É hora de acordar e acreditar que apenas vencer não é o bastante
- Frank Moreira
- 25 de set. de 2016
- 3 min de leitura
Por: Pedro "Cica" Queiroga
A diferença técnica e tática entre os times das principais ligas europeias e os brasileiros é evidente. É óbvio que o nível técnico entre os jogadores destas ligas é grande, mas a diferença tática é infinitamente maior. Há pelo menos 10 anos, no início da "Era Dunga", a seleção brasileira começava a ser duramente criticada mesmo com um percentual de vitórias alto, mas que não encantava e ganhava a maior parte dos jogos no aperto e no susto. É claro que se espera muito mais da seleção canarinho do que dos times do Brasil, mas porque essa cobrança não deve existir também com os clubes?
No ano passado, o Corinthians foi campeão com todos os méritos. Tite tinha um elenco bom, mas conquistou seu espaço muito mais por conseguir impor um padrão tático em sua equipe há muito tempo não visto em outro time em nosso país. Obviamente existiam peças acima da média como Renato Augusto e Elias, mas a dependência técnica por um jogador era bem menor que a de outros clubes e consequentemente suas ausências eram bem menos sentidas. O atual técnico da seleção foi muito elogiado pela campanha e mais ainda por conseguir fazer seu time jogar um futebol de alto nível, e não por acaso foi credenciado para assumir o comando da seleção. Com sua saída do Corinthians não existe hoje time no Brasil com futebol de nível parecido. A máxima de "o importante são os três pontos" impera no futebol Brasileiro e uma conscientização de que apenas a vitória é muito pouco pelo menos para os grandes clubes é mais que necessária.

Tite deve servir de exemplo para outros treinadores brasileiros. Fonte: espn.uol.com.br
O líder Palmeiras por exemplo tem jogadores de alto nível em seu plantel, a começar por Gabriel Jesus, atual titular da seleção e recém contratado por nada mais que o Manchester City de Pep Guardiola. Entretanto o pragmatismo tático atingiu um dos únicos treinadores que não se enquadrava neste status há alguns anos. No Galo, Cuca propunha o jogo e conquistava muitas vitórias com jogadas treinadas e construídas ao longo das partidas, mas já começava a abusar das jogadas aéreas principalmente com a dupla Marcos Rocha e Jô e em muitos jogos vencia através deste meio. No clube paulista, essa jogada passou a ser a principal tentativa de ataque do time (na partida de ontem contra o Coritiba foram mais de 30 bolas alçadas na área), e vem ganhando as partidas com extrema dificuldade. Marcelo Oliveira no ano passado também foi duramente criticado pelo futebol jogado pelo Palmeiras mesmo com o título da Copa do Brasil, e com um dos melhores elencos da temporada esse ano não consegue fazer o Galo produzir perto do que é capaz e vem brigando pelo título dependendo totalmente de jogadas individuais dos grandes jogadores da equipe. A escassez de treinadores em nosso país é enorme. Os antigos bons treinadores pararam no tempo e acham que seus currículos são suficientes para novas glórias e pouquíssimos são os novos treinadores que apresentam bons trabalhos - Fernando Diniz levou o Audax ao vice-campeonato paulista com um futebol moderno e muito bem jogado, e Eduardo Baptista faz excelente campanha no Brasileirão com o modesto elenco da Ponte Preta.
O campeonato Brasileiro é talvez o mais equilibrado do mundo, onde várias equipes são credenciadas ao título, mas muito deste equilíbrio vem do nível técnico baixo. Nossos técnicos têm que acreditar que um bom futebol e bons resultados podem sim andar juntos. Para o bem de nosso futebol, torcemos para que treinadores se espelhem em Tite e que elevem o nível tático do futebol brasileiro. O sucesso do treinador da seleção não veio de graça e deve ser encarado como incentivo. O futebol europeu não ganha do Brasil por 7 a 1 no nível dos jogadores. Ainda temos material humano suficiente para que nossos treinadores façam bons trabalhos.
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