Vontade x Costume – O dilema do Corinthians
- Frank Moreira
- 20 de set. de 2016
- 4 min de leitura
Tite saiu para a Seleção brasileira e levou com ele toda a paciência e boa vontade da maior torcida de São Paulo. Os corinthianos, que antes eram um bando de loucos e apoiavam o time com números incríveis nas arquibancadas e um jeito de torcer que mantinha a pegada do time sempre lá em cima agora são um bando de malucos que ainda enchem o estádio só sabem pressionar e “fritar” os jogadores e a comissão técnica. Cristóvão Borges assumiu o Timão após a saída do melhor treinador da história do clube e atual melhor treinador do Brasil e o que todos esperavam dele era que, mesmo com um material humano pior, conseguisse manter um padrão defensivo sólido e que deixasse o Corinthians sempre perto dos líderes.
Cristóvão acabou de ser demitido com o Timão em 5º lugar, mas já a dez pontos do líder e maior rival, Palmeiras. O padrão de jogo não se manteve e as perdas de jogadores de peso fizeram com que o clube paulista oscilasse muito mais do que o costume. Nos jogos em casa o Timão ainda conseguia manter a regularidade e conseguia os três pontos em quase todos os jogos, mesmo sem jogar bem. Mas fora de casa o desempenho foi muito ruim e derrotas contundentes como a de 3x0 para o Grêmio deixaram a diretoria e os torcedores sem nenhuma convicção sobre a competência de Cristóvão para seguir a frente de um dos clubes mais complexos do país.

Fábio Carille e Tite - Fonte: www.meutimao.com.br
A derrota por 2x0 para o Palmeiras, em casa, no último sábado serviu de estopim para a demissão do treinador e, com o pedido de demissão de Roger após mais uma derrota pelo Grêmio, imaginava-se que o anúncio do gaúcho seria quase que de imediato. Algumas “fontes” paulistas já citavam o nome do jovem treinador como sendo carta marcada no Corinthians e, especialmente pela boa passagem pelo tricolor gaúcho, seu nome era muito bem visto pelos torcedores que se manifestavam em massa nas redes sociais. O anúncio não veio e o time paulista ainda surpreendeu a todos (quase todos) quando divulgou que o treinador (interino) para os próximos jogos seria o auxiliar técnico Fábio Carille.
Se a notícia fosse sobre o Flamengo, provavelmente todos os torcedores estariam esfregando as mãos, sabendo que o time carioca tem larga história em efetivar interinos e com eles conquistar grandes títulos. Acontece que isso, no Timão, é quase um tabu. O time paulista não tem esse costume e sua torcida “louca” não mostra nenhum time de simpatia por treinadores sem pedigree e com casca grossa para aguentar as pancadas. E é aí, com esse anúncio da diretoria do Corinthians, que percebemos a possível jogada do clube paulista.
Qual seria o efeito de uma contratação de peso para o banco neste momento do campeonato? Se o Timão anunciasse Roger, ou Abel, ou qualquer outro que se enquadre na definição de “grande treinador”, daria uma resposta ao torcedor e, provavelmente, queimaria alguns milhões de reais até o final do ano. O time paulista é muito mais fraco que os rivais do campeonato e perdeu peças preciosas. Deixou de ser uma rocha na defesa e o ataque passou a ser quase inofensivo. Que treinador mudaria esse panorama faltando pouco mais de 10 partidas para o término do campeonato? Ou melhor, qual treinador iria, de fato, se interessar por um projeto que provavelmente lhe custaria a cabeça em 3 meses. Assim como é para os clubes grandes, o momento certo de um treinador começar um trabalho é ao final da temporada, com o grupo em fase de montagem e com poder de decisão sobre quem fica, quem sai e quem joga. Assumir o Corinthians em um processo de fritura, com a torcida em cima, com a diretoria lavando as mãos e com os jogadores sem nenhuma confiança dificilmente traria algum resultado e esse treinador provavelmente seria dispensado ao final da competição (ou até antes) e ganharia um carimbo de um trabalho ruim em um clube de tanta expressão.
Por isso a tacada da diretoria pode ser a de realmente não contratar ninguém. O Corinthians não vai cair, não vai ser campeão e ficar fora da Libertadores é ruim mas não é o fim do mundo. Termina-se o ano com um interino que tem o papel de manter a casa silenciosa, sem se gastar milhões em salário com um medalhão e se prepara um anúncio de peso para o início da próxima temporada, juntamente com um pacote de reforços que farão o torcedor esquecer rapidamente o ano frustrante de 2016 e já pensar no mundial em 2018.
É assim que a coisa funciona e o torcedor, facilmente manipulável, mais uma vez cumprirá seu papel ao pressionar, virar vilão, ser o chato e que pega no pé e que, no final, se contenta com um pacotão de novos nomes e um treinador que, por melhor que seja, não trará nenhuma garantia de dar certo.
Em tempo, é importante pensar que o Timão sentirá a viuvez de Tite até o dia em que outro treinador conseguir algo de grande. Até lá, o treinador da Seleção Brasileira será sempre o reflexo no espelho de qualquer um que assumir o comando do alvinegro paulistano. Fabio Carille trabalhou com ele e pode usar do recurso de se disfarçar de Tite pelo máximo de tempo que puder.
Comments