, mas o fato é que as duas equipes estão rebaixadas há muito tempo e nada que pudessem mostrar de melhoria nas últimas rodadas seria suficiente para dar uma gota de esperança para os torcedores. Melancólico, mas verdadeiro e mais uma vez contribuindo para o grande questionamento que surge ano após ano: qual o verdadeiro papel das equipes sem estrutura quando sobem para a série A do Campeonato Brasileiro? Devemos pensar em algo que permita que essas equipes não subam, ou que se mantenham com mais força entre a elite dos clubes? O América caiu para a série B no exato momento que subiu no ano passado e o título mineiro desse ano serviu somente para aumentar a frustração de sua torcida, que imaginava uma sorte melhor em 2016. Ano que vem é provável que tenhamos mais um ano de luta para subir e, se conseguir, já pensar na queda em 2018.

Fonte: www.espn.com.br
No Mineirão o Cruzeiro praticamente afastou o fantasma do rebaixamento com uma vitória maiúscula contra um frágil Fluminense, por 4x2, de virada. A equipe azul começou o jogo mostrando as mesmas deficiências que marcaram o time durante todo o ano: dificuldade de jogar em casa por ter que propor o jogo, falta de objetividade na troca de passes ofensivos e muito, mas muito espaço para os contra ataques adversários. Em um deles, inclusive, surgiu o gol do Fluminense, logo no início do jogo, com falha bizarra no passe de Henrique no meio de campo e uma arrancada de Richarlisson que finalizou cruzado sem chances para Rafael. Nesse momento do jogo o tricolor carioca já tinha obrigado o goleiro cruzeirense a fazer ao menos um milagre em chute de longe de Cícero e já tinha perdido chance incrível quando o mesmo Richarlisson preferiu chutar uma bola sem ângulo ao invés de passar para o meia tacante Aquino, sozinho na frente do gol.
Após o susto inicial e a pressão da torcida, o Cruzeiro acordou. Logo em seguida conseguiu seu gol de empate após boa jogada de Henrique que achou Sóbis e William dentro da área para tabelarem e o ex-atacante do Fluminense poder concluir com força no ângulo esquerdo do goleiro carioca. Com o empate a raposa foi para cima e no último lance do primeiro tempo conseguiu a virada em jogada muito improvável. Alisson fez um giro de habilidade na lateral esquerda do ataque e bateu forte para dentro da área e William, com uma cabeçada de muito recurso viu a bola ganhar altura e cair no canto esquerdo alto do gol tricolor. O primeiro tempo terminava com os mineiros muito superiores e com o Fluminense encolhido, tentando entender como um jogo que começara totalmente ao seu feitio havia se transformado em um massacre pelos donos da casa.

