Um choque de realidade para a torcida azul
- Frank Moreira
- 27 de out. de 2016
- 4 min de leitura
A noite foi de desespero para a torcida azul que lotou o Mineirão na expectativa de ver o Cruzeiro continuar o conto de fadas de salvar a temporada com o importante título da Copa do Brasil. O Grêmio venceu por 2x0 e foi somente por isso pela simples motivo de não ter tido a vontade de ganhar de mais, pois dominou o jogo completamente e preferiu cadenciar a partida do que explorar as fraquezas cruzeirenses e resolver em 100% a questão da classificação para a final.
Falo assim por saber que futebol é futebol e que enquanto o juiz não terminar o jogo da volta ainda haverá a chance de algum milagre inesperado para o Cruzeiro. Inesperado sim, pois é preciso produzir o básico para poder esperar que a sorte apareça nas horas de dificuldade e ontem o time celeste fez muito menos do que isso.
Mais de 50 mil torcedores fizeram uma festa digna da grandeza do jogo e, mais uma vez, a sensação que fica é que esse elenco não tem sequer a condição emocional de saber se comportar em um ambiente desses. O tricolor gaúcho, também muito acostumado a decisões, cresceu muito e a atmosfera do Mineirão lhe fez jogar com a grandeza que sua camisa representa e percebeu-se que alguns jogadores possuem todos os predicados para serem destacados como diferenciados. A dupla de zaga gaúcha é excelente e Pedro Geromel praticamente não falha - não se viu um chutão sem direcionamento, nenhuma furada, nenhuma espirrada de bola perigosa e a firmeza dele e de seu companheiro anularam as investidas de Ábila com muita facilidade. Pelo meio o volante Wallace foi o termômetro do time na saída de bola, pois parecia onipresente e com uma firmeza impecável. Não houve sequer a necessidade de se utilizar de truculência para conseguir parar as investidas azuis e sua saída de jogo era sempre direta e com muita precisão. Na frente Douglas e Luan desmontaram a defesa celeste com toques rápidos, dribles curtos e objetivos. O veterano meia deu cadência quando necessário mas também soube acelerar e virar o jogo abrindo espaços e criado oportunidades, além de ter chegado como homem surpresa para a finalização do segundo gol. Luan foi o melhor em campo e além de ter marcado um golaço ainda chamou a responsabilidade da partida o tempo inter. Driblou, marcou, lançou, prendeu a bola, tabelou com velocidade e sempre manteve a defesa cruzeirense em pânico. Era triste ver seus marcadores recuando de forma amedrontada em frente a suas arrancadas, sempre com verticalidade e objetividade. O resumo do Grêmio é que o futebol de ontem nem parecia de verdade e digo isso nem nenhum menosprezo ou desmerecimento, mas não me lembro de ter visto o time gaúcho em uma exibição de gala, neste ano, como a de ontem.

Fonte: www.oliberal.com.br
Pelo Cruzeiro uma enorme quantidade de confirmações que não surpreendem a ninguém, mas que acabam deixando um gosto amargo na boa dos torcedores por imaginarem que, mesmo com as conhecidas deficiências, o time celeste estava embalado após boas atuações nos jogos anteriores. Confirmou-se que os dois laterais são inofensivos ofensivamente e que defensivamente estão sempre no limite. Confirmou-se que não há substituto para o capitão Henrique e que na sua ausência até mesmo o eficiente Romero fica um pouco perdido. Confirmou-se que Robinho quando marcado de perto acaba se precipitando e forçando muito mais do que o aceitável. Confirmou-se que Arrascaeta é realmente um vaga-lume na sequência dos jogos e que nem sempre vai conseguir ser o diferencial. Confirmou-se que Rafael Sóbis não chega a ser nem um espectro do jogador que já foi e que até hoje, desde sua estreia, fez somente uma partida que mereça destaque de verdade. Confirmou-se que Ábila é um "caneleiro" e que o Cruzeiro precisa entender que ele não é versátil e nem pivô e sim um empurrador de bolas para dentro, mas que com um time que cria chances pode sim ser um destaque. E por fim, confirmou-se que o elenco atual não tem absolutamente nenhum jogador no banco de reservas que possa entrar em campo e mudar a cara da partida, a menos que seja para piorar. Nem Alisson, que já teve grandes exibições pelo time celeste, tem mais a influência nos jogos que já teve no passado.
Isso não se chama perseguição e nem pessimismo. Não mudo uma vírgula dos meus comentários anteriores sobre o bom trabalho de Mano Menezes e sobre o fato de o Cruzeiro ser um "gigante incontestado", como a própria torcida diz, mas é preciso ter a objetividade de entender que em alguns momentos é preciso apagar tudo que foi escrito e começar a se escrever novamente. Quando uma ideia de jogo, de time, de elenco ou até mesmo de tática não rende aquilo que se espera, é preciso ser arrojado e trabalhar de forma diferente, tirar os jogadores da zona de conforto, aumentar o calor que estão sentindo. Não para amedrontar ou demarcar território, mas sim para que eles entendam o tamanho daquilo que representam.
Mais um ano vai terminar sem que o Cruzeiro conquiste um título e isso nem é o mais importante, pois já aconteceu milhares de vezes e acontecerá outras milhares. o que a torcida celeste quer é uma nova perspectiva, uma renovação, ares novos, jogadores novos, espírito novo. Imagino que Mano pense assim também, mas sei que só saberemos disso quando o ano terminar e o planejamento para 2017 aparecer para a China Azul.
Em tempo, caso uma hecatombe aconteça e o Cruzeiro se classifique para as finais, saberei dar valor a isso, mas passarei muito longe de me iludir mais uma vez.
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