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O que define um ídolo no futebol?

  • Foto do escritor: Frank Moreira
    Frank Moreira
  • 4 de set. de 2016
  • 6 min de leitura

Por: Pedro "Cica" Queiroga


A qualidade técnica de um jogador definitivamente pode levá-lo a um lugar diferenciado na história de um clube, país ou até do esporte. Zidane, Romário, os RonaldoS e muitos outros são os exemplos de atletas que se destacaram dentro de campo e atingiram este status, mas essa não é a única característica que faz um jogador de futebol ser tido como referência. Jogadores como Dunga e Simeone que, coincidentemente, viraram treinadores depois de encerrar suas carreiras, sem dúvida era muito bons tecnicamente, mas conquistaram muito a torcida de seus respectivos países devido sua raça e entrega dentro de campo.


Seguindo a mesma linha do post sobre e-sports do nosso companheiro Laurence Pereira, observaremos inicialmente a definição da palavra, segundo o dicionário:


  1. imagem que representa uma divindade e que se adora como se fosse a própria divindade.

  2. fig. pessoa ou coisa intensamente admirada, que é objeto de veneração.

  3. rel na tradição judaico-cristã, indivíduo real, imagem representativa de uma entidade fantástica, ou a própria entidade, considerados, de maneira equivocada e herética, portadores de atributos divinos.


Entendo que no futebol muitos podem se enquadrar na lista de ídolos das instituições que representam ou representaram por conta do item 2. Mas a lista de jogadores “intensamente admirados” é gigantesca. Será que a definição de ídolo vem sendo usada muitas vezes em vão, ou realmente temos essa enorme quantidade de ídolos? E afinal, o que define um ídolo no futebol? Para este que vos escreve, o rendimento acima da média não necessariamente define um ídolo, mas sem dúvidas é um requisito básico.


Ronaldo, Zidane e Ronaldinho escrevem história no futebol (Fonte: trivela.uol.com.br)

Fora das quatro linhas, Paulo André se destaca diante de seus companheiros de profissão. Liderando o movimento Bom Senso F.C., trabalha bastante para melhorar as condições de trabalho dos profissionais e a competitividade do futebol de todo o país e é visto com admiração por sua iniciativa. Mas, mesmo conquistando os inéditos títulos da Libertadores e Mundial de Clubes por uma das maiores torcidas do Brasil, nunca foi um dos melhores zagueiros em sua época e não é considerado um ídolo para todos. É preciso mais.


O grande Reinaldo, ídolo inquestionável do Atlético Mineiro, encerrou sua carreira no clube sem conquistar um título de expressão e ainda jogou dois jogos pelo maior rival, Cruzeiro. Por que então Reinaldo é um ídolo do Galo? Primeiramente, porque foi um jogador excepcional, muito melhor até do que muitos que tem essa admiração mencionada acima. Além disso, levou o nome de seu clube à nível mundial com 38 convocações, participação e gol em Copa do Mundo. Reinaldo também era conhecido pela sua comemoração característica de punho esquerdo erguido, em alusão ao gesto dos militantes do movimento Panteras Negras dos Estados Unidos, se posicionando politicamente em um momento conturbado na história do Brasil (para muitos, teve sua trajetória dificultada na seleção pela desconfiança de representantes do regime militar).


Juan Pablo Sorín foi um espetacular lateral que fugia do comum e buscava o ataque a todo momento. No River Plate, “Juampi” foi um dos jogadores mais importantes nas conquistas da Taça Libertadores de 1996 e do Campeonato Argentino de 1997. Além disso, sua garra e liderança o fizeram um ídolo não só pelo clube celeste como pela seleção Argentina, onde foi capitão na Copa de 2006. Pelo clube celeste, é marcado por um título da Copa do Brasil e pela conquista da extinta Copa Sul-Minas, onde mesmo sangrando terminou o jogo lutando como sempre. Por onde passou, sempre levou o nome da instituição que defendia com orgulho e vontade. Não há questionamento de torcedores do River, Cruzeiro ou Argentina. Ídolo para todos eles.


