Casos de Fair Play - Cartão verde é utilizado na Série B da Itália

No futebol, os cartões amarelo e vermelho estão sempre associados a uma punição aplicada a um jogador. Violência, indisciplina, falta de espírito esportivo e desrespeito são algumas das caixas que proporcionam ao árbitro uma medida corretiva com o uso dessa ferramenta. Ser amarelado é sempre um risco em uma partida, fora o fato de que pode lhe causar uma suspensão por acúmulo de cartões recebidos. Ser expulso, nem se fala. Suspensão de no mínimo um jogo e julgamento para avaliar se cabe algum agravamento no gancho.

Na segunda divisão da Itália uma novidade está sendo implementada como teste e certamente pode trazer algo novo ao futebol. Em casos nos quais os jogadores se comportem muito bem ou tenham atitudes muito éticas e comprometidas com o espírito esportivo, podem ser distribuídos cartões verdes. A inovação tem como finalidade trazer algo positivo ao futebol e incentivar os jogadores a reclamarem menos e serem mais honestos quando do erro de algum árbitro. Veja o lance:

O primeiro caso aconteceu nesse fim de semana em jogo válido pela sétima rodada da Série B italiana. Vicenza e Virtus Entella se enfrentavam quando o atacante Cristian Galano resolveu chutar para o gol e a bola foi para fora. A arbitragem marcou escanteio como se a bola tivesse desviado em algum adversário e isso gerou muita reclamação da equipe do Entella. Ao ser perguntado se a bola teria desviado no defensor, Galano respondeu com toda a objetividade do mundo: “Não”. O juiz, sem titubear, apresentou o cartão verde ao jogador que foi aplaudido em campo pelos adversários. O jogo seguiu normalmente sem mais nenhum “incidente” dessa natureza.

Andrea Abodi, o presidente da Série B da Itália, foi bastante filosófico (mas correto) ao comentar sobre a tentativa de se trazer algo novo para o futebol:

“O cartão verde é apenas um prêmio simbólico. Pode ser algo muito simples. A coisa importante nele é reconhecer quando um profissional tem uma conduta exemplar dentro de campo”.

“Nós acreditamos que o futebol precisa de mensagens positivas. Muitas vezes este esporte é envolvido em controvérsias que afastam as pessoas dos estádios”.

A ideia da organização do campeonato é que a nova medida, iniciada no final do ano passado, premie o jogador com mais cartões verdes ao final da temporada. O prêmio ou reconhecimento ainda não foi definido.

Fonte: http://zap.aeiou.pt

Refletindo sobre a tentativa é impossível não reconhecer o ineditismo e a boa intenção por trás da proposta. O futebol vem se tornando um esporte marcado pela truculência e pala falta de conduta ética dos atletas. Cada vez mais vemos jogadores e treinadores criando para si rótulos terríveis que estão sempre associados à capacidade ímpar de praticar o anti-jogo. Não me iludo de achar que um cartão verde e uma premiação no final do ano serão responsáveis por fazer uma equipe colocar em risco um resultado para apresentar um comportamento ético e honesto. Já tivemos casos de jogadores que mostraram algo diferente do que estamos acostumados, mas é fato que foram fatos isolados e pensar que isso se tornará a tônica de um dos esportes mais competitivos do mundo é um pouco de inocência. Ainda acredito muito mais no uso do recurso tecnológico como ferramenta de auxílio para a arbitragem e em punições mais severas aos jogadores que não contribuem para o bom andamento de uma partida.

Apesar do ceticismo, jamais deixaria de louvar a tentativa. Essa e qualquer outra que venha a ser experimentada, pois posso (e adoraria) estar enganado e uma mudança bem encaixada poderia trazer ao futebol uma nova visão de comportamento que refletiria diretamente na satisfação do público. Como essa satisfação não é, hoje, o principal objetivo de quem faz futebol, provavelmente será somente mais uma iniciativa vazia que gerou algumas manchetes e deve cair no esquecimento em poucos dias.

Vale a pena lembrar de alguns momentos marcantes do futebol nos quais jogadores tiveram epifanias morais e conseguiram resgatar o que há de melhor no comportamento do ser humano. Foram poucos e isolados, mas são lances que ficarão eternizados na história do esporte: