Tite faz sua primeira convocação de verdade
- Frank Moreira
- 21 de set. de 2016
- 5 min de leitura
Quando Tite convocou a seleção para os jogos contra Equador e Colômbia, muito se discutiu sobre vários nomes e sobre a força deles em um grupo como o da Seleção Brasileira. Argumentou-se que Tite estava apostando no que era garantido, sem trazer nomes polêmicos de volta e, principalmente, tentando ter a melhor condição de montar um time com o mínimo risco possível. Começar mal seria muito mal visto por todos, não tanto pelo questionamento ao treinador e sim pela real necessidade de pontos do Brasil na tabela.
A segunda convocação, para os jogos contra Bolívia e Venezuela, aconteceu e agora sim Tite mostrou que vai abrir o leque e apostar naqueles que de fato estão mostrando um futebol com nível de seleção. Obviamente que ainda existem nomes questionáveis na lista e isso deve acontecer sempre, porém, viu-se uma relação consistente e que traz a possibilidade de um desenho muito interessante. Confira os nomes dos convocados, por posição:
Goleiros
Alisson (Roma-ITA) Alex Muralha (Flamengo) Weverton (Atlético-PR)
Zagueiros
Gil (Shandong Luneng-CHN) Marquinhos (PSG-FRA) Miranda (Inter de Milão-ITA) Thiago Silva (PSG-FRA)
Laterais
Daniel Alves (Juventus-ITA) Fagner (Corinthians) Filipe Luís (Atlético de Madri-ESP) Marcelo (Real Madrid-ESP)
Meio-campistas
Casemiro (Real Madrid-ESP) Fernandinho (Manchester City-ING) Oscar (Chelsea-ING) Giuliano (Zenit-RUS) Lucas Lima (Santos) Paulinho (Guangzhou Evergrande-CHN) Philippe Coutinho (Liverpool-ING) Renato Augusto (Beijing Guoan-CHN) Willian (Chelsea-ING)
Atacantes
Douglas Costa (Bayern de Munique-ALE) Roberto Firmino (Liverpool-ING) Gabriel Jesus (Palmeiras) Neymar (Barcelona-ESP)
No gol, o goleiro da medalha de ouro, Weverton, se mantém na lista e no lugar de Marcelo Grohe aparece o goleiro do Flamengo, Alex Muralha. Na zaga Thiago Silva retorna no lugar de Rodrigo Caio e no meio Oscar e Fernandinho também foram chamados para o lugar de Rafael Carioca. No ataque Gabigol e Taison foram preteridos por Firmino e Douglas Costa.
Olhando a lista final, podemos desenhar um Brasil com Alisson, Daniel Alves, Miranda e Thiago Silva, Marcelo. No meio Fernandinho e Casemiro seriam os volantes com Renato Augusto e Philippe Coutinho. O ataque poderia ser formado por Neymar e Douglas Costa. Com essa possibilidade de escalação ainda teríamos Willian, G. Jesus e Firmino podendo entrar no lugar de um dos meias para fortalecer o ataque. As opção serão muitas e se Tite quiser trabalhar variações na formação ou no estilo de jogo terá material humano de qualidade para fazer isso.
O mais importante dessa convocação é a expectativa criada com o retorno de alguns nomes que ficaram muito marcados pelo 7x1 da Copa de 2014. O volante Fernandinho foi um dos piores em campo naquele fatídico jogo do Mineirão e as críticas que recebeu, em determinado momento, pareciam que o afastariam da seleção. Acontece que o jogador do Manchester City é muito bom, mas muito bom mesmo e dentro das possibilidades que a Seleção tem atualmente, certamente precisa estar na lista final de convocados. Possui velocidade, relativa capacidade em driblar e passe e finalizações diferenciadas. A catástrofe da Copa não poderia ser motivo para tirá-lo totalmente dos planos da seleção especialmente por ter tido muita tranquilidade em lidar com isso na sequência de sua carreira. Atualmente é titular no time de Pep Guardiola e tem um papel estratégico muito importante, atuando como um homem que chega de trás e finaliza sempre que tem oportunidade. Sua volta é justa e merecida, principalmente quando avaliamos os nomes disponíveis para Tite e não percebemos nenhuma unanimidade. Rafael Carioca é o retrato da preguiça em campo e Paulinho, por mais de confiança que seja para o treinador, dificilmente se manterá em nível aceitável para se manter na seleção.

Fonte: www.trivela.uol.com.br
O outro nome que chamou atenção tem um histórico muito mais delicado. Thiago Silva já foi chamado de o melhor zagueiro do mundo e já atuou como se o fosse. Chegou na Copa como capitão e uma das referências técnicas do time e ninguém questionava sua capacidade e liderança. Tudo mudou nas oitavas de final quando o Brasil enfrentou o Chile e o jogador desabou em campo. Choro compulsivo, desespero, nenhuma ascendência positiva no resto do time e uma recusa em bater um dos pênaltis na disputa que classificaria o Brasil para as quartas de final. O mundo caiu em suas costas e sua imagem chorando estampou os jornais de todo o mundo – a capacidade de se controlar emocionalmente estava comprometida e como poderia ser a referência dentro de campo de uma seleção jovem e que tinha toda a pressão de jogar uma Copa do Mundo em sua própria casa? Nas quartas de final a sorte sorriu para Thiago quando fez um dos gols do Brasil e teve atuação destacada, mas ele mesmo fez questão de jogar isso tudo para o alto ao atrapalhar a saída de bola do goleiro adversário e receber o segundo cartão amarelo, ficando de fora da semifinal contra a Alemanha. Mais uma vez o mundo caiu em suas costas e Thiago precisou ler e ouvir da boca de todo o mundo que não tinha condição de ser o comandante dessa seleção e que no momento mais importante da Copa estaria fora por uma atitude infantil. O Brasil perdeu por 7x1 sem Thiago, a defesa foi inacreditavelmente mal, e grande parte desse fracasso recaiu sobre a figura do zagueiro.
Dramas colocados de lado, a convocação dos dois é justa e merecida, pois estão jogando em altíssimo nível. Tite não é Felipão e nem Dunga e tem uma capacidade absurda em motivar seus atletas e trazê-los para próximo de si. A chance de vermos Thiago Silva jogando como nunca na seleção existe e tem tudo para acontecer, pois a qualidade do jogador é inegável e sua contribuição pode ser valiosa. Tite sempre conseguiu montar excelentes defesas com os limitados jogadores que teve em suas mãos e não será com alguns dos melhores jogadores do mundo que irá fracassar nesse item. Fernandinho, ao lado de Casemiro, pode significar a solidez na frente da zaga que irá permitir uma maior movimentação do nosso ataque apostando na velocidade e habilidade que temos. Não estaremos mais desguarnecidos e talvez a necessidade de termos os meias e atacantes voltando a todo momento para defender pode ser atenuada, garantindo contra ataques mais eficientes e ainda possibilitando uma chegada surpresa para finalizar ou criar jogadas ofensivas.
Do time do 7x1 teremos somente alguns nomes nessa nova “geração” da Seleção brasileira: Thiago Silva, Daniel Alves, Marcelo, Fernandinho, Willian, Oscar e Neymar são os mais talentosos daquela seleção e podem contribuir demais para recolocar o Brasil em um lugar de mais respeito no futebol mundial. Acrescente a esses nomes talentos como Coutinho, Douglas Costa, Miranda e Renato Augusto e poderemos ter uma seleção campeã como há muito não vemos pelos lados de cá.
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