Os dois maiores Ronaldos do Brasil foram dois dos maiores jogadores da história não só dos seus clubes, como do Brasil e do Mundo. O “Fenômeno” jogou em gigantes do futebol mundial, como Barcelona, Real Madrid, Milan e Inter de Milão, e também em dois dos maiores times do Brasil. Ganhou inúmeros títulos por onde passou, incluindo duas Copas do Mundo, e foi destaque em todas as conquistas. Até pouco tempo atrás, era o maior artilheiro da história das Copas. Ibrahimovic, que também é um dos melhores da sua posição, já disse que Ronaldo é seu maior ídolo. Não irei discutir com o sueco. Se não tivesse sofrido com todas as lesões que o atrapalharam durante toda sua carreira, muito provavelmente seria eleito o melhor jogador do mundo mais do que as três vezes que conquistou este prêmio. Ronaldinho Gaúcho também jogou nos melhores clubes do mundo, e fez pelo Barcelona as duas melhores temporadas que um jogador de futebol já jogou, conquistando o prêmio da FIFA de melhor do mundo em ambos. Não vou falar que “faltou fazer chover”, porque provavelmente foi responsável por pelo menos um dia chuvoso em Barcelona, ou no Brasil, quando elevou o Galo mineiro de patamar e chegou à inédita conquista da Libertadores, tanto para ele quando para o alvinegro. Tem uma Copa a menos que Ronaldo, mas por outro lado ganhou uma Champions League. Não há palavras para discutir o que ambos fizeram dentro do futebol, mas nenhum deles teve uma participação fundamental fora dele, inclusive envolvidos em várias polêmicas ao longo de suas carreiras. Independente disso, não podem ter o status de ídolos do futebol questionados.


Existem também os ídolos que defenderam o mesmo clube durante toda ou boa parte de sua carreira. Rogério Ceni é talvez o melhor exemplo no Brasil. Foi ótimo goleiro, mas seu status aumentou muito com seus gols de falta, liderança e principalmente sua identificação com o São Paulo. Defendeu o tricolor paulista durante toda a carreira, teve oportunidades de sair para a Europa e, por diversos motivos, ficou. Totti também pode ser enquadrado aqui. Não estou dizendo que o italiano não se destaca pela sua qualidade técnica - é provavelmente o melhor jogador da história da Roma. Mas definitivamente é o maior ídolo, pois teve chance de sair para os maiores clubes do mundo e nunca escondeu o amor pelo clube e a vontade de ficar em Roma. Este "algo a mais" só aumentou ainda mais o status de ídolo, já possivelmente conquistado só pelo seu desempenho em campo.


Tendo em vista os exemplos acima, e a quantidade de jogadores com carreiras de características semelhantes, arrisco conceituar e definir o que é necessário para que um jogador de futebol conquiste a idolatria.


  1. Existem duas características de ídolos: Os de um clube ou de uma seleção, e ídolos do futebol em um contexto geral;

  2. Apenas a qualidade técnica de um jogador pode torná-lo um ídolo, contanto que a mesma seja muito acima dos demais;

  3. Um ídolo do futebol, a nível mundial, precisa ser tecnicamente muito acima dos demais. Nada mais é necessário para conquistar a idolatria, e estes terão seus nomes sempre gravados não só pelos clubes por que passou como na história do esporte;

  4. Existem jogadores que não são tão acima da média mas conquistam esta admiração e idolatria em uma instituição, por motivos além dos técnicos. Precisam ser identificados por outras características, como raça, títulos, identificação com torcida, amor por um clube ou até um posicionamento forte fora de campo, como Casagrande teve com relação à política e os uruguaios Suarez, Godin e Lugano, que lideraram uma iniciativa nas últimas semanas de forma a fazer com que a confederação de seu país arrecadassem mais dinheiro para investir nas categorias de base. Algo a mais é necessário caso estes não sejam os melhores.


Hoje, infelizmente, uma sequência de boas participações tem sua importância aumentada pela mídia e seu poder de formação de opinião faz com que muitos torcedores aumentem o patamar de bons jogadores. Os badalados Gabriel Jesus e "Gabigol", por exemplo, vem tendo um começo de carreira sensacional, e tem sim potencial para serem ídolos, mas ainda não são. Ambos já tiverem transferências fechadas, e Gabriel Jesus ainda tem a oportunidade de conquistar o Campeonato Brasileiro pelo Palmeiras e talvez até ser o artilheiro da campanha, o que poderia lhe credenciar esse status no clube paulista. Além deles, muitos atletas que vem tendo rendimentos acima da média, são exageradamente idolatrados. Torço para que uma maior conscientização dos torcedores ocorra, e que os ídolos de verdade, por quaisquer que sejam os motivos que os levaram até lá, sejam valorizados como merecem.

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