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O clássico mostrou a exata realidade das duas equipes

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 19 de set. de 2016
  • 5 min de leitura

Ontem tivemos o confronto do returno entre Cruzeiro e Atlético MG pelo Campeonato Brasileiro. No turno o Cruzeiro venceu no Independência por 3x2 e naquele momento deixava a sensação de que faria um campeonato muito mais digno do que o que está fazendo, enquanto o Atlético deixava a todos os seus torcedores desconfiados, pois tinha grandes nomes e não conseguia emplacar. Resumindo, um resultado completamente enganoso para ambos os lados da rivalidade.


De lá para cá muita coisa mudou, o Atlético teve várias boas sequências e hoje é o terceiro colocado da competição, dando mostras de ser o único capaz de tirar o título de Palmeiras ou Flamengo e com presença praticamente certa em mais uma Libertadores em 2017. O Cruzeiro, por outro lado, iniciou uma queda livre na competição e chegou a ser o vice lanterna. Apresentou uma boa melhora no meio do caminho, mas como a situação estava crítica, acabou se mantendo nas proximidades do Z4 e neste momento é o 15 colocado a apenas dois pontos do Figueirense, o melhor time da zona de rebaixamento.


Diferentemente do clássico do turno, ontem Cruzeiro e Atlético mostraram exatamente qual a sua situação atual no campeonato, inclusive nas melhores qualidades e piores defeitos. Individualmente o Atlético se mostrou muito superior e nomes como Robinho, Otero, Fábio Santos e Leonardo Silva foram quase perfeitos no campo. Robinho poderia ter mostrado muito mais ofensivamente, mas foi o maestro do time e conseguiu prender a bola no meio do campo com muita qualidade. Quando o Atlético vencia por 1x0 (a maior parte do jogo), foi nos pés dele que a cadência foi construída e o meia deixou para Otero o papel da correria pelos lados do campo. A superioridade na qualidade individual mostrava ao Cruzeiro que isso é necessário no futebol e só muita vontade e dedicação jamais serão suficientes sem um pouco de qualidade na execução dos fundamentos. Ainda pelo lado atleticano, Junior Urso apareceu muito bem no primeiro tempo e, se não fosse a apatia absurda de Fred, dificilmente a primeira metade terminaria com somente um gol de vantagem. Só que aí veio o segundo tempo, algumas substituições muito mal desenhadas e a mudança inexplicável de postura que mostraram o que o Atlético tem de pior neste campeonato – a incrível capacidade de complicar jogos que eram para ser tranquilos. O time recuou demais e acabou permitindo que o Cruzeiro crescesse no jogo e acabasse proporcionando uma pressão muito forte em grande parte da segunda metade somente pela sua postura pouco interessada. A sensação que a equipe atleticana passava era de que sabia que o 1x0 seria suficiente e que mesmo se desse campo ao Cruzeiro jamais sofreria o gol de empate. Equívoco completo de Marcelo Oliveira, duramente criticado pela mídia e pelos torcedores, ao mexer no time de forma defensiva, perder o duelo no meio de campo e tirar o Robinho (mesmo um pouco cansado) do jogo, pois a saída do meia foi o marco para o início do “massacre” final do Cruzeiro. Reclamação ao final do jogo, dois pontos “perdidos” em uma partida contra um time bem inferior taticamente e individualmente – o resultado disso é ver a diferença para Palmeiras e Flamengo aumentar e a disputa pelo tão sonhado bi campeonato ficar cada vez mais difícil. Como o grande destaque desse jogo eu cito o gol do Atlético que foi uma pintura, em contra ataque de manual, com ultrapassagem perfeita do excelente Fábio Santos, cruzamento perfeito com a quantidade certa de mostarda e uma escorada de cabeça de Clayton que lembrou seu próprio colega de ataque, Fred, que sempre foi especialista nesse tipo de finalização.


Fonte: www.goal.com


Com o Cruzeiro a análise é a mesma, porém em um enfoque totalmente inverso. O time azul se mostra bastante coletivo e a bola passa no pé de quase todos durante um ataque. Não há muitas individualidades e se o jogo fosse no vídeo game, dificilmente perderia para alguém, pois mantém a posse de bola, joga pelas laterais, cede poucas chances claras de gol, etc. Acontece que na vida real só isso não resolve. É preciso que em momentos de dificuldade alguém tome a frente da situação, peça a bola, faça uma jogada individual, drible mais, corra mais, enfie a bola com mais qualidade, arrisque de longe ou qualquer outra coisa que um jogador diferenciado deve fazer. Com exceção de Arrascaeta (bem para o final do jogo) e Elber (desde quando entrou), a burocracia do time do Cruzeiro foi de dar sono e os 45 mil torcedores que encheram o Mineirão e incentivavam o time estavam muito incomodados com essa postura apática, que marcava muito de longe e assistia o time atleticano rodar a bola de um lado pro outro. A melhor qualidade desse time é o jogo coletivo e o fato de a bola não parar em um só lugar do campo e isso nós vimos no jogo de ontem mais uma vez, mas quando essa estratégia vem acompanhada das piores escolhas, nada vai acontecer. O Cruzeiro cruzou como nunca em uma grande área que tinha Ramon Ábila disputando bolas aéreas com Leonardo Silva e Erazo. Era impressionante como a raposa forçava esse tipo de jogada sem conseguir o mínimo êxito, pois as boas jogadas criadas vieram pelo chão ou por enfiadas de bola fugindo da dupla de zaga atleticana. Após o Atlético optar por não jogar mais, a pressão que já existia pela posse de bola e troca infrutífera de passes virou uma pressão de verdade. As entradas de Alisson e Elber deram mais recursos ofensivos ao time e Arrascaeta jogando mais próximo da área passou a incomodar muito mais a defesa atleticana. A profundidade de Elber pela direita passou a produzir jogadas mais perigosas até culminar em um jogada igual, mas diferente – o jovem meia chegou no fundo com força e, ao invés de levantar a milésima bola na área, resolveu cruzar rasteiro para trás, encontrado Robinho livre para chutar cruzado e empatar o jogo. O empate veio e a virada poderia ter vindo se a calibragem das finalizações estivesse melhor – bola na trave e gols perdidos na frente do goleiro também “roubaram” dois pontos preciosos do time azul, que se vê em situação muito difícil no campeonato. Assim como o Atlético, o Cruzeiro empatou, poderia ter perdido e poderia ter ganhado.


No próximo final de semana o Cruzeiro sai para enfrentar o, na minha opinião, melhor time do campeonato, Flamengo enquanto o Atlético joga em casa contra o Internacional.


O resultado foi ruim para os dois e ouvi muito gente dizendo que foi pior para o Atlético pelo fato de a disputa lá em cima ser mais difícil do que a lá de baixo. Eu penso que o risco lá em cima é muito menor e, para quem nunca foi rebaixado como o Cruzeiro, mais um ano amargando essa luta contra o descenso é sempre um passo a mais para repetir o “feito” do maior rival, rebaixado em 2005.

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