O pior do esporte
- Frank Moreira
- 25 de jul. de 2016
- 3 min de leitura
O que vale ser feito para se obter melhores resultados e conquistar as glórias que as competições trazem aos atletas e seus países? Alguns diriam que tudo, porém o conceito principal que sempre regeu os esportes nos faz pensar justamente o contrário. Todos querem vencer, mas crescemos ouvindo de nossos pais e amigos que o importante é competir com ética e igualdade, sabendo que nos tornaremos pessoas melhores. A Rússia mostrou de forma categórica para todo o mundo que pensa completamente diferente dos demais e que está disposta a fazer tudo para conseguir os lugares mais altos do pódio.
A Federação Internacional de Atletismo decidiu pela veto à participação dos atletas de atletismo da Rússia nas Olimpíadas do próximo mês, após um esquema absurdo de utilização de doping em centenas de atletas ter sido descoberto e comprovado. Em novembro passado a Associação Mundial de Atletismo divulgou ter provas de que o Estado russo fazia parte de um esquema extremamente sofisticado que adulterava e encobria resultados positivos em exames antidoping nos atletas de sua federação. O “Relatório Mclaren”, documento que apontava a existência do esquema fez com que 10 agências nacionais antidoping enviassem uma carta firmada por organismos esportivos que solicitava ao COI a proibição da participação da Rússia nos jogos do Rio.
Dentro do esquema, de acordo com a investigação feita, a Rússia determinava quais os seus atletas com maiores possibilidades de ganhar medalhas e os inseria no programa de dopagem. Esportes de inverno e de verão participavam do esquema e o maior indício é de que este trabalho se iniciou após péssimos resultados nos Jogos de inverno em Vancouver (2010). Segundo Richard Mclaren, advogado canadense que foi responsável pelo levantamento de dados, o programa já foi utilizado na preparação para os jogos de Londres em 2012, o Mundial de Atletismo da Rússia em 2013 e também no Mundial de Natação em 2015.
A logística das ações era simples no conceito e absurdamente complexa na execução. Os responsáveis pelo esquema congelavam amostras de urina em perfeitas condições, sem nenhum tipo de irregularidade, e trocavam os conteúdos dos frascos a serem analisados nos processos de análise antidoping das competições em questão. O procedimento de substituição que, em primeira análise, parece impossível de acontecer, foi feito com perfeição e garantiu que pelo menos 15 medalhistas russos não fossem pegos nos exames e tivessem suas medalhas revogadas. Ao todos foram identificados 29 esportes no esquema, com um total de mais de 640 casos positivos.
O Tribunal de Arbitragem do Esporte não acatou o pedido de 68 atletas russos que solicitaram participar dos jogos mesmo após a decisão da proibição pelo COI.
A maior estrela do atletismo Russo, com três medalhas olímpicas, Yelena Isinbayeva, se manifestou fortemente através das redes sociais. Em tom irônico e bastante agressivo, a saltadora disse para o mundo que aproveitasse a ausência dos atletas russos para que conquistassem “pseudo medalhas”, deixando claro que a não participação da delegação de seu país abriria campo para outros atletas “menos merecedores” conquistarem medalhas. Pessoalmente, penso que Isinbayeva perdeu a melhor oportunidade de sua vida para contribuir de forma significativa com o esporte – era a hora de mostrar ao mundo que estava totalmente de acordo com as políticas antidoping da FIA e que repudiava qualquer tipo de trapaça na prática esportiva. Sua reação descontrolada somente serviu para mostrar que os ídolos em seu país realmente se constroem somente com as vitórias, e não a partir da grandiosidade ética que já vimos em diversos outros casos. Se a russa não se dopou, não há sentido em minimizar o escândalo de seus colegas com uma teoria infundada de perseguição e caça as bruxas.

Fonte: bestofpicture.com
O esporte precisa muito ser o melhor exemplo de que um atleta pode se aprimorar ao máximo, pelo seu esforço e dedicação, para realizar grandes feitos. Treinamento, investimento, talento e iniciativa pessoal e coletiva precisam ser os propulsores do sucesso e toda a comunidade esportiva deveria falar em uma só voz contra a Rússia para que qualquer outro país que um dia já tenha pensado em fazer algo semelhante perceba que o resultado no final do caminho é uma derrota completa, em todos os sentidos.
Os fãs de todos os esportes olímpicos agradecem ao COI por deixar a competição mais justa nos Jogos do Rio 2016.
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