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40 anos de Fenômeno

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 25 de set. de 2016
  • 5 min de leitura

Estávamos em 07 de novembro de 1993 e eu tinha 12 anos. Campeonato Brasileiro, Mineirão, Cruzeiro x Bahia. O jogo foi 6x0 e a goleada já marcaria a data de qualquer forma, mas algo espetacular aconteceria naquele dia, algo que trouxe para os holofotes um dos maiores centroavantes da história do futebol mundial. Ronaldo Luís Nazário de Lima, nascido em 22 de setembro de 1976, no Rio de Janeiro, deixava de ser somente um bom jogador do futebol mineiro e se tornava um personagem. Após fazer uma defesa simples o goleiro do Bahia, Rodolfo Rodriguez, se irritou com sua defesa que vinha sendo humilhada no Mineirão e deixou a bola no chão para gesticular em reclamação. Quando se volta para a bola para pegá-la novamente o Mineirão já estava em festa e o menino Ronaldo já saía comemorando um dos mais inusitados gols da história do futebol brasileiro. A jogada repercutiu o mundo inteiro e o garoto dentuço e magrelo que já se destacava com suas arrancadas e dribles eficientes ficou famoso pelo oportunismo e “molecagem” do lance. Não houve um programa de televisão que não mostrou a jogada dezenas de vezes e, como em um passe de mágica, Ronaldinho era a grande promessa do nosso futebol.


Fonte: www.hipersesao.blogspot.com


EM 1994 uma negociação com o PSV Eindhoven levava a promessa à Europa e a convocação para a Copa dos Estados Unidos ainda com 18 anos já mostrava que a trajetória do jogador não seria como a de qualquer um. Muitos gols marcaram sua passagem pela Holanda e seu futebol logo começou a chamar a atenção de clubes de mais tradição no velho continente. Todos queriam o brasileiro driblador e oportunista. Ronaldinho finalizava bem com as duas pernas e tinha uma arrancada que invariavelmente deixava os marcadores sem reação. Foram 3 anos na Holanda com 54 gols em 55 partidas até que o poderoso Barcelona o levasse para brilhar na Espanha. O que Ronaldinho fez pelo clube catalão é lembrado até hoje e seu nome sempre é lembrado pelos torcedores mesmo tendo brilhado com a camisa do rival. No clube espanhol Ronaldinho contribuiu com 47 gols em 49 jogos produziu alguns dos lances mais espetaculares da história, sendo eleito o melhor do mundo pela FIFA em 1996 e 1997. O poderoso futebol italiano (na época) não tirava os olhos do craque brasileiro e sua transferência para a Internazionale em 1997 foi uma das transações mais emblemáticas da época. Ronaldinho deixava de ser só Ronaldinho e virava Ronaldo Fenômeno. Muitos gols foram marcados na Itália, mas o que vinha a partir daquele momento era uma travessia pelos piores dias de sua vida.


Já em 1995 o jogador já apresentava alguns problemas no joelho direito e alguns tratamentos já haviam sido aplicados para manter o Fenômeno na ativa e em alto nível. No dia 12 de abril de 2000, em um jogo contra a Lazio, pela Copa da Itália, o Fenômeno estourou o joelho e caiu chorando no gramado. O mundo estava de luto e se iniciou ali uma recuperação prevista de oito meses e somente terminada em quinze. Já se especulava se o craque voltaria aos gramados e a maioria das pessoas pensava que se isso acontecesse, jamais seria com o mesmo nível de antes. Em 2001 a volta aos gramados foi marcada por uma série de pequenas lesões musculares que davam a entender que o corpo do jogador não estava mais suportando a sequência de jogos e treinamentos.


Veio a Copa do Mundo de 2002 e algo mágico aconteceu. O lesionado Ronaldo foi para o Japão e Coréia de Sul com um caminhão de desconfiança nas costas e ao lado de Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho foi o destaque da competição. Os dois gols do título na final contra a Alemanha consagraram o jogador que abandonou o status de lesionado e se tornou novamente uma joia que o mundo inteiro gostaria de ter.


