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O fantástico mundo das séries

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 22 de set. de 2016
  • 5 min de leitura

Sim, também falamos de outras coisas que não sejam sobre esporte.


Já tem um bom tempo que eu penso em uma teoria sobre os filmes e séries. Sou cinéfilo desde que me entendo por gente e a quantidade de dinheiro que já gastei com cinema, aluguéis de fitas, DVDs, assinatura de canais de stream e o tal do Netflix, provavelmente daria para comprar uma pequena ilha no Caribe. Assistia a um filme por duas, três, quatro vezes para entender melhor a trama, perceber as interpretações dos personagens, descobrir erros de continuidade e até mesmo para definir se gostei ou não. A complexidade de uma produção de duas horas de duração me fascinava e eu achava que nada do mundo tinha maior capacidade de envolver uma pessoa – que me desculpem os livros, que são fantásticos, mas inevitavelmente se limitam ao tesão e ao poder de imaginação dos seus leitores.


Não sei falar exatamente quando as séries começaram a se transformar nos fenômenos que hoje são. Na juventude cansei de assistir seriados que passavam na tv aberta e por mais interessantes que fossem, jamais ganhavam da Tela Quente, da Temperatura Máxima ou até mesmo da Sessão da Tarde. Episódios bem escritos de McGyver, Esquadrão Classe A, Incrível Hulk, Batman e outros tantos que eram moda nas décadas de 70, 80 e 90 marcaram a infância. Acontece que se me perguntarem o que lembro mais dessa época sempre será de Rambo, Indiana Jones, Star Wars, Star Trek, Tango e Cash e (claro) A Lagoa Azul – os filmes ganhavam e ponto final.


Assim como aquele gato dengoso que vem se esfregando na sua perna e de repente está enrolado no seu pescoço as séries chegaram com tudo nos anos 2000. LOST (2004) foi o primeiro seriado que entrou na minha mente de forma definitiva, pois o nível de amarração na história fazia com que eu e minha esposa sentíssemos necessidade física de saber o que aconteceria em seguida – não estávamos preparados para isso na época e fomos pegos de surpresa, mas Lost permitiu que tomássemos gosto pelas histórias gigantes e bem detalhadas que os próximos seriados trariam. Fui passando pelos anos e sempre trouxe novas opções para o meu dia-a-dia. Friends (1994) veio como uma chuva de informação e trouxe o contato direto com a rotina de seriados cômicos americanos que tinham formato pastelão, inundado de drama e romance (ingredientes perfeitos para alimentar o novo vício) – foram 10 temporadas maravilhosas com momentos épicos para todos os gostos. Gosto de lembrar sempre do episódio em que Chandler pede Mônica em casamento, pois me faz pensar na minha vida e em como é maluco você ter alguém que te entende e te completa. Romantismo colocado de lado, vale lembrar de E.R e Greys Anatomy, dois seriados que se passam em um hospital e que possuem elencos gigantes, com toda a trama se passando pelos dramas da vida de cada um – já chorei sem entender o motivo assistindo as duas séries e toda vez que coloco em um canal que está reprisando algum episódio ainda dou uma paradinha para ver se lembro daquele momento quando assisti da primeira vez. Vindo para uma data mais recente eu me esbaldei com Breaking Bad, House of Cards, The Walking Dead, House, Sons of Anarchy, Game of Thrones e outras produções de sucesso mundial que ainda fazem a cabeça dos fãs.


Fonte: www.culturamix.com


Em outras postagens mais oportunas eu irei falar individualmente de algumas dessas séries, mas a reflexão de agora é outra. Percebi que os filmes de atualmente, por mais bem produzidos e maiores que sejam, não me satisfazem mais. Saio de uma sala de cinema após assistir o filme do ano e sempre penso que ele deveria ter sido escrito em formato de série para podermos ser apresentados a mais detalhes e a maiores aprofundamentos nas histórias dentro da história. Três horas de filmes passam longe do tempo que precisamos para realmente nos ligarmos aos personagens e podermos entender todas as nuances da trama com suas referências – algumas produtoras, entendendo isso, criam trilogias, quadrilogias ou até mesmo mais do que isso com a finalidade de apresentar uma grande história em formato menor, dando ao público uma carga mais bem trabalhada de informação. Não precisamos disso. Não precisamos de uma história que seja dividida em quatro filmes que passarão um por ano, estendendo de forma exagerada a duração de um sonho ou de uma ideia em nossas cabeças. Precisamos de temporadas e mais temporadas de informação. Precisamos de 13 episódios liberados todos de uma vez para que possamos assisti-los em um fim de semana sem dormir e depois possamos nos odiar por ter que ficar mais sei lá quanto meses sem ver nada até a próxima temporada. É disso que precisamos.


O momento atual da minha vida é interessante demais. Sou casado há quase 14 anos, tenho uma filha de 12, um filho de 9, trabalho em horário comercial integral, jogo futebol dois dias da semana, meus filhos precisam ser levados na natação em dois dias da semana e a filhota no balé em outros dois dias diferentes. Vou ao Mineirão ver o Cruzeiro regularmente, jogo um poquerzinho com os amigos, além de dar uma espairecida no FIFA Soccer com a turma sempre que eles animam. Antes que eu seja chamado de injusto, minha esposa é absurdamente ativa nessas rotinas de família e certamente ganha de mim nos eventos que envolvem os meninos. Ao mesmo tempo disso tudo que acontece ao meu redor, eu assisto 16 séries. Sim, 16 séries que mantenho atualizadas quase que com perfeição e me desespero quando deixo algo para trás. Greys Anatomy, Criminal Minds, Scandal, Better call Saul, Suits, The Walking Dead, Fear the Walking Dead, Game of Thrones, House of Cards, The Flash, Sherlock, Sense 8, How to Get Away With Murder, Daredevil, Gotham e Marvel Agents of S.H.I.E.L.D estão praticamente em dia e Stranger things deve entrar para essa lista ainda este mês. Como? Não tenho a mínima ideia.


Sempre me sinto dentro da Matrix quando penso nisso e quando ainda acho que tenho uma vida muito bacana com a minha família. Lendo o que escrevi percebo que o cansaço no fim de noite e nos fins de semana que costumam me fazer preferir ficar em casa podem ter algum motivo, afinal. Acho que fomos programados durante alguns anos para chegar nesse ponto no qual nossas mentes iriam sentir essa fome de continuidade, de drama, de romance.


Em tempo, volto a falar que adoro cinema. O ambiente é sensacional e nos dá a verdadeira sensação de estarmos passeando. Saímos de casa, fazemos um lanche, comemos uma pipoca, tomamos um sorvete, sala escura, mão dada, muitas risada, pessoas diferentes e reações inusitadas – isso é o que o cinema nos traz. A grande pergunta é a seguinte: O que vai acontecer quando os cinemas começarem a passar as grandes séries? O que nossa vida vai virar quando tivermos que atravessar a cidade para pegar os últimos lugares da pré-estreia da nova temporada de Game of Thrones? Todos irão. Irão pelo simples fato de que querem ir, pelo fato de o cinema ser tão agradável e pela patológica necessidade de acompanhar suas séries prediletas – quem vai ter coragem de não ir e correr o risco e abrir o Facebook no dia seguinte e ser afogado em spoilers assassinos que só servem para acabar com a vontade de viver.


Todos irão. É um fato.



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