“Garantido” na Libertadores, Marcelo Oliveira mostra que aposta na eficiência do time
- Frank Moreira
- 3 de out. de 2016
- 4 min de leitura
O torcedor atleticano critica muito o atual treinador de seu time. Mais até do que devia. Um episódio no almoço de hoje me fez ver isso e é até curioso como Marcelo vem sendo cobrado de forma absurda pela mídia e pela torcida. Um amigo que é torcedor do Liverpool comemorou muito a vitória do time inglês sobre o Swansea por 2x1, de virada, e sem jogar nada bem. Disse ainda que não tem nada demais em jogar mal e ganhar de 1x0 no final, pois o que vale é a vitória. Na hora eu perguntei o motivo de isso não ser suficiente no Atlético MG. A resposta foi sensacional: “mas aqui o problema é o Marcelo”.
O torcedor alvinegro está na bronca por saber que tem, talvez, o melhor elenco do futebol brasileiro, estar em posição de destaque e disputando o título no brasileirão e ainda assim não ganhar todos os jogos de goleada. Incompreensível como a torcida está insatisfeita com um time que está nas primeiras posições do campeonato desde o início, praticamente classificado para as quartas da Copa do Brasil e garantido na Libertadores 2017 – com essa de G4 virar G6 é impossível imaginar do Atlético fora da lista.

Fonte: www.espn.com.br
O time de fato não joga muito bem em todos os jogos e a sensação de preguiça que passa é maior do que o necessário. Não se vê muito um desenho coletivo na forma como o time joga e muitos dos pontos conquistados se deverem aos momentos de brilhantismo que alguns jogadores tiveram. Acontece que não há como esperar que o Atlético seja muito mais do que isso, pois os times do futebol brasileiro acabam se nivelando pelo que seus adversários apresentam e o alvinegro é um dos clubes que mais passa pela situação de enfrentar um rival fechadinho, com 11 atrás da linha da bola.
É preciso ter coerência. Todos enchemos a boca para criticar os times que enfrentam retrancas e que não têm nenhum jogador para tirar um coelho da cartola. Vemos, por exemplo, a seleção brasileira jogar e ficar batendo nas paredes adversárias e aí, invariavelmente, cobramos que os jogadores mais talentosos apareçam e consigam produzir algo assim mesmo. No Atlético isso acontece o tempo todo e o torcedor reclama que só o Robinho resolve ou só o Cazáres mostra algo a mais.
Não estou defendendo o futebol medíocre ou sem coletividade. Estou dizendo o que deveria ser óbvio para todos: é muito melhor ter isso do que não ter nada. Mais de 90% dos times do Brasil não tem nenhum jogador que pode decidir em um lance e é preciso entender que os times usam o que têm. Se dá para fazer jogadas lindas e tabelar até entrar no gol, ótimo. Se não dá, vamos cruzar 72 vezes na área e torcer para uma dar certo.
Marcelo vai carregar para sempre o que fez no passado, especialmente em 2013 e 2014, quando treinou o maior rival do Atlético e conseguiu dois títulos do Brasileiro. Nada demais nisso, mas é preciso que se faça uma análise justa ao perceber que mesmo em 2013 e 2014 o time de Marcelo sofreu muito para ganhar e os muitos pontos de vantagem no final das temporadas não refletiram exatamente o que aconteceu dentro de campo. Os títulos foram merecidos demais, mas o Cruzeiro de Marcelo, em diversos momentos, abusava das bolas aéreas e paradas sabendo que Dedé e Bruno Rodrigo salvariam no final do jogo. Muitos pontos foram ganhas assim e o espetáculo dado em alguns jogos acabou sendo o que foi lembrado após as conquistas. Muito se falou de Evérton Ribeiro e Ricardo Goulart mas era visível que o talento dos dois só podia aparecer pela aplicação tática e pela organização que a defesa e meio de campo apresentavam. O próprio Atlético campeão da Libertadores compensou muitos jogos fraquíssimos com o brilhantismo do elenco que possuía. O Atlético de hoje se assemelha muito ao Cruzeiro bi campeão, até mesmo pelo fato de o treinador não apresentar muitas variações no desenho de seus times, e tem na força do meio campo a base para o talento ofensivo aparecer. Se a defesa não é mais o ponto forte do time, o alvinegro de Minas possui um dos maiores goleiros do futebol brasileiro, certamente o melhor lateral esquerdo e uma dupla de volantes de fazer inveja a qualquer time (sem contar Leandro Donizete que ficou fora muitos jogos). Rafael Carioca e Junior Urso sabem marcar e sabem jogar, chegando com força para criarem chances de gol e finalizarem sempre que possível. Na frente o time é o mais forte do país e tem no quarteto Cazáres, Robinho, Maicosuel e Fred (ou Pratto) uma força de criação e finalização que enlouquece qualquer defesa.
Qual o motivo de o time não jogar melhor? Não há uma resposta perfeita, mas a sensação que tenho é pelo simples fato de não precisar. O Atlético não me parece aquele time maluco que ficava pressionando o tempo inteiro e sim um time muito mais consciente de suas necessidades e limitações, entendendo que ganhar de um, dois a zero, traz o mesmo número de pontos que golear por 6x3.
Os atleticanos ainda podem reagir e pensarem: poxa, se meu time é tão bom assim, qual a razão de eu não ser líder? A resposta é simples e fácil de entender. Palmeiras e Flamengo (times que estão na frente da tabela) também possuem bons elencos e também possuem bons ataques, além de serem bem treinados por Cuca e Zé Ricardo. Com isso os três times se mostram os únicos com condições de serem campeões e a diferença entre eles vai se dar pelos confrontos diretos e alguns pontos bobos deixados para trás, como por exemplo o fato de o Atlético ter perdido 5 dos 6 pontos que jogou contra o Cruzeiro, time bem menos qualificado e mal colocado no campeonato. O Flamengo, por exemplo, levou os 6 pontos do confronto com a Raposa.
Os jogos do Atlético contra Flamengo e Palmeiras ainda vão acontecer e serão em BH. Se não fizer como fez contra o Corinthians no ano passado, quando foi atropelado por 3x0 dentro do Independência, certamente o time mineiro poderá terminar a competição disputando ponto a ponto com os adversários diretos.
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