O clichê de Marcelo Oliveira
- Frank Moreira
- 13 de set. de 2016
- 4 min de leitura
O Atlético MG perdeu ontem para o Fluminense por 4x2 em jogo que fechava a 24ª rodada do Campeonato Brasileiro. O resultado analisado separadamente não é um absurdo, mesmo que o Atlético esteja no G4 e tenha, talvez, o melhor elenco do futebol brasileiro, pois o Fluminense está longe de ser um time ruim e certamente tirará muitos pontos dos postulantes ao título. O problema está no processo de construção da derrota.
Desde quando treinava o Coritiba e depois em sua passagem brilhante pelo Cruzeiro, Marcelo Oliveira conseguiu resultados expressivos e sempre se manteve em destaque. Há uma unanimidade que o rodeia e os resultados ajudam isso – são 4 finais de copa do Brasil com um título conquistado (pelo Palmeiras, no ano passado) e dois brasileiros pela raposa mineira. O que sempre é um fato comum quando se houve falar em Marcelo é a forma como monta suas equipes, pois jamais se viu o treinador apostar em uma formação diferente do 4-2-3-1 e mesmo quando aposta em Fred e Pratto juntos no Atlético MG, essa formação prevalece, com um dos dois fechando uma das meias pela lateral e ajudando na cobertura da marcação. Essa disposição tática virou a marca registrada do treinador e não estou aqui falando que isso é ruim ou não deva ser feito, estou apenas falando que Marcelo criou para si um clichê tático que tende a favorecer seus adversários quando da montagem das estruturas defensivas que enfrentará.

Fonte: globoesporte.com.br
Vejamos bem, em 2013 e 2014 quando bi-campeão brasileiro pelo Cruzeiro, Marcelo apostava em um volante marcador e um que sabia sair jogando com a bola (Lucas Silva e Nilton), uma linha de três meias atacantes habilidosos e técnicos (Dagoberto, Goulart e Éverton Ribeiro) e um centroavante definidor (Borges em 2013 e Marcelo Moreno em 2014). Atualmente no Atlético MG ele usa a dupla de volantes Rafael Carioca e Leandro Donizete (ou Junior Urso), uma linha de três homens nas meias com Robinho, Maicosuel, Cazáres, Patric, Otero, Dátolo, Luan ou qualquer outro que se enquadre ali e um atacante definidor (Fred ou Pratto – às vezes Pratto faz a função de meia, também). A semelhança não é uma coincidência e sim uma análise do padrão de jogo do treinador, que joga dessa maneira há pelo menos 7 anos.
Qual o resultado prático disso dentro do campo? A força coletiva fica minada e os resultados acabam vindo muito mais em decorrência da habilidade individual dos seus jogadores do que da força de conjunto que o treinamento e os jogos podem trazer. Essa análise coloca em cheque a qualidade de Marcelo como treinador e é aí que eu penso que precisamos pensar diferente – eu não questiono a qualidade de técnico e sim a capacidade (vontade?) de montar suas equipes com um padrão de jogo diferente. Permanecer no 4-2-3-1, minimamente variado para o 4-3-3 e o 4-2-2, faz com que os times de Marcelo sejam mapeados e não só pela sua própria repetição, mas pela tendência dessa formação ser a mais usada no mundo. Lembramos da seleção da Alemanha, atual campeã do mundo, que saia de um 4-2-3-1 para o 4-1-4-1 com fluidez e, mesmo assim todos diziam que não havia nenhum segredo em entender a forma como eles jogavam. A diferença é que você manter um padrão previsível de jogo com os melhores jogadores do mundo te traz um resultado e fazer isso com jogadores inconstantes, pouco disciplinados e atropelados por um calendário maluco traz outro completamente diferente. A disciplina tática do futebol europeu é um resultado de estrutura, cronograma, programas de treinamento e muita, mas muita qualidade individual na execução dos fundamentos pelos atletas.
Não vou falar aqui o que Marcelo precisa fazer para conseguir ter um time mais consistente e menos previsível, mas sim falar o que eu faria se fosse um treinador de ponta de um time de ponta do futebol brasileiro. Eu apostaria na inovação e na falta de padrão tático – entendam que isso não significa que jogaria de qualquer jeito e que ficaria mudando a equipe a todo momento achando que isso iria surpreender o adversário, pois temos vários exemplos recentes que mostram que isso não funciona do lado de cá do oceano (Paulo Bento e Aguirre, só para lembrar de dois). Quando falo em inovação e falta de padrão, estou me referindo a uma maior liberdade dos jogadores dentro de uma partida, permitindo que o time crie blocos de ataque mais eficazes, duplicando ou triplicando as forças de penetração por uma lateral, fazendo 2x1 ou 3x2 nos marcadores pelo lado do campo. Falo sobre a possibilidade de meus atletas mais criativos exercerem funções menos estáticas e permitir que um Atlético MG, por exemplo, possa ter mais de um Robinho dentro de campo, pois jogadores como Maicosuel, Luan, Dátolo, Rafael Carioca, Pratto, Fred e Cazáres, têm mais qualidade que 90% dos jogadores desse campeonato e podem desequilibrar um jogo mesmo fora de suas funções de origem. Não é incomum no futebol europeu percebermos que um centro avante que se vê preso na marcação acaba recuando e abrindo espaços para quem vem de trás, assim como os meias, percebendo que estão sendo dominados pelos volantes adversários, voltam para o campo de defesa e começam as jogadas mais de trás, trazendo a marcação para longe da zona de conforto e abrindo espaço para as ultrapassagens dos laterais ou dos seus próprios volantes, que entram como homens surpresa.
Marcelo Oliveira joga, a cada rodada, uma partida de vídeo game, na qual os jogadores praticamente sempre se mantêm no mesmo feixe de gramado, realizando de forma competente aquilo que lhes é aplicado como conceito. Falta um pouco mais de Robinho e de Tardelli (saudades?) nesse time, falta um pouco mais da loucura de Luan e da imprevisibilidade de Ronaldinho Gaúcho e não é preciso que esses caras estejam em campo para conseguir isso.
Está na hora de Marcelo dar uma ligadinha para Cuca ou Levir Culpi e perguntar onde eles salvaram os planos de jogos que o Atlético MG utilizou em 2013 e 2014, pois sem eles, teremos mais uma vez o melhor time do Brasil comemorando “só” a vaga para a Libertadores.
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