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Venda dos mandos de campo: verdade ou consequência

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 8 de out. de 2016
  • 6 min de leitura

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Não é exatamente uma novidade alguns times mandarem seus jogos em praças diferentes das de origem nos jogos válidos pelo Campeonato Brasileiro. Vemos com frequência times de Rio e São Paulo levarem suas partidas para os estádios de todo o Brasil para conseguirem grandes públicos e uma consequente maior arrecadação. Excetuando um ou outro comentário sobre essa prática e sobre o desgaste que a logística traz para os times, ninguém costuma ver nada demais nisso e, pensando de forma racional, é interessante ver a torcida de alguns dos maiores times do Brasil ter a oportunidade de ir ao estádio ver de perto o seu time, mesmo estando a milhares de quilômetros de distância de casa.


Essa estratégia dos times é entendida pelos adversários e em poucas situações vemos alguma reclamação específica dos times que se sentem prejudicados. Mas o que acontece quando esse tipo de atitude parte de um time que não tem como objetivo aumentar sua arrecadação através do público no estádio e sim somente receber uma boa luva pela “venda” desse mando de campo? E quando percebemos que algum time pode ser diretamente prejudicado ou favorecido pela decisão de um terceiro em levar seu jogo para outra praça? Esse é o momento no qual as reclamações vão ganhar força e a ética nas relações esportivas serão colocadas em xeque.


Neste fim de semana teremos o líder Palmeiras visitando o América MG e o jogo não será na Arena Independência, pois o time mineiro vendeu a partida para que ela seja disputada no Estádio do Café, em Londrina (PR). O ex-jogador Rony, que jogou no Fluminense e no Cruzeiro, foi o empresário responsável por proporcionar aos times a oportunidade de disputar o jogo nesse estádio e essa atividade já é desempenhada por ele há muito tempo como uma excelente fonte de negócios. O time mineiro é o lanterna da competição e parece ter abandonado completamente qualquer tipo de esperança em sair da situação que está, pois com a escolha de mandar seu jogo em outro estado provavelmente verá a torcida alviverde tomar conta das arquibancadas e com isso jogará um jogo “fora de casa”.


Fonte: www.globoesporte.com


O Atlético MG se sentiu prejudicado com isso e veio a público através de seu presidente, Daniel Nepomuceno, para apontar o “favorecimento” ao Palmeiras na rodada. Os times são dois dos principais candidatos ao título e o time Paulista tem quatro pontos de vantagem no momento. Uma vitória do Palmeiras nesse jogo que “ganhou de presente em casa” pode colocar a diferença em sete pontos e três partidas. Como faltarão somente nove para o fim da competição, estamos falando de uma vantagem que pode garantir o título aos paulistas.


O grande questionamento não parece ser sobre mandar os jogos em outras praças e sim somente quando essa decisão reflete em algum prejuízo a um ou mais times e nossa reflexão deve partir daí. Quando realmente há o prejuízo? Quando podemos afirmar com certeza que um time está sendo beneficiado ou não? A partir de que ponto do campeonato podemos entender que esse tipo de manobra pode afetar o resultado final da tabela? O problema está aí, na subjetividade das interpretações e no oportunismo dos clubes em reclamarem quando as coisas não são a seu favor e de fingirem de mortos quando são os seus bolsos que se enchem de dinheiro.


Veja o caso do Atlético MG, por exemplo. O time mineiro é o reclamante do momento, mas toma algumas decisões pontuais com base em seu interesse financeiro que trazem influência direta em algumas partidas do Brasileirão ou da Copa do Brasil. Jogar no Independência ou no Mineirão jamais pode ser considerado a mesma coisa, pois não há somente uma pessoa no mundo que não considere a arena do Horto como um alçapão responsável por intimidar em muito os adversários que lá vão jogar. Ir para o Mineirão é apostar em uma arrecadação maior e abrir mão de um dos fatores mais decisivos que o time do Atlético costuma ter a seu favor.


Outro exemplo é o Santos, que em muitas vezes opta por mandar seus jogos na capital paulista, abrindo mão do alçapão da Vila para ter uma arrecadação maior e, segundo seus dirigentes, permitir que os torcedores da capital “vejam o alvinegro jogar”. Ir para o Pacaembu torna o ambiente mais aprazível para os adversários e faz com que dois times rivais na tabela enfrentem um mesmo oponente em duas circunstâncias muito diferentes. Enfrentar o Santos na Vila e o Atlético no Independência é um terror para os adversários e ter a oportunidade de jogar em campos mais espaçosos e neutros, especialmente pela distância da torcida, pode ser fator de influência direta em um resultado de jogo e, consequentemente, em um campeonato.


