Existe jeito certo de torcer?
- Pedro H "Choras"
- 17 de ago. de 2016
- 3 min de leitura
Durante a disputa do salto com varas, a inflamada torcida brasileira esbanjou apoio ao seu atleta Thiago Braz, porém não foi só isso, ela fez questão de vaiar e comemorar o erro dos seus correntes, principalmente o francês Lavillenie, favoritíssimo ao ouro, que não gostou nada do comportamento do torcedor.

Imagem disponível em lance.com.br
Ao ser entrevistado após ficar com o prata, perdendo o ouro para o brasileiro, o francês reclamou da falta de Fair Play do torcedor e acabou repercutindo grande discussão se deve ou não haver vaias por respeito aos atletas. Por outro lado, não cumprimentar Thiago ao fim da prova fez dele um hipócrita no quesito espirito olímpico, e comparar as vaias com as da Alemanha nazista e até mesmo atribuir a vitória do brasileiro ao candomblé mostra como ele se acha “intocável” e um mau perdedor, ou em outras palavras, um babaca.
Mas a verdade é que, apesar de tudo, Lavillenie pode ter um pouco de razão nisso tudo. Nós somos um povo que de forma geral não tem o costume de acompanhar outros esportes além do futebol. Não vamos a jogos de tênis, disputas de natação, etc. E isso mostra que temos uma monocultura esportiva e por isso acabamos nos comportando da mesma maneira que estamos acostumados em um jogo de futebol.
Existem esportes que exigem um nível de concentração absurda, qualquer coisa pode fazer com que o atleta tenha um rendimento abaixo do esperado e nesses esportes a torcida deve respeitar o momento de quem disputa a prova. Imagine o povo gritando e vaiando em uma prova de tiro, não ia rolar. No tênis a bola não entra em jogo enquanto não há total silêncio do publico e se fizer barulho em hora indevida você pode ser retirado do estádio (assim como aconteceu nessas olimpíadas), Bolt pede silêncio para torcida na hora de começar uma corrida, pois ele precisa de atenção total para fazer uma boa largada, e assim por diante. Por isso devemos entender e respeitar a peculiaridade de cada esporte.
É muito bonito quando vemos o espirito olímpico durante os jogos como no caso da incontestável Simone Biles que após falhar em sua prova vai toda sorridente cumprimentar a compatriota pela boa prova que fez, mesmo sabendo que não tinha mais chance de ouro, ou quando um atleta da o seu máximo para conseguir um bom resultado - caso de Poliana que acabou conseguindo um bronze após ficar em quarto lugar (uma francesa foi desclassificada da prova), ou até mesmo o caso de superação de Diego Hypólito que conseguiu uma medalha quando não era mais favorito.
Mas também é muito triste ter casos como a corrida do Wanderlei que corria para o outro e foi interrompido por um torcedor ou casos em que nós vaiamos o hino argentino por considerá-los rivais ou até mesmo no caso do Lavillenie que foi vaiado ao ser chamado para receber a medalha de prata.
Nós sabemos que a essência do povo brasileiro deve permanecer, somos conhecidos por sermos hospitaleiros, alegres, divertidos e fazemos piadas com tudo, até mesmo com a nossa desgraça. Então devemos mostrar isso para quem é de fora, mas sempre aliado a uma boa educação e respeito, sabendo que nem tudo é futebol e que cada esporte tem suas peculiaridades.
No fim disso tudo quem merece parabéns pelo espirito olímpico é Thiago Braz, um brasileiro que, até agora pouco, era completamente desconhecido do povo e de lá pra cá bateu o grande favorito ganhando o ouro para o país, bateu recorde olímpico e ainda pediu aplausos para o francês no momento em que a torcida vaiava. Parabéns Thiago, você me representa!
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