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O que fez com que o MMA perdesse tanto a graça?

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 18 de set. de 2016
  • 5 min de leitura

Eu assisto competições de MMA desde que era criança e na época eu não tinha a mínima ideia de quão poderoso era esse esporte e como ele podia produzir em nós uma reação de satisfação ao ver o mata leão encaixar ou o direto de direita nocautear alguém. O MMA da década de 80 e 90 que eu assistia já era o UFC (apesar de o Pride ter parcela grande nas minhas memórias) e as primeiras edições foram simplesmente épicas.


Não se assistia na tv aberta e muito menos havia canais fechados que forneciam esse entretenimento. Era preciso ir até as locadoras e alugar as fitas VHS com as competições. Torneios sem praticamente nenhuma regra, sem armações, sem teatro, sem frescura e com muito, mas muito sangue. Os lutadores disputavam em formato de chaveamento, com várias lutas em uma edição do torneio até que chegassem na grande final. Sem divisões por categoria e com períodos muito maiores para cada round, assim era o UFC que consagrou Royce Gracie, Ken Shamrock, Oleg Taktarov e Dan Severn, entre outros mitos.


Está aí a origem dessa admiração pelo esporte, não pela violência que está associada, mas sim pela capacidade do homem em entrar em uma jaula e lutar de peito aberto contra outro homem que tinha até duas vezes o seu peso e tamanho. Com o passar dos anos vimos o refinamento do esporte, vimos a era do Pride e do Japão sendo o grande centro das lutas no mundo, vimos brasileiros serem endeusados e massacrados, vimos a família Gracie virar lenda, os irmão Nogueira arrastarem legiões de fãs e nomes específicos como Shogun, Silva, Belfort e especialmente Anderson Silva se tornarem as maiores referências do esporte.


Nos anos 2000 o UFC voltou a ganhar força e alguns desses nomes reinaram de forma brilhante. Não sei se vi alguém melhor em cima de um octógono do que Spider, mesmo com todas as gracinhas e menosprezos exagerados, o que ele fazia com os adversários era especial e não sei se haverá outro com essa capacidade. O “Fenômeno” Belfort proporcionou alguns dos maiores nocautes da história das artes marciais mistas e Minotauro finalizou mais adversários do que era possível contar.


Chegamos no ápice do marketing e da adoração do público quando Anderson Silva resolveu deixar de ser só um lutador espetacular e passou a ser um showman e o seu caminho se cruzar com o de Chael Sonnen elevou o MMA e o UFC para o hall dos esportes mais assistidos do mundo. Discussões sem fim, ofensas, promessas de nocaute, agressões ao país, à família, à história e até mesmo à sexualidade do outro transformaram o segundo combate entre eles em uma das maiores lutas já proporcionadas pelo esporte – não pela qualidade da apresentação dos dois, pois Silva humilhou Sonnen mais uma vez, mas sim pela forma midiática com a qual os dois promoveram o confronto.


Fonte: www.hiperativos.com.br


Ali, naquele momento, estava consolidado o esporte e os fãs se espremiam em casa e nas boates (sim, acreditem) para ver as lutas que terminavam às 4 da manhã em Las Vegas, ou faziam filas quilométricas para comprar os ingressos das edições que vinham para o Brasil. Nada podia parar o crescimento do MMA como esporte e não se esperava que nada pudesse fazer com que sua popularidade fosse afetada a ponto de fazer com que o interesse do fã (brasileiro, em especial) caísse a ponto de não entendermos o que aconteceu.


Então, o que aconteceu? O que fez com que aqueles malucos que viravam madrugadas a cada 15 dias passassem a ver, no máximo, os melhores momentos de uma luta principal no dia seguinte, ou que parassem de assinar os canais exclusivos de transmissão dos eventos, ou que diminuíssem exponencialmente a compra dos eventos avulsos por Pey Per View? Eu tenho, só como exemplo, cinco possibilidades que podem ser levadas em consideração:


  1. Lutas de qualidade duvidosa – a estratégia de combate de muitos dos principais artistas marciais deixou de ter um caráter ofensivo, de finalização ou nocaute e passou a ter como base a finalidade de vencer de forma segura, por pontos e até mesmo em decisão dividida, se necessário;

  2. Lutas principais com resultados estranho e que colocavam a credibilidade dos juízes em xeque – por várias vezes vimos atletas serem declarados vitoriosos sem nenhum sentido, além de termos visto interrupções extremamente equivocadas do árbitro do combate;

  3. A postura desleixada de alguns atletas – Anderson Silva perdeu para Cris Weidmann após exagerar de forma inacreditável nas firulas e na falta de vontade de lutar. Aquela luta foi emblemática para muitos fãs que viram que os lutadores não estavam nem um pouco interessados em defender seu legado com a dedicação que se esperava. Ídolos foram desconstruídos e passaram a ser referência do que o esporte tinha de pior;

  4. Doping – Por muitas vezes campeões e ex-campeões do MMA foram pegos em exames anti-doping, transformando em uma declaração aberta ao público que estavam dispostos a fazer de tudo pelos momentos de fama, mesmo infringir as regras;

  5. Confusões fora do ringue – Parece bobagem, mas vivemos um mundo que prefere o politicamente correto ao invés daquilo que antigamente era endeusado. Bad boys, baderneiros, agressores e lutadores que estão sempre envolvidos em conflitos fora do ringue acabam sendo marginalizados e, o que antes era bem visto, passou a ser um ponto de cisão entre os fãs, a organização dos eventos e os atletas;

O MMA perdeu força, os eventos, por mais que atraiam o público no local, já não lotam mais 100% das arenas, os fãs não conhecem mais seus campeões de cor e a tv não é mais tão interessada na transmissão dos eventos. Continua movimentando muito dinheiro e isso ainda vai continuar por muito tempo, pois o crescimento das últimas décadas é difícil de ser apagado, mas ficou claro para todos que o futuro deve reservar mais espaço para alguma variação do esporte ou até mesmo outra coisa que chame mais atenção dos patrocinadores.


É preciso que o UFC, Bellator e outras entidades que promovem os eventos entendam que terão que reconstruir os ídolos, mesmo que de forma conceitual, para ter de novo o fã envolvido no processo. Quase ninguém faz força pra assistir a uma edição que não apresentará um grande lutador ou alguém que faça o coração disparar – queremos ter o que comentar por dias, até que a próxima luta seja marcada e o assunto seja atualizado. Precisamos da ansiedade da próxima quinzena, quando estaremos esperando o atual campeão do mundo enfrentar o desafiante que está invicto e tem um estilo de luta diferente e chamativo. Precisamos de um tanque de guerra, como já foram Brock Lesnar ou Chuck Lidell para ganhar uma luta e saírem enlouquecidos, batendo no peito e gritando com toda força.


José Aldo, John Jones, Renan Barão, Connor Mcgregor, entre outros nomes, possuem os requisitos mínimos para serem a cara do MMA neste momento.... é preciso colocá-los em evidência e transformá-los em lendas e não ficarem revivendo lendas do passado que venderão muitos ingressos mas farão o interesse pelo esporte diminuir.


O MMA precisa pulsar na mesma velocidade de antes.

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