Não estou comparando isso ao caso de América x Palmeiras, pois não têm, absolutamente nada a ver em sua natureza, mas estou usando situações reais e que sempre são citadas como um argumento para a hipocrisia da reclamação. Se os clubes assinam um regulamento que não exige que um participante determine em qual estádio mandará seus jogos, como podem reclamar quando um deles resolve mudar o mando de campo? Ao América, neste momento, não resta nada mais do que terminar seus jogos e fazer o campeonato ser o menos sofrido possível e ir jogar em outro estado. Para um time sem torcida presente como os mineiros são, pode ser o conforto que faltava. Racionalizando a situação, o dirigente americano pode pensar: “não teremos o desprazer de fazer nossos torcedores verem mais uma provável derrota contra o líder do campeonato em nossos domínios e ainda terei uma arrecadação que jamais teria se mandasse o jogo no horto. É errado? É. Desperta o desconforto de adversários dos times “favorecidos”? Desperta. É ilegal? Não, não é. E não é pelo simples fato de não haver nada que impeça o time mineiro de fazer isso em todas as rodadas até o final do campeonato, se quiser. Perguntaram-me o motivo de o América não ter feito isso quando jogou contra o Atlético, por exemplo. Respondi que não fez pelo simples fato de não querer fazer e ter o regulamento lhe suportando na decisão.


A discussão não deve ser em cima de uma decisão tomada dentro das permissões do regulamento e sim sobre o que deve ser feito para que se impeça isso de acontecer o futuro. Se fosse o primeiro ano que tivéssemos esse tipo de problema eu entenderia que a novidade merecia ser estudada e entendida, mas como isso acontece desde que o mundo é mundo em nosso futebol, a conclusão é simples demais. Isso jamais mudará, pois um regulamento de competição leva em conta, também, os interesses econômicos dos clubes participantes e restringir alguns de seus direitos pode resultar na perda de uma oportunidade ímpar de faturar mais. O mesmo Atlético MG que hoje está reclamando amanhã pode ter o interesse de mandar seu jogo em outra praça para arrecadar mais ou até mesmo prejudicar um rival, por exemplo. Poder fazer não significa que irá fazer, quero deixar claro, mas a possibilidade da tomada de decisão é o ponto fraco da questão. O futebol brasileiro não é um futebol de estádios cheios e de grandes públicos. O que vemos em nossas competições é um padrão assustadoramente previsível no qual os clubes grandes que estão brigando para não cair ou serem campeões levam muita gente ao estádio e os demais não levam ninguém. Nos times menores, temos aqueles que têm torcida e os que não tem e no primeiro grupo ainda temos aqueles em que a torcida vai efetivamente ao estádio e os outros que são movidos por boas atuações esporádicas e pelas poucas chances de enfrentar alguns times de maior expressão. Um América MG, por exemplo, sempre vai ponderar sobre quando deve privilegiar sua torcida ou seu bolso, pois a torcida não costuma trazer ao clube o subsídio que ele precisaria para ser mais dependente dela. A torcida, nesse caso, não é o maior patrimônio do clube, como acontece com alguns outros. Vender o mando não só é uma boa oportunidade como é o mais lógico a se fazer e eu não vou criticar isso enquanto o regulamento permitir, não pelo fato de achar que se está permitido é para se fazer, mas por saber que se está escrito e foi validado isso aconteceu sob a análise esportiva e econômica de todos os participantes.


A pergunta de um milhão de dólares é a seguinte: Em casos como esse de América x Palmeiras, qual o tamanho da influência do time paulista na venda do mando? Se for nenhuma, excelente e ficamos somente com o problema de o regulamente ser falho e permitir a manobra. Se houver alguma, cruzamos a linha da ética e temos um time se utilizando de uma falha do regulamento para ter um ganho específico na batalha direta contra seus rivais. Independentemente de qual resposta tivermos, a constante do problema foi a mesma e não pode ser ignorada.


Querem resolver o problema? Mudem o regulamento. Não querem mudar o regulamento para terem uma carta na manga? Poupem o ouvido do torcedor das reclamações sem sentido.










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