Sóbis: "me escalem só contra ex-clubes" - Fonte: www.catolenews.com
Após o intervalo o Cruzeiro aumentou ainda mais a intensidade e logo nos primeiros minutos o time celeste fez mais dois e matou o jogo. Arrascaeta em velocidade arrancou pela esquerda e conduziu a bola até a entrada da área, batendo com rara felicidade, no pé da trave direita de Julio César. Logo em seguida, o próprio Arrascaeta deu assistência para Alisson finalizar de perna direita por baixo do goleiro e fazer 4x1. Nesse momento tínhamos somente cinco minutos do segundo tempo e o Fluminense estava completamente desnorteado com a pressão cruzeirense. O restante do segundo tempo foi marcado pela troca de passes com muita tranquilidade do time azul e pela precipitação dos cariocas, que chegaram a criar uma ou outra chance, mas sem ameaçar em nenhum momento a vitória celeste. Já nos acréscimos, após cobrança de escanteio, Magno Alves desviou para o gol e a bola entrou após bater na cabeça de Ramón Ábila, que havia entrado minutos antes e nada produzido. A fase do centroavante argentino não é boa, já que perdeu a titularidade para Willian, não vem marcando gols e ainda faz contra em um jogo que já era de festa para o Cruzeiro.
Com a vitória o Cruzeiro atingiu 44 pontos e a 13ª colocação na tabela e, em teoria, pode nem precisar de pontuar mais até o final da competição para se manter na série A. O próximo jogo celeste será no em Recife, contra o Sport, na próxima semana após os jogos das eliminatórias sul-americanas. Com a derrota o Fluminense terminou a rodada em 9ª lugar e vê a vaga para a Libertadores escorrer entre os dedos. Ao final da partida o clube anunciou a dispensa do treinador Levir Culpi do comando da equipe, notícia que foi recebida com surpresa pela mídia e pelos torcedores tricolores.
O Atlético foi para o sul enfrentar o Coritiba pensando em, primeiramente manter a distância para o G3 e, se possível, ultrapassar o Flamengo. O Palmeiras e o Santos já haviam vencido na rodada e a possibilidade de título já está bastante distante, mas a vaga direta para a Libertadores ainda é a prioridade do clube. Com esse cenário, esperava-se um Atlético aguerrido e buscando a vitória com força e técnica, características do time alvinegro. O que se viu, entretanto, foi o mesmo time desorganizado e desinteressado que já deu as caras tantas vezes nesse Brasileirão. A equipe comandada por Marcelo Oliveira entrou em capo com Pratto como titular e Fred no banco, Robinho sendo poupado e com Patric no lugar de Carlos César e desde o começo do jogo percebeu-se que a criatividade da equipe tinha ficado em BH. Mesmo os baixinhos Otero e Cazáres, referências técnicas da equipe, foram dispersos e apostaram demais em jogadas espalhafatosas e pouco voltadas para o gol. O Coritiba, sabendo de suas limitações e de sua situação crítica na tabela, mostrou seriedade desde o começo e foi premiado com um gol espetacular marcado por Raphael Veiga. O meia acertou um chute de muita felicidade no ângulo superior direito de Victor que voou em direção a bola e não conseguiu alcançar. Com o gol no início do segundo tempo o Coxa conseguiu controlar as ações da partida e viu o Atlético tentar, em vão, criar mais oportunidades de empatar o placar. Robinho e Fred entraram no jogo e pouco acrescentaram ao jogo e ainda viram o lateral Patric cometer pênalti em Kazim e Kléber, o Gladiador, converter a cobrança e fechar o placar.

Fonte: www.espn.com.br
Essa partida do Atlético foi absolutamente padrão, no ponto de vista de muitos de seus torcedores que já criticam a forma como Marcelo Oliveira vem comandando a equipe. O treinador vem sendo alvo de muitas avaliações negativas pela mídia e pela torcida por todos saberem que não há melhor elenco no futebol brasileiro e ainda assim o time mineiro não consegue emplacar e passar confiança para quem assiste seus jogos. A despeito disso, Marcelo e seus comandado estão na final da Copa do Brasil e podem ser campeões em situação semelhante à do Palmeiras no ano passado. Futebol ruim, críticas, deficiências táticas e ainda assim com uma conquista em nível nacional para ser comemorada no final da temporada. Não seria nada demais se o desfecho fosse o mesmo, com o time sendo campeão e com o treinador sendo demitido antes de disputar a libertadores no ano seguinte.
Com a derrota o Atlético se manteve na quarta colocação, mas viu a diferença para o terceiro, nessa rodada o Flamengo, subir para três pontos. Já são 10 de desvantagem para o líder Palmeiras e já na próxima rodada quando se enfrentam, os paulistas podem se tornar inalcançáveis na tabela. O jogo será na Arena Independência, na quinta feira dia 17/11. O Coxa, por sua vez, viu a série B se distanciar mais um pouco e agora está a três pontos do Z4 com um jogo "fácil" em casa, contra o Santa Cruz na próxima rodada.
Por motivos completamente diferentes, Cruzeiro, Atlético e América passarão por momentos semelhantes de reestruturação ao final da temporada. Um deles por ter que se adequar à série B, o outro por ter que se reconstruir para voltar a ser vitorioso e o terceiro por precisar entender como usar todo o seu poderio de elenco para chegar ainda mais longe.
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