A evolução de Arrasca
- Pedro Henrique "Choras"
- 24 de jul. de 2016
- 4 min de leitura
Arrascaeta chegou ao Cruzeiro no começo de 2015 após o bi campeonato brasileiro e desmanche do elenco. Com a venda dos principais jogadores do time estrelado, o meia chegou com a responsabilidade de ser o craque do time, ele já era conhecido da torcida cruzeirense após boas atuações pelo Defensor na libertadores de 2014.
Lembro que na sua estreia, o uruguaio chamou atenção, era nítido que ele tinha talento, um domínio de bola diferente, visão de jogo, dribles ousados, rápido, a torcida estava empolgada com a nova contratação. O que muitos não contavam eram as adversidades que o jogador teria que enfrentar para mostrar todo o seu talento.

imagem disponivel em: http://blogs.uai.com.br/nossomoscruzeiro/2016/05/30/arrascaeta-eterna-promessa-ou-vitima-das-expectativas/
Eu não acompanhei a carreira dele até então, mas acredito que na base de onde jogou ele não devia ter muitos deveres táticos ou defensivos. Pelo contrário, ele é o típico jogador que devia decidir com a bola quando o seu time a tinha. Provavelmente era um jogador exclusivamente ofensivo (isso eu estou falando da minha cabeça).
Além desse fator, antes de chegar em Belo Horizonte ele jogava no Defensor, um time pequeno do Uruguai, e fazendo um exercício mental eu imagino que deve ser uma diferença muito grande sair de um time pequeno para ser o cara do Cruzeiro, um gigante brasileiro.
Somado a isso, ele que é uma pessoa tímida, estava em uma cultura diferente, falando uma língua que não estava acostumado, rodeado de pessoas que não conhecia, acostumado fisiologicamente com um outro estilo de jogo, temperatura diferente, distâncias de viagens etc. Esse é um contexto completamente novo e, como se não bastasse isso tudo, não havia tempo para adaptação, ele tinha que ser o cara de um time enorme com uma torcida acostumada a ter grandes jogadores e que cobra muito.
Tendo isso em vista, ainda seria uma adaptação mais fácil se ele chegasse para somar em um elenco pronto. Jogaria com muito mais tranquilidade ao lado de Lucas Silva, Goulart, Éverton Ribeiro e Marcelo Moreno. Mas a realidade é que estavam vendidos e o até então treinador, Marcelo Oliveira, tinha enorme dificuldade de dar uma nova cara, um novo padrão de jogo para esse time. A verdade foi que Arrascaeta, que chegou com 20 anos ao clube, sentiu tudo isso, não conseguiu dar o que a torcida esperava e colocar em campo todo o potencial projetado nele.
O futebol trabalha com humanos, e por isso não é uma ciência exata, e muitos fatores devem constar. Alguns jogadores irão sentir a pressão, a idade, o clima, já outros não darão a mínima e jogarão como se fossem donos do time, como se estivesse em casa o tempo inteiro. Vejo hoje Gabriel Jesus, que acabou de subir da base e já é o cara do time palmeirense que teve várias contratações de peso, inclusive Barrios a mais cara delas que está no banco para o jovem jogador.
Lembro por outro lado de Conca, que chegou para jogar no Vasco, na segunda divisão, um jogador pequeno, magro, tímido e talentoso. Ele era inconstante como Arrascaeta, tinha lampejos, mas apagava durante os jogos e por isso muitos perderam a paciência com ele. Todos vimos o que aconteceu com Conca, no Fluminense, alguns ano mais tarde.
Voltando no Arrasca, para piorar a sua situação, após a saída de Marcelo Oliveira o ambiente interno não era o mais positivo e a diretoria teve a capacidade de contratar o Luxemburgo como treinador. Em um time que mais parecia um grupo de pelada, o futebol do uruguaio sumiu de vez, e ele acabou sacado do time do profexô. Passada essa fase, veio Mano Menezes, e aí pela primeira vez em 2015 um time com padrão tático, competitivo, e como consequência o futebol dos bons jogadores cresceu junto com o time, inclusive de Arrascaeta. Porém Mano acabou indo pra China e a diretoria apostou em Deivid, que tinha um time de pelada como o do seu mestre, Luxa. E mais uma vez o desempenho do meia caiu (como o de outros jogadores, por exemplo: Henrique). Muitos discutiam a posição do jogador, que não era meia, mas ponta, outros começaram a achar que tinha se iludido com o potencial dele, mas para boa parte da torcida a paciência havia esgotado. Muitos queriam que Arrascaeta fosse negociado. Imediatistas!!!!
Na chegada de Paulo Bento, o time voltou a ter padrão de jogo, voltou a ter tática, funções, intensidade e mais uma vez o futebol de bons jogadores cresceu. Só que dessa vez, Arrasca não só melhorou seu jogo, mas se tornou o dono do time. Hoje quase todos os gols do Cruzeiro saem dos pés dele, ele coloca intensidade no time, da boas assistências, desconcerta defesas com seus dribles, finaliza com qualidade, bate falta. Enfim, um meia completo.
E como muitos chegaram a discutir, seu problema não era posição, pois com o técnico português, o uruguaio jogou de voltante no losango do 4-4-2 (contra Botafogo), jogou de meia armador, jogou aberto pela direita e também pela esquerda, jogou com liberdade total (com Mano) e jogou bem em todas elas. Arrascaeta precisava era de um padrão de jogo, de confiança, de adaptação. Mérito para ele e mérito para Paulo Bento que tem extraído seu melhor. Hoje ele é líder de assistência e gols do time, mas também é o terceiro que mais desarma. Muitos contestavam sua raça, o case a ser estudado do único uruguaio que não tem raça, mas hoje é nítido como ele está mais solto e com isso há garra e vontade de jogar. Bom para nós, cruzeirenses, que temos tudo para ver um talento despertar e nos dar muita alegria.
E ainda creio que pode melhorar ainda mais seu futebol depois das contratações feitas pelo Cruzeiro. Rafael Sobis, Ábila, Denilson, Rafinha, Edimar vão acrescentar em qualidade técnica, experiência e liderança, dividindo a responsabilidade e deixando um time mais leve.
No mais, se preparem, defesas. Arrasca vem aí!
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