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House, M.D - Inteligência, acidez e personalidade dominante

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 13 de out. de 2016
  • 8 min de leitura

Semanas atrás eu falei que voltaria a escrever sobre as séries e o fascínio que elas exercem sobre nós. O foco do POST era sobre a forma desenfreada na qual nos alimentávamos desse novo vício que parece estar ainda em fase de aprimoramento, pois dá para perceber que algumas das novas séries reúnem todos os elementos necessários para fidelizar um fã de tal forma que ele passará várias horas dos seus dias imaginando e discutindo com os amigos o que está por vir e qual o rumo que sua série predileta irá tomar.


Não vim falar do que vem pela frente e sim iniciar uma série de posts que detalharão, sob minha ótica, alguns dos seriados mais completos e emblemáticos que já tive a oportunidade de assistir. Meu critério não é popularidade e sim o efeito que a trama causou na minha vida e na minha personalidade, já que isso aconteceu muito mais do que eu gostaria, confesso. Falarei inicialmente daqueles que já terminaram e por isso posso emitir uma opinião sobre tudo que aconteceu, sem precisar especular sobre sucessos ou fracassos que estejam por vir.


O seriado escolhido para estrear esse trabalho é HOUSE, M.D. Série de 2004 com 8 temporadas completas e 177 episódios geniais para se acompanhar. Nos papéis principais da produção tínhamos o médico chefe de um departamento especializado em diagnósticos diferenciais Gregory House (Hugh Laurie), a chefe geral do hospital, Lisa Cuddy (Lisa Edelstein), seu melhor amigo e também médico James Wilson (Robert Sean Leonard) e sua equipe com a qual contou durante toda a duração do seriados, com os fixos Alisson Cameron (Jennifer Morrisson), Robert Chase (Jesse Spencer) e Eric Foreman (Omar Epps). Além deles, lembro de outros médicos que estiveram em menos temporadas, mas merecem ser lembrados. Remy Hadley “Thirteen” (Olivia Wilde), Chris Taub (Peter Jacobsen) e Lawrence Kutner (Kal Penn) entram durante as temporadas e conquistaram lugar de destaque.


Fonte: https://bizarroepitoresca.wordpress.com


A história de House é dividida em duas vertentes sensacionais. A primeira é a visão médica do espetáculo. Como o protagonista é especializado em diagnósticos diferenciais temos a oportunidade de conhecer alguns dos casos mais espetaculares do mundo da medicina. Pessoas que não sentem dor, doenças auto-imunes, alergias incríveis, contaminações raríssimas e uma visão peculiar da relação médico paciente. Ao mesmo tempo que tínhamos todos os personagens trabalhando para humanizar o relacionamento com as vítimas dos casos, tínhamos House trabalhando o conceito de que somente uma coisa é verdadeira nessa interação: “todo mundo mente”. A frase dita repetidamente por House é a síntese da análise médica que o seriado nos propõe, pois invariavelmente a descoberta das curas e tratamentos se dava após a conclusão de que os pacientes omitiram ou mentiram quando admitidos pelo hospital. A mentira, inclusive, faz com que o médico e sua equipe atuem de forma bastante questionável para conseguir as informações que realmente os ajudarão a chegar nas respostas necessárias. Invadir propriedades privadas, simular sintomas e aplicar tratamentos sem a autorização dos pacientes são somente algumas das ferramentas que House e sua turma se utilizam para salvar vidas. Já li uma vez que todos os casos apresentados em House foram clinicamente validados e que as doenças e algumas das situações são todas reais e, de fato, estudadas pela medicina. Isso traz um pouco mais de veracidade ao seriado e não cria em nós reações de questionamento lógico que temos ao assistir, por exemplo, a um seriado policial, que desenha a obviedade de um assassinato e do trabalho pericial como se tudo em uma cena de crime foi cosmicamente colocado ali para ajudar na solução de um mistério.


