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A expulsão de Lucas Lima deveria virar estudo de caso

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 11 de set. de 2016
  • 4 min de leitura

A arbitragem brasileira é fraca e não acredito que alguém tenha argumentos para questionar isso. Nossos apitadores padecem de falta de suporte, preparação técnica, física e conceitual, de tal forma, que são frequentemente responsáveis por alguns placares nos nossos campeonatos. A categoria não é profissional e não parece ser do interesse da CBF que isso mude nos próximos anos, pois os erros da arbitragem “amadora” sempre serão o escudo que os cartolas poderão usar para justificar sua incompetência. Não há um clube sequer na primeira divisão do campeonato brasileiro que não possa apontar para um árbitro e atribuir à ele aquela derrota sofrida que não teria acontecido se o time tivesse feito o seu papel com a bola rolando. Na quinta passada tivemos um episódio muito interessante no Beira-Rio, no jogo entre Internacional e Santos, quando o árbitro Rodrigo Batista Raposo, do DF, expulsou Lucas Lima, do Santos, por cera ao deixar a cobrança de escanteio para outro jogador bater quando o jogo estava 1x0 para o Peixe. Lucas Lima já estava amarelado e, segundo o árbitro, demorou para bater o escanteio e ainda, após muito tempo esperando, saiu da bola e deixou a cobrança para outro atleta santista. O jogo terminou em 2x1 para o Inter e a expulsão do meia foi determinante para a construção do resultado pelo colorado.


Deixando de lado toda a incompetência da nossa arbitragem, seus critérios confusos, as marcações apavoradas, o festival de faltas e cartões e, especialmente, a necessidade da imposição da autoridade, o caso de ontem nos deveria fazer pensar no outro lado da moeda. O que nossos jogadores estão fazendo para ajudar a arbitragem durante um jogo de futebol?

Fonte: www.atribuna.com.br

Também assisti o jogo Cruzeiro x América, no mesmo dia de Inter x Santos e por mais de uma vez me pegue pensando: “cara, jogador de futebol é chato demais....”. Um festival de simulações, reclamações, xingamentos e a mais pura intolerância só faziam com que o árbitro do jogo errasse mais a cada segundo. Era impressionante como os jogadores, em muitas das vezes, optavam por não prosseguir a jogada para pressionar o juiz, que, defensivamente, distribuía grosseria e cartões amarelos para manter o controle do jogo. O processo é cíclico, pois o jogador não faz a parte dele e trabalha sem parar para ter a arbitragem sob sua influência e com isso acaba fazendo com que os sopradores acabem se irritando com eles e direcionando suas medidas disciplinadoras aos atletas mais “chatos”. Hoje em dia está muito mais comum um jogador ser amarelado por conta de reclamações contra a arbitragem do que por faltas duras cometidas e isso se torna a muleta perfeita para que os técnicos e atletas mais experientes gastem cada vez mais energia para exercer esse tipo de pressão.


Um caso como o do Beira-Rio deveria servir de fonte de estudo para a comissão de arbitragem e para os clubes, para que os disciplinadores entendam que eles têm o poder de decidir uma partida quando trabalham mal e para que os jogadores percebam que se a postura for sempre a de levar vantagem, ganhar tempo e pressionar, serão severamente punidos por isso. Já ouvi muita gente falando sobre a necessidade de o futebol adotar uma postura de arbitragem de outros esportes, como por exemplo, o futebol americano e o basquete, nos quais não se permitem reclamações exageradas e contato físico com os juízes, sob pena de anotação de infrações mais graves, suspensões severas e até mesmo multas gigantescas aos jogadores e clubes. Particularmente, penso que precisamos somente de bom senso e os campeonatos europeus nos mostram isso, pois, apesar de terem erros de arbitragem como em qualquer lugar do mundo, a relação entre juízes e jogadores é muito mais respeitosa e positiva. Não que lá eles não reclamem e façam pressão, longe disso, mas é notório como os árbitros permitem aos jogadores a aproximação e conversam com eles com didática e educação, gerando um comportamento semelhante do outro lado. Gritarias, chiliques e reclamações malucas são severamente analisadas e jogadores que têm o histórico de comportamento negativo são sistematicamente punidos por isso . Os treinadores ficam ao lado do campo e, apesar de reclamarem, estão mais preocupados em orientar seus times e melhorar o desempenho dentro de campo – que não nos iludamos e achemos que por lá ninguém é chato, petulante ou até mesmo inconsequente, mas a realidade é que o objetivo principal é fazer com que o jogo transcorra da forma mais tranquila possível e que os árbitros sejam figuras despercebidas dentro de campo. Diferentemente daqui que, invariavelmente, os times querem pressionar os árbitros antes mesmo da bola rolar para que sejam favorecidos quando o jogo começar.


Profissionalizar a arbitragem é um passo importante, certamente, mas está longe de ser uma mudança que resolverá o problema, enquanto a mentalidade do atleta brasileiro do futebol for sempre a de levar vantagem sobre o adversário, independente de qualquer princípio ético ou moral. Aqui todo erro pode ser perdoado desde que seja a nosso favor e, quando é contra, fomos roubados e o todo o resto está comprometido pela corrupção que comanda nosso futebol. Ainda assim precisamos de árbitros mais bem preparados, especialmente no aspecto emocional, mais bem alinhados nos conceitos das regras e suas aplicações e também de que os clubes de futebol determinem aos seus jogadores que sua função é de jogar bola dentro de campo e não de reger a atuação do juiz ou da torcida, colocando um contra o outro e comprometendo o bom ambiente das partidas de futebol.

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