Feminismo 7 x 1 Machismo
- Frank Moreira
- 5 de out. de 2016
- 4 min de leitura
O site TRIVELA publicou uma matéria que é simplesmente sensacional e vem de encontro ao momento que vivemos. Quem quiser ler a opinião da turma de lá, basta CLICAR AQUI.
Como eu disse em alguns posts atrás, ninguém é obrigado a mudar a forma de pensar por influência de outras pessoas, mas todos precisam entender que não há como ignorar o processo evolutivo que estamos passando em nossas relações sociais. Ataques contra minorias, mulheres, negros e homossexuais são avaliados em uma lupa e o mundo não permitirá que os agressores saiam impunes, como acontecia no passado. Todas as esferas da sociedade possuem pessoas engajadas contra os comportamentos inadequados que o ser humano apresenta e a equipe de futebol masculino do SPARTA PRAGA acabou de dar um gancho de direita no machismo de dois de seus atletas.
No fim de semana passado o Sparta empatou em 3x3 com o Brno pelo campeonato local e o terceiro gol dos adversários, marcado já nos acréscimos, parecia bastante impedido na transmissão da partida. Após o jogo, em tom irônico, mas sem nenhum filtro, o goleiro tcheco Tomas Koubek soltou (ueria usar outra palavra e a polidez me impediu) a seguinte pérola: “mulheres pertencem ao fogão e não deveriam apitar futebol masculino”. Sobre o mesmo lance, seu companheiro de equipe Lukas Vacha também contribuiu para o ridículo e chamou a bandeira do jogo, Lucie Ratajova, de “cozinheira”. Os dois se manifestaram publicamente um dia após o ocorrido e Tomas se desculpou com “todas as mulheres do mundo” pelo seu Facebook, enquanto Lukas disse que se referiu a “um erro específico cometido por uma mulher e não a todas as outras”.
Em outros tempos as declarações dos dois jovens gênios (Tomas tem 24 anos e Lukas 27) poderiam até ter causado desconforto, mas seriam abafadas pelo clube, pelos empresários e até pela mídia. Acontece que estamos em 2016 e o mundo está de olho naqueles que ainda vivem no século passado, não permitindo que asneiras como essas sejam veiculadas e associadas, especialmente, ao esporte.
A direção do clube tcheco resolveu punir os atletas e até nisso foi inovadora e muito competente, pois estamos acostumados às penalidades protocolares do futebol que se resumem a trabalhos extras e multas no salário. Os dois atletas integrarão a rotina de treino da equipe feminina do Sparta para entenderem que “as mulheres têm muito valor fora da cozinha”, conforme declarou o diretor esportivo do clube, Adam Kotalik. Já no espírito educativo da situação, a capitã do time feminino, Iva Mocova, declarou: “Estamos ansiosas para que os garotos venham trabalhar conosco”.

A árbitra auxiliar, Lucie Ratajova - Fonte: www.dutchreferee.com
Poucos ambientes são tão machistas como o esportivo e, em especial, o futebol. Não precisamos ir longe para perceber isso, e nem sair do país. Durante as olimpíadas do Rio de Janeiro foram inúmeras as manifestações machistas dos “brasileiros” ao criticarem a seleção feminina do Brasil, que ficou sem medalha na disputa. Penso que casos como esse da República Tcheca dão um caminho interessante para serem usados como ferramentas de correção desse desvio de comportamento que tantos apresentam. É preciso que haja punição exemplar e que as pessoas que incorrem nessa estupidez precisam ser afetadas naquilo que gostam e, talvez, no bolso. O ser humano tem a péssima mania de não se constranger por ser idiota ou por falar besteira, mas certamente se policia quando sabe que o seu “crime” está sendo observado e pode resultar em penalidade.
O movimento feminista não é nem o rascunho do que muitos “especialistas” pintam por aí, pois eles têm o péssimo hábito (escolha!?) de confundirem o que a militância feminista reivindica com o que os grupos mais extremistas costumam querer, assim como confundem seus medos e frustrações por estarem sendo deixados para trás com "ações de favorecimento às mulheres".
Eu gosto sempre de reforçar aquilo que é necessário entendermos como sendo os principais pontos de debate sobre o movimento feminista e sempre recorro a alguns sites quando quero me atualizar. Hoje cito a CARTA CAPITAL como fonte das afirmações abaixo que são apenas algumas das óbvias pontuações do movimento:
“Mulheres são pessoas. Portanto, merecem direitos iguais;
Mulheres devem ganhar salários iguais aos dos homens no desempenho da mesma função;
Não é obrigação da mulher cuidar da casa, dos filhos e do marido. Os afazeres domésticos e cuidado com as crianças devem ser de igual responsabilidade para homens e mulheres;
Qualquer ato sexual sem consentimento é estupro. Nenhum homem tem o direito de dispor sexualmente de uma mulher contra a vontade dela;
NUNCA é culpa da vítima;
Assédio de rua é uma violência. A mulher tem o direito ao espaço público (e também ao transporte público) sem ser constrangida, humilhada, ameaçada e intimidada por assediadores;
A representação da mulher na mídia não pode nos reduzir a estereótipos que nos desumanizam e ajudam a nos oprimir;
A representação das mulheres deve contemplar toda a sua diversidade: somos negras, brancas, indígenas, transexuais, magras, gordas, heterossexuais, lésbicas, bi, com ou sem deficiências. Nenhuma de nós deve ser invisível na mídia, nas histórias e na cultura;
O espaço político também é um direito da mulher. Devemos ter direito ao voto, a sermos votadas, representadas politicamente e a termos nossas questões contempladas pelas leis e políticas públicas;
Papéis de gênero são construções sociais e não verdades naturais e universais. Nenhum papel de gênero deve limitar as pessoas, homens ou mulheres, ou ainda permitir que um gênero sofra mais violência, seja mais discriminado, tenha menos direitos e considerado menos gente;
Não existe tal coisa como “mulher de verdade”. Todas as mulheres são bem reais, independente de se encaixar em algum padrão;
Mulheres não existem em função de embelezar o mundo. Muito menos em função da aprovação masculina;
Amar o próprio corpo e se sentir bem com a própria aparência não deve depender dos padrões de branquitude e magreza que a sociedade racista e gordofóbica determinou como “beleza”.”
Se você discorda de qualquer uma dessas verdades ou de qualquer outra que está no texto original, tenho uma dica de amigo: abaixe as calças e pise em cima. A raiva passa na hora. É possível ser homem e não ser machista e se você se sente superior a outra pessoa pelo seu gênero, você tem sérios problemas e a sua caverna no mundo vai ficar cada vez menor.
Vou ajudar vocês a acabarem com o movimento feminista. Sigam a cartilha acima e façam com que TODAS as mulheres ao seu redor sejam tratadas com a igualdade que elas querem e vocês vão perceber que ele vai desaparecer como que em um passe de mágica.
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