O outro lado de House é o melhor. Vaje que só elogiei a forma como a medicina é tratada no seriado e isso por si só já poderia o credenciar como uma boa obra. O lado psicológico é o ponto forte e precisa ser muito bem entendido. Não estou falando dos romances e das relações interpessoais, que são sim complexas e parte ativa dos contextos criados, mas sim da análise comportamental do protagonista e do efeito desse seu comportamento nos demais aspectos ao seu redor. House se baseia em perguntas e respostas, na solução de quebra-cabeças, como o próprio seriado diz por muitas vezes. Tudo que acontece ao redor de House tem uma razão de acontecer e está sempre relacionada a se obter as respostas para satisfazer o espírito investigativo do médico. Muito já se disse de a inspiração do seriado ser em Sherlock Holmes, pela forma prática, analítica e matemática como o personagem principal trabalha e não há como negar que realmente temos semelhanças absurdas. House, em última análise, é um investigador e tanto ele como sua equipe trabalham para reunir as evidências necessárias para se chegar em qualquer conclusão. Um aspecto que realmente precisa ser levado em conta é a postura do personagem, pois não há como ser mais dominante do que Gregory House. Por trás de todas as maluquices e teimosias, fraquezas e vícios, House é um doutrinador. A forma como interage com as demais pessoas ao seu redor serve de ponto de apoio para muita gente na vida real e eu mesmo posso dizer que muito de meu comportamento (especialmente no âmbito profissional) vem daí, pois House nos mostra que é necessário ser especialista e falar como um, mesmo que por muitas vezes você precise atropelar alguém para fazer sua vontade ou ambição prevalecer. House nos ensina e sermos donos da verdade e morrermos abraçados nelas, sem sofrer ou sem perder a “fé” de que estamos corretos – isso não é necessariamente uma coisa boa de se aplicar na vida, mas se usada com bom senso, nos leva para lugares que não imaginávamos que chegaríamos. A fé também é um tema recorrente e o médico não perde uma oportunidade em se apresentar como um não religioso, metade ateu e metade revoltado com Deus. Por dezenas de vezes vimos episódios em que o ceticismo de House confrontava de forma muito violenta a crença de seus pacientes e até mesmo de seus ajudantes (Chase, por exemplo, era de família muito católica e sempre se mostrou bastante religioso). O questionamento de House sempre caía na falta de raciocínio matemático das pessoas em perceberem que suas doenças e seus males, em geral, eram causados pela pobreza de suas escolhas ou pela sua irresponsabilidade, assim como combatia ferozmente a ideia de que a cura ou o tratamento de alguma doença poderia ter a influência de Deus, mesmo que algo “mágico” acontecesse durante o processo. As relações de House com Cuddy e Wilson foram pontos fortes no seriado. A primeira, sua chefe, e a única que conseguia minimamente segurar seu ímpeto acaba se tornando um amor de verdade e a importância dela em sua vida se torna mais evidente quando House está nos momentos mais malucos de suas alucinações e acaba fantasiando uma relação inexistente com sua amada. Wilson é o melhor amigo que sempre tenta trazer o melhor de House para cima, pois sabe que o médico é depressivo e tem uma estranha necessidade de se fazer sofrer para comprovar suas teorias malucas sobre a vida e as pessoas. Por diversas vezes percebemos que o único sentimento constante de House foi exatamente a amizade com Wilson e somente com ele o médico podia contar em todos os momentos e em todas as confusões que criou.



Fonte: http://quotesgram.com/


Muitos episódios foram marcantes, pois traziam uma carga emocional muito forte e acabavam desconstruindo o muro que House tinha ao seu redor. Dentro desses, alguns foram especiais de forma diferenciada e merecem ser lembrados (sempre que tenho tempo eu pinço alguns desse para relembrar o motivo da série ser tão diferenciada):


Temporada 1, episódio 5 – Criticado de uma forma ou outra

Esse é um dos episódios em que House se coloca em um embate com uma paciente sobre a existência de Deus. Como citado anteriormente, Chase, que era muito religioso, se afeiçoa muito com a paciente e engrossa o “time” de Deus. House, como sempre, desconstrói durante todo o episódio sua existência e sob nenhuma hipótese pensa em aceitar que Deus ou qualquer outra figura espiritual tenha influência no tratamento e cura de um paciente.


