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E-sport é esporte?

  • João "Jones" Garcia
  • 31 de jul. de 2016
  • 4 min de leitura

Por: Laurence Pereira


Esse assunto já me rendeu algumas boas discussões de bar.


Têm sido cada vez mais comuns notícias e transmissões relativas aos agora conhecidos "e-sports" ou "esportes virtuais". Como dito pelo Frank Moreira em post recente, já é datada aquela história de que jogos são coisa de criança.


Os mais conservadores têm manifestado descontentamento para com o fenômeno que os jogos virtuais estão se tornando e várias são as críticas. Dentre elas, algumas suposições de que jogos virtuais desincentivam a socialização de seus praticantes (conceito atrelado à velha imagem do adolescente tímido escondido no quarto com seus games), de que não proporcionam aprendizados úteis ou de que não são esportes de verdade, desmerecedores, portanto, de grande atenção nos canais destinados ao esporte, como SporTV e ESPN, que, na verdade, têm aberto cada vez mais espaço para estas modalidades.


Jogos como o LOL (League of Legends), CS:GO (Counter Strike - Global Offensive), DOTA 2, Street Fighter, e os esportivos FIFA e Pro Evolution Soccer têm tido cada vez mais espaço nas telinhas e também em estádios e arenas, algumas vezes lotados, para disputa de suas competições, que também têm oferecido premiações astronômicas e alçado jogadores ao nível de celebridade, tal como nos esportes "de verdade".


Final do Campeonato Mundial de League of Legends, disputado em 2015, em Berlim. Fonte: Globo.com


A questão aqui é: será que não são esportes de verdade mesmo?


A definição encontrada para "esporte" no google é a seguinte:


esporte

substantivo masculino

  1. 1.

prática metódica, individual ou coletiva, de jogo ou qualquer atividade que demande exercício físico e destreza, com fins de recreação, manutenção do condicionamento corporal e da saúde e/ou competição; desporte, desporto.

"praticar e. faz bem à saúde física e mental"

Vamos ser analíticos e separar esse conceito nas definições encontradas: 1) prática metódica; 2) individual ou coletiva; 3) de jogo ou qualquer atividade; 4) que demande exercício físico ou destreza; 5) com fins de recreação, manutenção do condicionamento corporal e da saúde e/OU competição.


Acho que o prezado leitor vai concordar que os itens 1, 2 e 3 estão plenamente preenchidos pelos nossos famigerados jogos virtuais candidatos ao posto de esporte. Fica a discussão quanto aos pontos 4 e 5, há demanda por exercício físico ou destreza? Há fim de recreação, manutenção do condicionamento corporal e da saúde, ou competição?


Creio que não há o que se discutir quanto à competitividade, portanto, superando também o item 5. Por hora, nos resta o item 4.


Esses são exatamente os pontos em que tocarão os defensores de que não se devem considerar tais atividades como esportes. "esporte é exercício físico!"; "esporte exige habilidade com o corpo, esses caras só ficam sentados!", eles dirão...


Em jogos de estratégia de tempo real, como o Starcraft e o DOTA 2, há um medidor de destreza dos jogadores conhecido como APM (actions per minute - ações por minuto), que indica a destreza e a quantidade de comandos/clicks realizados por jogador durante um minuto de jogo, não seria esse um esforço físico (mesmo que seja só com as mãos e dedinhos) específico considerável?


Vejam uma demonstração de APM abaixo, creio que o jogador mostra uma habilidade física que não pode ser desprezada, isso sem falar no esforço mental e concentração necessária por um longo tempo para desempenhar bem nesses jogos:


Fonte: Youtube. Mais sobre APM: https://en.wikipedia.org/wiki/Actions_per_minute


Poderiam argumentar em contrário que o esforço físico deste "atleta" é muito limitado, apenas a uma parte muito específica de seu corpo (as mãos). Quanto a isso, eu só poderia dizer que, se for por isso, um esporte virtual não é menos esporte que as modalidades olímpicas de TIRO (em que só se deve mirar e apertar o gatilho) ou lançamento de disco (em que é necessário força e técnica, mas para um fim muito limitado e específico), fora o treinamento e dedicação necessários, que são muito similares em todas estas modalidades (a propósito, o programa Profissão Repórter do dia 13/07/2016 falou da vida e rotina de treinamento dos jogadores virtuais, e está disponível completo no YouTube).


Falando sobre o lado profissional e econômico da coisa, hoje os "cyber atletas" são alçados ao nível de celebridade em seus países (Dendi com certeza é um dos ucranianos mais conhecidos da atualidade), os jogos são transmitidos ao vivo, com narração, assistido por milhões de pessoas em canais como o TwitchTV, as estatísticas dos jogos são minuciosamente gravadas em portais como Reddit, Gosugamers, Liquipedia, Dotabuff.com, existem várias equipes profissionais e que disputam várias modalidades, como Na'Vi, Team Liquid, SK, EG, os salários e patrocínios são astronômicos e exigem-se horas e horas de treinamento, descanso e disciplina.


Só para ilustrar, o último mundial de DOTA 2 teve prêmio maior que o prêmio do Brasileirão de Futebol, e o próximo mundial, marcado para acontecer entre os dias 2 a 13 de agosto, tende a seguir o mesmo caminho.


Vou mais fundo!


Essencialmente, os esportes surgiram como modalidades de disputas recreativas, e foram institucionalizados nas Olimpíadas como uma forma pacífica de medição de forças entre as cidades-estado na Grécia antiga. Nessas atividades, eram medidas capacidades humanas necessárias para a sobrevivência, seja na natureza ou na guerra. Envolviam o domínio de tecnologias de sua época, habilidade com armas, bigas, e também a habilidade para realizar atividades com o corpo, como correr, pular, e assim por diante.


Se hoje o domínio de uma tecnologia como uma arma de fogo no tiro olímpico é considerado esporte, porque não o domínio da tecnologia mais avançada que temos, o uso de computadores? Inclusive, são habilidades extremamente valorizadas no mercado de trabalho.

Uma pequena falácia evolutiva para fortalecer o argumento. :)


Aliás, se no início praticávamos esportes para simular guerras, pensemos numa eventual guerra em um futuro próximo, que envolva armas, tanques e aviões automatizados...Quais habilidades seriam mais desejáveis: correr, pular, empunhar uma arma branca, ou as habilidades do rapazinho do vídeo acima? (alguém lembra da cena do documentário Fahrenheit 9/11 em que os ̶m̶e̶n̶i̶n̶o̶s̶ soldados falam que treinam com Call of Duty e ouvem Metal dentro dos tanques?)


Essas são apenas algumas considerações sobre o assunto, que pode render ainda mais e está totalmente aberto pro debate, o objetivo é apenas propor a reflexão e principalmente informar ao querido leitor que, fora os esportes tradicionais, falaremos muito de esportes virtuais nessa página! Com o evento principal do The International 6 - principal campeonato mundial de DOTA 2 - chegando, fora outros eventos importantes acontecendo, não poderia deixar de fazer essa provocação, afinal, sendo esporte ou não, os e-sports já mostraram que chegaram pra ficar e ainda podem roubar a cena!













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