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Quando é hora de entender novamente do que é feito o tênis

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 6 de set. de 2016
  • 4 min de leitura

Rafael Nadal perdeu nas oitavas de final do US Open em um jogo com a cara da sua história, porém, quem desempenhou seu papel foi o francês Lucas Pouille (22) que entrou na Arthur Ashe como número 24 do mundo e certamente saíra do torneio entre os 20 melhores colocados. O placar foi de 3 sets a 2, com parciais de 6-1, 2-6, 6-4, 3-6 e 7-6(8-6) em um jogo que teve duração de 4h10m – uma maratona que mostrou muito talento e muita raça dos dois jogadores, mas sempre com Pouille comandando o placar e fazendo o “Touro” Nadal ter que tirar força e energia de onde não havia mais nada.


Podemos resumir o jogo em poucos detalhes, como longas trocas de bola e Nadal perdendo a paciência com mais frequência do que o normal. O francês trabalhou bem sua direita na paralela sempre que pode e abusou das bolas fundas – um dia de glória na melhor partida de sua carreira. Na hora de fechar o jogo, mostrou força e paciência, pois Nadal chegou a quebrar seu saque no quinto set e ainda assim encontrou recursos para se manter vivo e chegar no tie-break. Neste ponto do jogo, Nadal já estava respirando por aparelhos e errando algumas winners em bolas curtas que pareciam inconcebíveis alguns anos atrás.


Fonte: sportv.globo.com


A discussão ao final da partida não está relacionada ao jogo e sim à necessidade de Nadal se reinventar, pois somente sua técnica e disposição não são mais suficientes para lhe garantir na disputa de títulos dos principais torneios. Seus adversários atuais são tão fortes e tão dedicados quanto ele mesmo, porém com um sopro de juventude que o espanhol não conseguiu manter após as inúmeras lesões – Nadal nos passa a sensação de que está cansado, e não fisicamente, mas sim da necessidade de se manter concentrado em todos os segundos dentro da quadra. Seu brilho técnico ainda aparece e é por isso que ainda faz jogos como o de ontem, quando foi superado em quase todos os fundamentos e ainda assim levou o jogo para o quinto set, até o tie-break – se estivesse enfrentando um adversário mais qualificado, teria sido dominado no placar e poderia sair com uma derrota mais contundente.


O que Nadal precisa fazer não é fácil e, de forma paralela, podemos comparar ao que teve que fazer o melhor de todos os tempos, Roger Federer. O suíço dominou o mundo, as estatísticas e a história do tênis e se tornou o melhor jogador que o esporte já viu (até o momento, pois Djoko vem aí), mas se percebeu em um momento no qual não tinha mais a mesma força para manter os jogos sob controle como fazia em seu auge – com isso a escolha era simples: “abandonar” a carreira de jogador top e sucumbir jogo a jogo perante seus adversários, até que se despedisse em uma segunda fase de um Slam qualquer, ou então iria remodelar seu jogo para ser mais cirúrgico, agressivo e, com isso, se desgastar muito menos. Federer "incorporou" o saque e voleio ao seu jogo como um recurso de sobrevivência, pois as longas trocas de bola e as partidas de 4 horas de duração cobram seu preço ao final de uma temporada. Sem a velocidade e vitalidade de atletas fisicamente espetaculares como Murray e Djokovic, o suíço que hoje tem 35 anos ainda consegue aparecer nos torneios de mais importância como um nome de destaque. Os títulos pararam de aparecer, mas a glória do bom desempenho e o reconhecimento do público de que ainda joga em grande estilo o acompanham em qualquer torneio que dispute.


Nadal não pode ser mais o “Touro” e precisa entender que a força não é mais uma aliada e sim uma âncora que o leva para o fundo dos grandes pontos e das partidas mais desgastantes. Ele precisa entender que está na hora do saque e voleio, de um treinamento mais profundo no saque para conseguir mais aces e na troca de bolas mais curtas, com a introdução de slices mais longos e lentos para que as subidas à rede sejam equilibradas e contundentes. O tempo é implacável para todos, é fato, mas no caso de Nadal o que o prejudica é ser uma lenda que, como outros no mesmo patamar, foram dissecadas pelos adversários que hoje conhecem seus pontos fracos como ninguém. Se um Nadal diferente não entrar em quadra daqui para frente, perder para os números 24 do mundo se tornará uma rotina frequente e a motivação da glória e do êxito irá se extinguir como se nunca tivesse existido.


Estou registrando aqui que Pouille deve perder para Monfills, aumentando ainda mais a frustração de Nadal, que enfrentou aquele que era o possível adversário das quartas de final em um total de 10 partidas, com 9 vitórias. Isso não mudará o grande feito do francês ao eliminar o espanhol, mas o mostrará que vencer Nadal no momento que está em sua carreira é um resultado considerável, mas não mais um divisor de águas dentro de uma competição.


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