Ser ou não ser um pagador?
- Frank Moreira
- 26 de set. de 2016
- 4 min de leitura
Sou um jogador inveterado.... tenho que assumir. Já faz uns três anos que entrei de cabeça nesse mundo e realmente vi que é um caminho sem volta. Ainda não perdi nenhuma amizade por isso, mas sei que esse dia vai chegar. Sei que em algum momento vou falar o que não devia ou ouvir o que não quero e aí a coisa vai sair da linha.
Levo meu jogo muito a sério. Tenho uma turma fixa de 17 caras, entre amigos e colegas, que estão sempre comigo nessa.... doentes eles, também. Não conseguem se libertar e a cada semana quando colocamos o vício para trabalhar, muitos não se controlam e acabam falando besteira sem parar.
Formamos um grupo no Whatsapp. Era mais fácil do que ficar pelo Facebook expondo nossa fraqueza. Na privacidade que o aplicativo nos permite ter, vivemos nossa loucura dia após dia. Alguns perdem demais, outros nunca perderam. Sério, dois caras nunca perderam em nenhuma das vezes que apostamos e isso é sensacional. São mais de dois anos de apostas e nenhum real saiu do bolso desses dois malucos. Os demais já gastaram muita grana, muita mesmo. Tem um deles que casou e depois disso começou a perder em todas as vezes – sabe aquele lance de sorte no amor e azar no jogo? Deve estar realmente apaixonado. Um dos invictos, além de bom de jogo, é canalha. Trouxe um amigo viciado para dentro do grupo só para diminuir a chance de pagar. Coitado do amigo Leitão que veio com a proposta de diversão e agora está no fundo do poço, pagando uma vez após a outra e com seu dinheiro só acabando. Dificilmente vai sair da lama e um dia, inevitavelmente, vai precisar pedir arrego. Desistir é feio e mais caro, mas pode ser a única alternativa para que alguns se salvem.
Tem um policial na turma. É muito bom de jogo, mas já pagou algumas vezes e isso dói na alma dele. Ele não pode pegar a arma e ameaçar a turma, pois é um cara do bem e jamais faria isso, mas anda armado sim. Sempre que dá ele tira seu canivetinho de cortar nó de sacola e esbraveja falando que ali quem manda é ele. É cada figura. Sem falar no galã, forte, talvez bombado, boa pinta, quase sensual, mas que na hora do vamos ver acaba sempre mostrando que no fundo é um grande caçador de Pokémons. Temos o narrador, aquele que está sempre comentando algo, mesmo quando o grupo está morto, quando os perdedores estão curando suas feridas. É ele que desperta o sentimento de vingança em alguns e algum dia a faquinha de abrir pacote de bala pode acidentalmente cair no seu pé.
Na turma tem mais um monte de malucos. O dono do ponto de encontro. O cabeça da turma, que de cabeça mesmo só tem o nome, pois seu ponto forte é a bochecha gigante e a incrível capacidade de congelar as cervejas nos dias de encontro. E o Barba? Ah, o Barba? Esse é pagador nato e se mostrou o melhor churrasqueiro durante o ano. Mesmo quando não paga acaba indo cortar a picanha para a turma. Vocação, eu acho. Tem sempre um negão de tirar o chapéu. Sorriso fácil, terror da mulherada, avantajado, meio maluco e que tá sempre rindo de tudo. O apelido dele é Garrafa Pet, sei lá o porquê.
A turma se viciou e tirando os dois que nunca perderam, o resto sabe qual a sensação é. Vou confessar, sou um desses dois. Nessa última vez estive perto demais de pagar e cheguei a sentir o gosto da derrota na garganta – pensei no parceiro de invencibilidade e em quão chato ele ia ficar em ser o último a não pagar. Desisti de perder e fiz uma força para conseguir manter as estatísticas. O galã pagou no meu lugar. Recebeu a notícia quando estava no Independência assistindo seu Atlético se manter vivo no Brasileirão. Disse que nem ligava e que “ouvir o grito da massa” esconderia o sofrimento. Duvido. Duvido muito. Deve estar doendo até agora, especialmente por saber que dois caras nunca pagaram. Christian e Frank. Eu e Christian. Dois monstros. Duas lendas. Pelo menos até o dia em que um dos dois virar pagador. Aí o mundo vai acabar e termos que imortalizar o sobrevivente, dando a ele o título de Campeão Supremo.
Esse vício é maluco. Aconselho aos que nunca estiveram lá que fujam enquanto é tempo. Percebam que é uma jornada só de ida e que uma vez viciado, você vai morrer assim. Esse jogo vai fazer você aumentar seu pacote de internet, baixar mil aplicativos para monitorar melhor, assinar a versão paga só para ver se algo exclusivo te ajuda. Vai fazer você silenciar todos os outros grupos na hora dos jogos, pois você quer foco total. Pior, vai fazer até você comemorar um gol do seu maior rival, pois só esse gol pode te manter invicto, sem se tornar um pagador. Vai te fazer apostar nos medalhões, gastando todo o seu dinheiro quando no final da rodada os maiores pontuadores serão o Zé Eduardo do Vitória, o Lucas Fernandes do Atlético PR e o Jonas do lanterna América MG. Enquanto isso você vai olhar para seu time, ver que fez ridículos 32 pontos e que Robinho, Camilo, Diego Souza e Gabriel Jesus, somados, fizeram menos de 10. Você vai espernear, sofrer, tentar entender como pode ser azarado assim e, de repente, vai lembrar que mesmo assim continuou sem ser um pagador. Vai olhar a lista do mês no grupo e perceber que cinco caras foram piores que você e aí tudo vai normalizar. O desespero vai embora, o sofrimento vai junto e a tranquilidade de ter mais um mês para sobreviver volta a dominar seu coração.
Nesse mês tão sofrido eu agradeço em especial os amigos do grupo Varanda Jumping Bar por mais uma oportunidade de encher o tanque de graça. Abraço especial para os companheiros Bruno Oliveira, Fabiano Leitão, Pablo Brauer e Thiagão BDB, que com o coração enorme que têm financiarão mais um encontro dos amigos. Fiquem tranquilos, o resto de nós paga o churrasco para vocês. São nossos convidados.
Cabeça, não deixe a cerveja congelar que esse mês ela vai estar mais doce que nunca!

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