Estreias que fazem o futebol brasileiro respirar
- Frank Moreira
- 2 de set. de 2016
- 4 min de leitura
O maior destaque estava no banco, pois, talvez, desde Wanderley Luxemburgo a Seleção Brasileira de futebol não tinha um treinador com tanta unanimidade envolvida. Tite já apontava como o sopro de esperança para uma equipe que estava definhando nas mãos de Dunga e sua primeira partida como comandante dos pentacampeões do mundo foi extremamente convincente – isso não significa que não houve problemas e muito menos que todos estiveram bem, porém, “atropelar” o Equador na altitude de Quito (coisa que o Brasil não fazia desde 1981) precisa ser comemorado com o devido entusiasmo.
A seleção foi organizada, especialmente na defesa e cabeça de área, mas não sem permitir boas estocadas dos meias laterais do Equador, principalmente Jefferson Monteiro, que infernizou Daniel Alves (frágil na marcação como sempre). Enner Valência, pela direita, também deu muito trabalho ao lateral Marcelo, porém foi menos perigoso no ataque e o primeiro tempo do jogo mostrou que a seleção tinha confiança de sobra, porém pecava na mecânica do jogo e, especialmente, nas escolhas ofensivas. Neymar estava participativo do meio para trás e somente Gabriel Jesus tentava incomodar a defesa adversária, mas também sem grande efetividade. Renato Augusto esteve muito mal e errou quase tudo que tentou e pode-se perceber uma dificuldade enorme em finalizar com qualidade, seja pela altitude e o ar rarefeito ou seja pela ansiedade de mostrar ao novo técnico que mereciam a oportunidade recebida. Destaque em jogos anteriores, William pouco apareceu e já nos mostrava que seria substituído por Philipe Coutinho assim que Tite achasse que era hora de mudar – o jogador do Chelsea jogou muito isolado na direita e praticamente não criou nada, aparecendo somente em uma assistência para péssima finalização de Renato Augusto.

Fonte: uipi.com.nbr
O grande mistério da escalação (convocação?) brasileira era o meio de campo Paulinho, atualmente atleta do Guangzhou Evergrande da China. Muito se falou desde a liberação da lista sobre a presença do ex-corinthiano e o que mais ouvimos e lemos foi que Tite tinha um senso de gratidão com o atleta e que daria a ele uma oportunidade no início do trabalho, sabendo que se Paulinho não correspondesse teria cumprido “sua parte” e poderia ignorá-lo em futuras convocações. Entretanto, uma outra vertente que, na minha opinião é a mais correta, trabalhou a ideia de que Tite buscou em Paulinho um jogador em forma, em plena atividade e que entendesse sua filosofia para ajudá-lo a garantir o mínimo de organização que fosse possível com tão pouco tempo de treinamento. O que ficou ao final do jogo foi a constatação de que, independente de qual ideia estiver correta, Paulinho ainda receberá mais chances em ocasiões futuras – não foi brilhante, nem perto disso, mas foi extremamente eficiente naquilo que lhe foi proposto e mostrou que se conseguir se manter minimamente motivado na China pode ser figurinha recorrente nas listas de Tite.
O show veio no segundo tempo, e usar a palavra show não é exagero. Não tivemos um futebol maravilhoso e vistoso, mas fomos muito competitivos, ficamos com a bola e demos uma aula de contra ataque. Gabriel Jesus, que tinha sido o menos inofensivo no primeiro tempo, ganhou na corrida com extrema facilidade do zagueiro equatoriano e foi derrubado na área. Neymar, com firmeza, bateu rasteiro no canto direito baixo e abriu o placar. Eram 26 minutos e o desenho do jogo mostrava que quem saísse na frente provavelmente levaria os três pontos para casa. Aos 30, quando Paredes foi expulso após entrada violenta em Renato Augusto, o Brasil virou senhor do jogo e controlou todas as ações – o Equador tentou mas não mostrou o mínimo de capacidade para se organizar em campo e conseguir arrancar o empate. Com a vitória praticamente assegurada um segundo gol seria fatal e ele veio aos 41, após boa jogada de Marcelo que penetrou na grande área pela esquerda e cruzou para o novo atacante do Manchester City aumentar o placar. Gabriel Jesus ainda faria o terceiro aos 46 após receber de Neymar e dar um tapa no canto esquerdo alto do goleiro equatoriano. Uma vitória maiúscula que colocou o Brasil na quinta colocação com 12 pontos, mesma pontuação do Paraguai que perde no saldo de gols. O fato que dá confiança a Tite e aos milhões de torcedores que acreditam na recuperação do Brasil nas eliminatórias é que a líder Argentina está somente dois pontos na frente, ou seja, com uma vitória sobre a Colômbia na próxima terça-feira, em Manaus, certamente a seleção verde amarela entrará no grupo de classificação direta para a próxima copa.
Tite estreou e foi muito bem, Gabriel Jesus também estreou e foi o melhor em campo, Marquinhos foi firme na zaga e Philippe Coutinho entrou desequilibrando. Não tinha como escolher um cenário mais promissor para um time que ainda contará com Douglas Costa no futuro e que poderá se dar ao luxo de ter Willian, Coutinho ou Gabriel Jesus no banco.
Quatro jogadores desse grupo foram medalha de ouro nas olimpíadas e parece que esse espírito vencedor que eles adquiriram pode ser irradiado para aqueles que vivem há muito tempo esperando que a seleção canarinho retome seu lugar de respeito no cenário do futebol mundial.
Terça feira, 06 de setembro, Arena da Amazônia. Palco de Copa do Mundo para um confronto que também foi de Copa do Mundo. Que Neymar não seja caçado em campo e que James Rodriguez venha menos inspirado após o show que deu ontem na vitória da Colômbia por 2x0 sobre a Venezuela.
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