Este foi o momento em que o “maior clube de futebol do mundo”, Real Madrid, resolveu contratar o brasileiro e aí, além de craque, Ronaldo virou um Galáctico. A equipe espanhola tinha uma legião de jogadores absurdamente talentosos e o brasileiro brilhou ao lado de Raul, Figo, Zidane e Roberto Carlos. Mais um prêmio de melhor do mundo em 2002 e vários títulos marcaram a passagem do Fenômeno por Madrid, inclusive levantando o caneco da antiga Copa intercontinental de Clubes (Campeonato Mundial, para os Brasileiros).


Em 2007 Milão era novamente sua casa, mas dessa vez o time que contaria com o talento de Ronaldo era o grandioso Milan. O clube italiano não tinha muitas condições de ser o campeão italiano pois começava a competição com 8 pontos a menos que os adversários (resultado de uma punição pelo escândalo de manipulação de resultados) e Ronaldo tinha atuação apagada mesmo nos melhores momentos pelo clube. Após descobrir que o ganho recente de peso era reflexo de um hipotireoidismo, na estreia da temporada seguinte, caiu após um salto e rompeu novamente os ligamentos do joelho e mais uma vez sua carreira aparecia como sendo abreviada. A temporada acabou ali e Ronaldo decidiu por não renovar o contrato com o clube italiano e a aposentadoria parecia quase certa.


Após voltar para o Brasil muito se especulou sobre uma possível ida de Ronaldo para o Flamengo, já que o jogador treinava e se recuperava na Gávea. A torcida rubro negra esfregava as mãos imaginando que o craque desfilaria seu talento pelo Rio, mesmo sabendo que Manchester City e PSG tentavam contratá-lo, e a frustração com a apresentação no Corinthians fez com que a idolatria dos cariocas fosse seriamente abalada. Em dezembro de 2008 o clube paulista anunciava oficialmente que o Fenômeno jogaria em São Paulo e a Fiel torcida já imaginava os benefícios de ter um dos maiores de todos os tempos envergando sua camisa alvinegra. Pelo clube paulista foram 69 jogos com 35 gols marcados, média muito superior ao que todos esperavam – além da conquista do Campeonato Paulista de 2009 e da Copa do Brasil do mesmo ano.


O vídeo abaixo mostra uma compilação de gols e jogadas do craque em todos os clubes que passou:


A aposentadoria oficial veio em fevereiro de 2011 e o futebol mundial perdia, para alguns, o maior camisa 9 já visto. Foram 518 jogos e 352 gols em uma carreira que teve absolutamente de tudo. O jogador sempre será um dos melhores exemplos de como o talento e a perseverança podem passar por cima das adversidades e, dentro de campo, sua contribuição foi ímpar para a história do futebol mundial.


Como uma forma de respeito aos 40 anos do Fenômeno Ronaldo que se comemoraram nessa última semana, irei poupar os leitores de ler sobre algumas passagens lamentáveis da carreira que escolheu após se aposentar. Digamos que as escolhas pessoais e sociais de Ronaldo não foram muito condizentes com a qualidade que apresentou dentro de campo.


Estou com 35 anos e cada vez que paro com meus amigos para falar sobre os melhores jogadores de futebol que já vi sempre afirmo que Ronaldo foi o melhor camisa 9. Escuto de todos que Romário era mais decisivo, que Van Basten era mais clássico ou que Careca era mais oportunista e nem vou discutir se isso procede ou não. Ronaldo foi o melhor e foi o responsável por me fazer me apaixonar por futebol como me apaixonei. Com qualquer camisa que vestiu eu torci pelo Fenômeno e a cada gol seu eu balançava a cabeça me lembrando do 07 de novembro de 1993, quando percebi que aquele sorriso cheio de dentes ainda iria aparecer muito pelo resto da minha vida.


Parabéns Ronaldo Luís Nazário de Lima. Parabéns Ronaldinho. Parabéns Fenômeno.

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