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Aldo se aposenta. Definitivo ou um “apelo” por mudanças?

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 28 de set. de 2016
  • 4 min de leitura

Uns dias atrás eu escrevi sobre o que poderia estar acontecendo para fazer com que o MMA perdesse tanto a graça. Falei sobre as mudanças na postura dos organizadores, dos lutadores, dos critérios e das condições do espetáculo. Disse também que se o MMA quisesse voltar a crescer e se manter um esporte tão popular como o que se tornou um dia seria necessário investir nos medalhões. Seria necessário voltar a fazer alguns de seus principais nomes tomarem gosto pelo esporte novamente e fazer deles os semideuses que já foram um dia.


Como que em uma resposta ao meu post (modesto?!), José Aldo deu um direto no queixo do UFC e anunciou sua aposentadoria aos 30 anos. Uma surpreendente declaração que não escondeu nem por um segundo toda a insatisfação do grande ex-campeão do peso pena. Aldo falou sem frescura e, mesmo com alguma diplomacia, foi muito agudo ao deixar claro os motivos pela sua tomada de decisão. Dana White já se manifestou e disse que não permitirá que o atleta siga com a ideia e que o convencerá a desistir da aposentadoria. Abaixo alguns trechos de suas declarações:


“Vi o que o Dana falou. Desde que eu perdi eles prometeram uma coisa para mim. Vinha no meu pensamento que eu não queria nem mais lutar MMA, chegou uma hora que chegou no meu limite.”


“Eu nunca lutei por dinheiro, queria fazer um trajetória boa e deixar um legado na categoria. Queria me aposentar como único campeão peso-pena, mas não foi dessa maneira. Sou campeão interino, estou lá em cima, mas estou realmente estou de saco cheio.”


“Hoje de manhã estava conversando com o Dedé... Se eles oferecerem qualquer coisa... Para mim, não é questão de dinheiro, eu não aguento mais. Chegou no meu limite. Se ele (Dana) gosta de mim e da minha família como falou, só peço que ele me libere normalmente, não quero briga com ninguém.”


“Desculpe a expressão, mas não sou puta para me vender. Sou homem. Meu pai me fez assim.”


Fonte: www.superlutas.com.br


Aldo era o maior campeão do UFC até ser derrotado por Connor McGregor no UFC 194 após somente 13 segundos de luta. O irlandês chocou o mundo com a vitória, mas especialmente por ter tido uma capacidade absurda de promover a luta. Até aí nada demais, faz parte do jogo perder assim como faz parte um campeão ter sua revanche o mais rápido possível – basta lembrar de Anderson Silva com Weidman e Cain Velásquez com Cigano, entre outros exemplos. A revanche não veio e Aldo se incomodou muito com isso e mesmo com a vitória sobre Frankie Edgar não conseguiu que a luta fosse marcada. McGregor ganhou, perdeu, ganhou de novo e nada de um novo confronto ser marcado e, de fato, a sensação que essa decisão passa para os fãs é que o UFC está protegendo o Irlandês, dando a ele mais tempo para fortalecer sua fama e aí sim, certamente, lucrar mais com uma revanche que eventualmente viria acontecer.


O brasileiro cansou de esperar e não sei se ele está errado em pensar assim. É importante que um campeão saiba sua real importância para um esporte e que ele batalhe para conquistar o seu devido valor. O UFC tem um histórico de péssimas decisões em momentos assim e Aldo não é o primeiro a se irritar publicamente.


Outro critério equivocado do UFC também foi uma gota d’água na questão. Em 2013 o brasileiro quis subir de categoria para desafiar Anthony Pettis e foi avisado por Dana que poderia lutar desde que abandonasse o cinturão dos penas, pois estaria mudando de categoria. Aldo recuou e a luta não aconteceu. Agora, misteriosamente, McGregor poderá desafiar Eddie Alvarez, um peso leve, sem abrir mão de seu cinturão, deixando a divisão estagnada. Estranho e tendencioso mas, repito, nada diferente do que já vimos em outras vezes – o UFC molda suas decisões em uma análise fria de resultado financeiro. O que trouxer o maior espetáculo e a maior venda de PPV possível é o que será feito. A ordem, o merecimento e a ética das escolhas ficarão sempre em segundo plano.


O resumo é simples. Se Aldo realmente sair, quem perde é o UFC e o mundo do MMA que deixará de ter um dos maiores campeões peso por peso da história e que ainda tem 30 anos, ou seja, poderia manter seu reinado por quase uma década, se quisesse. O brasileiro, bem suportado e com o tempo que teria pela frente, poderia ser o dono de quase todos os recordes do esporte e certamente encerraria sua carreira de forma muito mais profissional. Isso sem contar no poder de ascendência que teria nos jovens talentos que surgem todos os dias e que sempre buscam um espelho decente para se inspirar,


Mais um passo bem dado pelo UFC para fazer o MMA ficar mais sem graça ainda. McGregor sem Aldo será como um bobo da corte sem seu Rei. Viverá na sombra de um lutador melhor que ele, com mais história que ele e terá que terminar seus dias tentando descobrir se a vitória conquistada em 13 segundos foi fruto de sorte e acaso ou se realmente ele tinha o que precisava para derrotar um dos maiores de todos os tempos.

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