A história agradece, Escadinha
- Frank Moreira
- 7 de set. de 2016
- 4 min de leitura
Sérgio Dutra Santos, 41 anos a serem completados dia 15 de outubro, natural de Diamante do Norte (PR), jogador de vôlei, líbero, multicampeão pelos clubes que jogou, tetra finalista olímpico e dono de duas medalhas de ouro pela seleção brasileira – único líbero da história do vôlei a ser eleito o melhor jogador geral em uma competição profissional de seleções. Esse mini currículo poderia ser o post por si só, pois é muito difícil a história do esporte consagrar um jogador em um esporte tão dinâmico e físico como o vôlei, ainda mais em uma posição na qual a função não é a de colocar a bola no chão dos adversários.
Serginho se despediu da Seleção Brasileira após dois amistosos contra a Portugal, um no Paraná, seu estado natal, e outro em Brasília, sob o olhar de mais de 40.000 torcedores que lotaram o Mané Garrincha e foram à loucura com os últimos momentos da carreira verde e amarela dessa lenda do esporte. O último ponto do jogo, ironicamente, se deu de uma forma com a qual Serginho não estava acostumado a lidar: sacando e fazendo um ace – com uma simpática contribuição da seleção portuguesa que permitiu que o líbero repetisse o primeiro saque errado e depois assistiu a bola cair mansamente no meio da quadra. A carreira mais vitoriosa da história do vôlei masculino estava recebendo seu capítulo final e para aqueles que acompanham a absurda carreira de Serginho, o vazio não se estenderá somente à posição de líbero da seleção e sim ao cenário mundial desse esporte.

Fonte: veja.abril.com.br
Confira abaixo alguns dos principais títulos do jovem de 40 anos que revolucionou a posição na qual atuava, se tornando referência e ditando tendências para os novos talentos que depois dele vieram:
Campeão mundial em 2002 e 2006
Campeão da Copa do Mundo em 2003
Campeão da Liga Mundial em 2001, 2003 (Melhor Defesa e Melhor Recepção), 2004, 2005, 2006 e 2007 (Melhor Líbero), 2009(Melhor Jogador)
Medalha de Ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2000
Vice-Campeão da Liga Mundial em 2002 (Melhor Defesa)
Medalha de Ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2011
Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos de Verão de 2004
Medalha de Prata nos Jogos Olímpicos de Verão de 2008
Medalha de Prata nos Jogos Olímpicos de Verão de 2012
Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos de Verão de 2016
As Olimpíadas do Rio, que terminaram em agosto desse ano reservaram um momento especial para Serginho, pois estava muito claro que seria a última competição que o jogador disputaria com a camisa verde e amarela. Quis o destino que o Brasil sofresse, mas sofresse muito para conseguir se classificar e uma eliminação na primeira fase na primeira oportunidade de disputar uma Olimpíada em sua casa seria o maior balde de água fria que se poderia projetar. Mas não aconteceu. O Brasil venceu a França em um jogo enroscado e daí pra frente foi um atropelamento atrás do outro – apesar de jogos difíceis e disputados em alto nível o Brasil amassou os adversários e Serginho pôde pendurar no peito, pela segunda vez, o símbolo mais importante de seu esporte. Ainda nas semifinais, quando o Brasil venceu a Rússia e se classificou para a grande final, a emoção de todos era maior que a felicidade pela vitória, em si. Serginho desabou na quadra e, mesmo sem saber se levaria o tão sonhado título diante de sua torcida, já se mostrava extremamente satisfeito, independente do que viesse a acontecer.
Após o bloqueio final no jogo contra a Itália, que deu o ouro ao Brasil, houve um breve momento de comemoração aleatória, como de costume, e depois pode-se perceber uma busca de todos pelo abraço de Serginho, pois era impossível não projetar nela a pedra fundamental daquele grupo que saiu de desacreditado após inúmeros e sucessivos fracassos nos momentos de decisão, para um grupo de bi-campeões olímpicos com o nome gravado na história de forma indelével.
O hino nacional foi o ápice da celebração e, se só de ouvir a melodia associada a uma conquista de atletas do nosso país já se forma um êxtase coletivo, sentir isso vendo a figura de Serginho, em prantos, bradando o hino como que pela última vez em sua vida, foi ímpar. Haverá muita dificuldade em se criar um ídolo assim nesse esporte em que ao menos metade de um grupo da seleção se altera em um ciclo de quatro anos que precede os próximos jogos olímpicos. Haverá muita dificuldade em se formar um atleta que reúna as qualidades técnicas que Serginho desenvolveu – completo no passe, defesa e levantamento, com um senso de cobertura de bloqueio que fazia com que os atacantes adversários encolhessem o braço ao atacar.
É hora de tratar da ferida aberta que ficou e começar a entender como poderemos fazer com que algum de nossos líberos em atividade tenham a força suficiente para envergar a camisa de Serginho sem sentir o peso de substituir o maior atleta de vôlei de todos os tempos. Tiago Brendle, atleta do elenco atual do Campinas, jogador de 30 anos, desponta como o favorito para ter essa honra e é sim um grande líbero, espetacular, eu diria. Contra ele somente o fato de se chamar Tiago e não Serginho. Boa sorte ao garoto e que a mística de Escadinha mantenha a posição de líbero do Brasil como o porto seguro que o restante de uma jovem seleção precisa para se manter no caminho das conquistas.
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