Temporada 1, episódio 16 – Gorda

Esse episódio é sensacional por tratar de um dos assuntos mais recorrentes dos últimos anos: a busca pela estética adequada. Uma criança vira paciente de House e seu problema com o peso é o grande responsável por muitas complicações na sua vida. Sua vontade de se adequar esteticamente aos padrões impostos pela sociedade se transformam em causas de doença e todo o seu tratamento apresenta uma disputa de argumentos que defendem e refutam a ideia de que as mulheres precisam aparentar aquilo que as outras pessoas esperam e não aquilo que lhes é confortável.


Temporada 2, episódios 20 e 21 – Euforia

São dois episódios sequenciados e que trazem o personagem Foreman se tornando vítima de uma doença misteriosa que ataca os nervos do paciente de forma muito agressiva e degenerativa, provocando enormes dores, cegueira e uma crise de euforia inexplicável, entre outras coisas. Os episódios mostram a busca incessante da equipe em encontrar a peça faltante do quebra-cabeça e aí temos a oportunidade de ver como cada um deles reage ao perceber que podem perder um membro da equipe. House, como era de se esperar, acaba sendo o ponto de desequilíbrio na história por não aceitar nem por um segundo que não conseguirá desvendar o mistério e salvar a vida do pupilo. A força do episódio está na forma inteligente como ele mostra a piora de Foreman sendo acompanhada pela mudança de comportamento dos outros personagens.


Temporada 1, Episódio 21 – Três histórias

Talvez o melhor episódio da série. House é um “aleijado” que anda sempre mancando e sofre com dores intermináveis em sua perna que teve uma parte de um músculo necrosado retirado. Cuddy determina que House precisará substituir um médico que está sempre doente na apresentação de uma palestra a novos médicos do hospital e ele vai com a tradicional má vontade que lhe é peculiar. O que começa como uma bizarra apresentação de três casos correlatos e uma tentativa insensível de interação com o público, termina como a apresentação do que realmente aconteceu com sua perna e o público descobre muito do real motivo de House ser tão ranzinza e rancoroso, além de nos dar algumas boas razões para que ele sempre defenda seu ponto de vista com a maior intensidade possível.


Temporada 4, episódio 16 – Espelho, espelho meu

Nesse episódio temos um paciente que nos permite obter a resposta mais interessante do seriado. Quem é mais dominante? House ou Cuddy? A doença apresentada faz com que o paciente sempre espelhe seu comportamento na presença mais dominate do ambiente e no final a cena que nos responde a pergunta anterior é simplesmente épica e hilária.


Temporada 3, episódio 17 – Posição fetal

Um dos mais emocionantes e emblemáticos episódios. Uma grávida na casa dos quarenta anos resolve levar adiante a última real possibilidade de ter um filho por meios naturais. Complicações durante o processo fazem com que haja risco de vida para ambos e House trabalha fortemente para convencer a mãe de faze rum aborto considerando que o feto não é ainda uma pessoa formada e que a sobrevivência do adulto deve ser a escolha óbvia em casos como esses. Uma cena no final do episódio, durante a cesariana, proporciona um arrombo de sentimentos em todos quando o pequeno feto segura um dedo do protagonista e nele causa um efito inédito aos fãs da série. House é humano e todos pudemos ver isso nesse episódio.


Eu não só recomendo que você que ainda não assistiu House comece a fazê-lo imediatamente, como recomendo aos que já assistiram que façam como eu. Entrem no Netflix ou na internet e escolham a dedo um dos episódios acima (entre outros) para sentirem novamente o que a primeira impressão lhes causou. House é uma série que traz a experiência completa para os fãs e provoca neles uma reflexão sobre com qual postura eles devem encarar a vida.


  • Série: House, M.D.

  • Ano de estreia: 2004

  • Ano de término: 2012

  • Episódios: 177

  • Criada por: David Shore

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